segunda-feira, 28 de julho de 2014

CASTLE OF BRAGANÇA

Vista do Castelo de Bragança, Portugal. Gravura, Duarte de Armas, "Livro das Fortalezas", c. 1509, prancha 89. A torre de menagem domina a fortificação. Como curiosidade, Duarte de Armas e seu ajudante, carregando a vara de medição encontram-se figurados em plano intermédio, à direita.
O "Castelo de Bragança" localiza-se no alto do outeiro de Nossa Senhora do Sardão, na freguesia de Santa Maria, no centro histórico da cidade, concelho e distrito de Bragança, em Portugal.

No extremo nordeste do país, em posição dominante à margem do rio Fervença, é um dos mais importantes e bem preservados castelos portugueses. Do alto de seus muros avistam-se as serras de Montesinho e de Sanabria (a norte), a de Rebordões (a nordeste) e a de Nogueira (a oeste).

História
Antecedentes
Aceita-se que primitiva ocupação humana do local deu-se em local vizinho da atual cidade, onde existiu um castro no período Neolítico. Após a invasão romana da península Ibérica registou-se uma importante transformação na organização territorial e administrativa da região ligada à estrada romana que ligava a fachada Atlântica à Meseta interior da península, e às explorações locais de ouro, prata, ferro e estanho (França, Portelo e Guadramil). Nos séculos I a III Bragança constituiu-se num importante centro de passagem de pessoas e bens onde a presença de explorações mineiras se destacava.

A presença romana foi sucedida pela de suevos e visigodos. Posteriormente, com a invasão muçulmana da península, a região de Bragança transformou-se numa zona fronteiriça, sujeita a constantes saques, até quase ao início do século X, quando se reorganizou política, administrativa, religiosa e territorialmente. Devido à sua situação geoestratégica Bragança foi conhecendo, na sua época medieval, algum destaque e evolução, sofrendo sempre grande pressão político-militar pela sua situação fronteiriça.

A defesa medieval
Em meados do século X, à época do repovoamento da região de Guimarães pelo conde Hermenegildo Gonçalves e sua esposa Mumadona Dias, os domínios de Bragança tinham como senhor um irmão de Ermenegildo, o conde Paio Gonçalves. Posteriormente, o senhorio passou para a posse de um ramo da família Mendes, encontrando-se, conforme mencionado em documento datado 7 de julho de 1128, no domínio de Fernão Mendes, cunhado de D. Afonso Henriques, futuro Afonso I de Portugal (1143-1185). Considera-se que, nesse período, por razões de defesa, a povoação terá sido transferida para o atual sítio, no outeiro da Benquerença, à margem do rio Fervença, reaproveitando-se os materiais na construção das novas residências e de um castelo para a defesa das gentes.

As informações mais seguras entretanto, referem que, pela importância de sua posição estratégica sobre a raia com a Galiza, em 1 de junho de 1187 recebeu carta de foral de Sancho I de Portugal (1185-1211), que ordenou povoar de novo e erguer o castelo no lugar de Benquerença, dando isenções e privilégios aos moradores. Este soberano legou em testamento, em março de 1188, verba para a construção das muralhas de Bragança, empreitada que durou várias décadas.

Os conflitos entre este soberano e Afonso IX de Leão levaram a que esta região fosse invadida pelas forças leonesas (1199) até à reação do soberano português.

Afonso II de Portugal (1211-1223) confirmou o foral da vila (1219), o mesmo o fazendo Afonso III de Portugal (1248-1279), em 20 de maio de 1253. Ainda no reinado deste soberano, as Inquirições de 1258 referem a existência na vila de quatro paróquias: Santa Maria e Santiago intramuros e São João e São Vicente no arrabalde. As terças das igrejas de Santa Maria de Bragança e de Grijó eram para a construção das muralhas de Bragança.

Sob o reinado de Dinis I de Portugal (1279-1325), entre 1261 e 1325, a pedido dos procuradores de Bragança, o soberano contribuiu para a reconstrução das muralhas dado se encontrarem derrubadas.

O seu sucessor, Afonso IV de Portugal (1325-1357), ao subir ao trono, confiscou os bens de seu irmão ilegítimo, D. Afonso Sanches, que então residia na vila de Albuquerque. Defendendo os seus interesses, D. Afonso Sanches declarou guerra ao soberano e invadiu Portugal pela fronteira de Bragança, matando gentes, saqueando bens e destruindo propriedades. A paz foi acordada, com dificuldade, pela viúva de D. Dinis, a Rainha Santa Isabel.

