O “Castelo de Ansiães”, também referido como “Castelo de Carrazeda de Ansiães”, localiza-se na freguesia de Selores, concelho de Carrazeda de Ansiães, distrito de Bragança, em Portugal.
Em posição dominante sobre um maciço de granito, originalmente com função defensiva, afastado da povoação, no vale do rio Douro, integra a Região de Turismo Douro Sul.
História
Antecedentes
A primitiva ocupação humana do seu sítio remonta ao Período Calcolítico (c. 3000 a.C.), existindo testemunhos arqueológicos do período da ocupação romana. A povoação foi saqueada por bárbaros (409) e posteriormente por forças muçulmanas (711), que a ocuparam.
O castelo medieval
À época da Reconquista cristã da península Ibérica, no século XI as forças muçulmanas escaparam ao cerco das forças do Reino de Leão pela chamada “Porta da Traição”, o que confirma a existência de uma fortificação no local.
Conquistada, a povoação (então denominada como “Ansilares”) passou a inscrever-se nos domínios do reino de Leão, tendo recebido carta de foral outorgada por Fernando Magno, visando o seu repovoamento (1057).
Integrante dos domínios de Portugal, o seu foral foi confirmado, em 1160, por Afonso I de Portugal (1143-1185) e, sucessivamente, em 6 de abril de 1198 por Sancho I de Portugal (1185-1211), e em abril de 1219 por Afonso II de Portugal (1211-1223). Neste momento, no século XIII a fortificação foi reconstruída. Afonso III de Portugal (1248-1279) concedeu carta de feira à vila (1277): esta realizava-se a meio de cada mês e tinha a duração de um dia completo.
Fernando I de Portugal (1345-1383), em 1372, "dou a sua terra dAnciaães do almoxarifado da Torre de Meencorvo a Joham Rodriguez Porto Carreiro em pagamento de sua conthia".
No contexto da Crise de Sucessão de 1383-1385, Porto Carreiro tomou o partido de Beatriz de Portugal. A população, tendo adotado o partido de João I de Portugal (1385-1433), levantou-se, escorraçou-o e posteriormente impôs-lhe uma derrota em Vilarinho da Castanheira (1384).
Datam do reinado deste soberano um largo conjunto de doações e privilégios: logo em 1384 foram doadas "pera sempre aos homens boõs e concelho dAnciaães" as terras que foram de João Rodrigues Porto Carreiro. Esta doação incluía todos os bens móveis ou de raiz, bem como quintas e casais que o dito senhor possuísse dentro da vila e no seu termo, "os quaees elle perdeo por seer com elrrej de Castella em deserviço destes regnos e senhor". Simultaneamente Vilarinho da Castanheira foi dada por termo a Ansiães, passando a partir de 12 de junho de 1384 a enquadrar a sua jurisdição administrativa. Ainda em 1384 um diploma régio obrigou os habitantes de Freixiel, Abreiro e Murça a concorrer para o levantamento dos muros e torres de Ansiães. Ao que se sabe, a dita vila estava cercada na maior parte por muros constituídos por pedra miúda, e foram os homens bons do concelho que, na altura, se dirigiram ao monarca para reclamarem um sistema defensivo mais condizente com o prestígio que a localidade gozava na região. Por isso, quiseram-na fortalecer com pedra de canto talhado e torres, embora para tal não possuíssem "ajuda de nenhua parte salvo as meas terças das egrejas da dita villa." Estas limitações orçamentais levaram a que o monarca desse por adua os lugares de Freixiel, Murça e Abreiro, a fim de com os seus peões participarem na ajuda das obras e trabalhos relacionados com a construção do novo sistema de amuralhamento. Além da prestação da adua ou anúduva, os moradores dos referidos lugares estavam obrigados ao pagamento de um imposto em dinheiro, devendo este ser tributado em função dos "bees que cada huu ouver de guisa que sejam todos igualados como devem com os da dita villa dAnciaães".
Em 11 de outubro de 1386 D. João I confirmou ao concelho todos os privilégios, foros e liberdades, ao mesmo tempo que isentou os moradores da vila e do termo do pagamento de portagens e costumagens. Em 1422 e em aparente contradição com ao anteriormente legislado, D. João doou "de juro e herdade a Vasco Pires de Sampaio com todos os direitos, rendas, foros e portagens, as vilas de Anciães, Villarinho da Castanheira, Villa Flor, Torre de Moncorvo e Mós lugares acastellados com todos seus termos." Esta doação permitiu que o controlo efetivo da vila passasse para uma nova família, a família Sampaio, que pelo menos durante os séculos XV e XVI manteve Ansiães em seu domínio por intermédio de um conjunto de confirmações régias que permitiram que vários dos seus membros se sucedessem na posse da sua jurisdição.
Em 1443 o regente D. Pedro (1439-1448) doou aos moradores os impostos das vilas de Freixiel, Abreiro e Vilarinho da Castanheira para conserto dos muros. No mesmo ano atribui aos besteiros de Ansiães grandes privilégios e isenções.
Do século XV aos nossos dias
Sob o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), Ansiães recebeu o “Foral Novo” (11 de junho de 1510). Neste período aqui nasceu Lopo Vaz de Sampaio, capitão de Cochim (1524-1526) e Governador-Geral do Estado português na Índia (1526-1529). Em 1516 o castelo foi doado a Rui Dias de Sampaio.
