Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O MELHOR ARROZ ERA O DO FORNO DA NOSSA CASA

Acordava-se em sobressalto com o rebentamento dos foguetes morteiros. Eram dois passos da cama à janela por onde entravam os ecos dos rebentamentos sobre os verdes milheirais que se estendiam até à igreja. Era a festa de Santiago Maior, naquela límpida manhã de fins de Julho.
Quase sem se dar conta, já tinha ardido o forno que repousava fechado com a tampa da porta, vedada com bosta. Tempo depois quando já os rapazes se organizavam para o transporte do andor na procissão da tarde e o mestre decorador de Vilar de Maçada dava os últimos retoques, estava na hora do almoço ou "jantar" como então se dizia e a porta negra do forno abria-se, para regalo dos sentidos. Saíam então os alguidares, o primeiro contendo o verdinho e o segundo com o arroz trazendo às costas o naco de ovelha, de cabra ou cabrito ou até vitela tendo por baixo paus de urze e por cima duas telhas, que retiradas de véspera da "cardanha" cobriam a peça, mantendo-lhe a cor aberta e doirada, mais tenra e apelativa. Não se dá receita de arroz do forno, que a água de cozedura do canelo do bísaro compunha e apaladava, porque, todos achamos que o melhor arroz era o do forno da nossa casa.
Mas do verdinho quem se lembra? "A carne do pescoço da cabra era cozida com os rins, o coração e os bofes. Acrescentava-se algum sangue para dar cor. À parte preparava-se o refogado. Este era vertido no alguidar com as carnes cozidas e o pão, indo ao forno para ganhar cor, textura e paladar."
Este prato próprio dos povos da serra, permitia a integração integral de partes menos nobres do animal, constituindo um prato saboroso, distinto e frequentemente usado em cerimónias festivas, como baptizados e casamentos.
Em honra do solstício e do Santiago padroeiro, praticava-se com prazer o pecado da gula, por culpa dos alguidares negros! Seguia-se a procissão, que desfilava com o andor de Santo Antão à frente, não fosse ele pastor de rebanhos, com cama cavada nos penedos do Outeiro, cabendo a Santiago encerrar aquela corrente humana de crentes, andores, anjinhos, penitentes e todos os Santos dos diferentes lugares da freguesia, que naquele dia saíam para acalentar almas e gentes.
Acabada a procissão, voltava o paganismo, os bailes, os doceiros, as pipas de vinho, as mães que vigiavam as filhas em idade de namorar e finalmente os homens encostados ao pau de marmeleiro, falando do pintor, porque "pelo Santiago pinta o bago" e medindo alguém da aldeia vizinha com quem, algum tempo depois, havia de medir forças!

Excerto de informação contida em ficha técnica, propriedade da NERVIR - Associação Empresarial
Redacção de Alberto Tapada e Filipe Saiote
alguidar do forno
in:diario.netbila.net

Sem comentários:

Enviar um comentário