Posteriormente, já sob o reinado de Fernando I de Portugal (1367-1383), recebeu obras de beneficiação. Neste período, tendo este soberano se envolvido na disputa sucessória de Castela, no contexto da I Guerra Fernandina (1369-1370) Bragança foi cercada e conquistada pelas forças de Henrique I de Castela, retornando à posse portuguesa apenas mediante a assinatura do Tratado de Alcoutim (1371).

Quando da Crise de Sucessão de 1383-1385, o alcaide-mor João Afonso Pimentel, casado com Joana Teles, irmã da rainha D. Leonor Teles, e que recebera Bragança e Vinhais como dote, tomou partido por Beatriz de Portugal e, apenas por diligências do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, em 1386, veio a reconhecer a soberania de João I de Portugal (1385-1433). Esse processo não terá sido pacífico, uma vez que este senhor revoltou-se em 1397 contra o soberano, passando-se para Castela. No ano seguinte (1398), em carta de 17 de maio a Henrique III de Castela (1390-1406), D. João I refere a tomada de Bragança e Vinhais na sequência da traição do alcaide. Finalmente, pela Paz de Segóvia (1 de junho de 1400), o reino de Castela era obrigado a devolver Bragança ao reino de Portugal, a par de Vinhais e Miranda do Douro.

No contexto da afirmação da nova dinastia - a de Avis - teve lugar uma grande campanha de reforço das defesas da cidade, no tocante ao castelo, nomeadamente nas torres ladeando a porta principal, de planta pentagonal, na chamada "torre do relógio", com reforços laterais semicirculares, e nos cubelos semicirculares da barbacã do castelo, apenas documentadas em planta por Duarte de Armas (c. 1509).

Ao final do século terá tido lugar a construção de uma segunda linha de muralhas, com estruturas associadas às duas igrejas paroquiais extramuros, a qual poderá ter ficado incompleta, mas cujo traçado é evidente na morfologia do espaço urbano da época.

Em 1401 foi estabelecida a Casa de Bragança, pelo casamento de D. Afonso, conde de Barcelos e I Duque de Bragança, com D. Beatriz, filha de D. Nuno Álvares Pereira. Em 1409 tiveram início os trabalhos de consolidação das muralhas e a construção de torres, obras que duraram quarenta anos.

No reinado de Duarte I de Portugal (1433-1438), nas Cortes de 1439 os representantes de Bragança referiram só haver 25 vizinhos intramuros e apontaram o mau estado dos muros da vila.

Afonso V de Portugal (1438-1481) fez a doação do castelo ao I duque de Bragança (28 de junho de 1449). A pedido de D. Fernando, II duque de Bragança, o soberano concedeu o título de cidade à vila de Bragança (20 de fevereiro de 1464).

Sob o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), o alcaide Lopo de Sousa e Álvaro de Chaves, vedor da obra, procederam reparos na muralha do castelo e barbacã, com o recurso ao trabalho braçal dos habitantes do termo da cidade (1505). Neste período, a povoação e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas (“Livro das Fortalezas”, c. 1509), e recebeu o Foral Novo (11 de novembro de 1514).

Da crise de sucessão de 1580 ao século XVII
No contexto da crise de sucessão de 1580, Bragança tomou partido por D. António, Prior do Crato. Já em 29 de março de 1580 foi emitida uma provisão do duque de Bragança para que o dinheiro da finta de 300$000 lançada para se fazer a ponte de "Muimenta", fosse aplicado na reparação dos muros e coisas necessárias para a defesa da cidade.

No século XVII, em 29 de março de 1638 registou-se a queda da antiga torre sobre o corpo da Igreja de São Vicente. Quando da aclamação de João IV de Portugal (1640-1656) foi nomeado governador de Trás-os-Montes o sargento-mor de Viana, Martim Velho da Fonseca, que logo tratou "da defesa dos lugares mais importantes" da Província, levantando trincheiras, nomeando capitães e dando-lhe guarnições. Em fevereiro de 1641 teve lugar a nomeação de D. Rodrigo de Castro, conde de Mesquitela como Governador das Armas da Província, o qual continuou a obra das trincheiras ou estacadas. A sua construção, em materiais perecíveis (terra, madeira e alvenarias pobres), com portas, obrigou a algumas demolições.