Entretanto, desde os finais do século XV, e nomeadamente durante o século XVI, assistiu-se a uma perda cada vez mais acentuada de população e da importância urbana do reduto amuralhado, em função do desenvolvimento de outras localidades que constituíam o território concelhio. Em 1527 a vila possuía apenas 35 fogos. A falta de água e a distância relativamente a terrenos férteis e às principais vias de comunicação levavam ao progressivo abandono da mesma.
No contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), sob o reinado de Filipe II de Espanha (1581-1598) foram efetuados reparos nos muros, à custa das terças reais (1580-1591).
Com a Restauração da Independência (1640) a própria população procedeu a reparos nas muralhas.
Em algum momento do século XVII ou após, a estrutura recebeu obras de modernização, das quais conhecemos o chamado Fortim do Cubo e o revelim. A partir de então, a povoação perdeu espaço para outros centros da região, vindo a sua defesa a cair em ruínas: em 1734 a sede do concelho passou para Carrazeda de Ansiães, momento em que apenas 13 famílias habitavam a vila, que viria a ser abandonada no século XIX.
O castelo encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no Diário do Governo nº 136, de 23 de junho de 1910.
Em 1930 o arquiteto Baltazar de Castro, diretor interino dos Monumentos Nacionais do Norte, foi nomeado para integrar a comissão administrativa das obras a executar na igreja e castelo de Carrazeda de Ansiães (Portaria de 10 de maio, publicada no Diário do Governo nº 110, II série, em 15 de maio.) A comissão era constituída ainda por Manuel de Melo Sampaio (visconde de Alcobaça) e António Bernardo Ferreira Trigo Moutinho.
Entre 1944 e 1945 procedeu-se a recuperação dos panos de muralha.
Na década de 1960 sofreu intervenção de consolidação e restauro, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN).
Procedeu-se ainda à consolidação da muralha (1976) e à consolidação da base da torre oeste do castelo (1977).
A partir de 1 de junho de 1992 o imóvel foi afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) pelo Decreto-lei nº 106F/92, publicado no Diário da República, I série A, nº 126. No ano seguinte (1993), este Instituto apresenta projeto de revitalização e salvaguarda do castelo, assinado pelo arquiteto Francisco José Melo da Cunha, no valor de 6.993.000$00.
Em 1995 foi apresentado o Projecto Arqueológico do Castelo de Ansiães, executado e financiado pelo Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto (GEHVID), e pela Câmara Municipal de Ansiães. De 1996 a 1998 procederam-se escavações arqueológicas no exterior e no interior do perímetro muralhado, sob a direção do arqueólogo Luís Pereira.
Diante do seu estado geral, bastante degradado, foram empreendidas novas obras no âmbito de um projeto de recuperação do castelo e da vila, orçados em 800 mil euros (recursos do IPPAR, com uma participação comunitária de 75%), cuja primeira fase estaria concluída e disponível ao público até ao final de 2006, através de visitas guiadas. Um Centro de Recepção de Turismo foi erguido extra-muros, junto à Igreja de São João Baptista. Projetava-se exibir o espólio arqueológico aqui recolhido em um Centro Interpretativo, a ser edificado no centro histórico, pela Câmara Municipal.
Características
O urbanismo medieval da povoação, na cota de 788 metros acima do nível do mar, é perceptível em dois espaços distintos:
Em cota mais elevada, o castelo roqueiro apresentava planta ovalada, com muralha em alvenaria de granito com cerca de 2,65 metros de espessura, alcançando em alguns pontos 6,6 metros de altura, reforçada por cinco cubelos de planta quadrangular, dois dos quais defendendo o portão principal, a sudeste, a chamada Porta de São Salvador. Esta permite o acesso direto ao interior do recinto, através de um caminho que liga diretamente à torre de menagem, no lado oposto. Esta é dividida internamente em dois pavimentos, o superior rasgado por janelas. É ladeada pela chamada “porta da traição”, de pequenas dimensões, em arco ogival. Este perímetro abrigava a cisterna do povoado (atualmente obstruída), tendo a zona inferior cavada na rocha e cobertura em abóbada de granito, e a torre dos Lameiros (hoje desaparecida), podendo ser observados os alicerces de antigos edifícios, possivelmente militares (arcos, cunhais e vergas).
Em cota inferior, um segundo muro exterior, também de planta ovalada, em pedra de cantaria lavrada e esquadriada, delimitava a zona urbana. Este muro, com extensão superior a 600 metros, era reforçado por três cubelos também de planta quadrangular, rasgado por quatro portas, voltadas aos pontos cardeais:
- a sul, a Porta da Fonte Vedra;
- a leste, a porta principal, denominada de Porta da Vila, que dava caminho para a Lavandeira
- a oeste a Porta de São João Baptista; e
- a norte, a Porta de São Francisco, que abre para uma primitiva estrada romana.
Essas portas são todas em arco de volta perfeita, com a moldura formada pelas aduelas do arco, e a partir de cada uma desenvolve-se um caminho em pedra, que converge para o centro.
Dessa cerca externa restam-nos apenas alguns troços dos setores leste e sul.
A cerca de 40 metros da entrada do castelo existem as ruínas do Convento de São João, datado do período românico, surgindo, dentro do perímetro da muralha exterior, a única edificação preservada, a Igreja de São Salvador de Ansiães, em estilo românico, que remontará ao século XIII. Este templo é rodeado por um largo que integra a antiga necrópole medieval, conforme foi apurado a partir de escavações arqueológicas realizadas no local.
No total, o conjunto do castelo ocupa uma área aproximada de 9.594 hectares.
in:fortalezas.org
Sem comentários:
Enviar um comentário