Em outubro de 1653, os deputados de Bragança pediram à Coroa o financiamento da fortificação, argumentando que a praça estava "aberta só com huas trincheiras que os moradores fizerão". Em resposta, o soberano comprometeu-se a escrever ao Governador das Armas para se tratar da fortificação o mais breve possível. Possivelmente apenas após essa data é que se procedeu à reconstrução e adaptação das muralhas do castelo à artilharia, cortando algumas torres medievais, envolvendo o tecido urbano por uma nova cintura de muralhas e construindo-se um novo forte, sob a invocação de São João de Deus. Neste período, o perímetro defensivo partia do exterior sul do castelo, contornava toda a cidade e ligava-se novamente às muralhas do castelo, nas proximidades da porta da vila. A obra exigiu a demolição de algumas casas, da capela de São Sebastião, o corte de cercas e a demolição dos dormitórios do mosteiro de São Bento e do de Santa Clara.

À época, o estado de sua defesa foi assim descrito:
"A praça de Bragança dista da raia duas léguas e meia, o que dela foi vila está situada em uma eminência circundada de muralha antiga, em meio tem um castelo também cerrado de per si de muralha da mesma sorte. Desta vila se continua a mais povoação da cidade, baixando pela eminência, e torna a subir até outra, que fica a tiro de mosquete. Continuam-se as casas por junto ao rio Fervença e se alongam só a distância de três ruas, por uma e outra parte as vem fechando parede de grossura de três palmos, pouco mais ou menos. A que olha ao rio tem alguns redentes e parte dela de pedra e cal; a que fica para a parte da campanha é de pedra e barro, tem a modo de baluartes e alguns travezes, tem estacada e pequeno fosso a maior parte desta obra.

Esta povoação é tão condenada a padrastos, que segundo as notícias variaram todos os engenheiros em a forma de fortificá-la, e nenhum fez planta conveniente. Deve cerrar-se de per si a fortificação da vila que está situada naquela eminência, e pode servir-lhe a muralha com que se acha, menos a que fica para as casas da cidade, que contra elas se há-de fortificar com defesa ao moderno de dois meios baluartes a modo de tenalha, e uma meia lua ao lado direito dela, e se há-de ocupar em uma obra corna a eminência que para a outra parte olha a muralha da vila a tiro de mosquete, porque [para que] dali a não batam nem se caminhe com aproxes.

Fortificada de per si desta sorte a vila, se deve fazer um forte na eminência que frente a ela fica, junto à qual acaba a povoação da cidade, que ficando em meio destas duas forças tiro de mosquete de uma a outra a não entrará o inimigo, ou ao menos se não pode deter nas casas, ofendido da artilharia e mosquetaria, e abrindo-se um fosso pela parte da campanha ao largo, mudando a ele a mesma estacada e parede de pedra que está feita junto às casas, e se o inimigo quiser vir a elas receberá na detença da entrada considerável perda da artilharia e mosquetaria, das duas forças e meios fossos há-de ir acabar este. Pelo outro lado das casas ficam defendidas do rio Fervença e aspereza da subida dele. É esta fortificação de maior segurança que qualquer outra que ali possa fazer-se: pede menos tempo, menos despesa e muito menos guarnição." (ANTT, Conselho de Guerra, Consultas, 1659, maço 19, “Rellação das Praças da Raya da Prouinçia de Tras os montes, do estado de suas fortificaçõis da que neçessitam, e os passos do Rio Douro”, anexa à consulta de 20 de junho de 1659.

Em 1690 a Câmara Municipal mandou colocar um relógio na torre do castelo: a obra foi arrematada a 17 de agosto pelo canteiro Martinho da Veiga, por 100$000.

O século XVIII
No início do século XVIII referia-se que o castelo "em Lugar de muralhas que não tem, a rodea huma estacada, que a defende" (COSTA, António Carvalho da. “Corografia Portugueza e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal (...)", 1706-1712.)

No contexto da Guerra de Sucessão Espanhola (1702-1713) a cidade foi parcialmente ocupada por tropas espanholas, por um breve período, em 1711.

Em 1715 João V de Portugal (1706-1750) compensou financeiramente o mosteiro de São Bento pelos prejuízos causados pela construção de trincheiras na cerca do mesmo. Em 30 de janeiro de 1719 o visitador proibiu as religiosas do mosteiro de Santa Clara de, estando na cerca, subirem e passarem pela "banqueta da estacada".

No mesmo período, por volta de 1721, José Cardoso Borges registou que a cidadela tinha a forma circular com muros levantados, fortalecidos por dezoito torres, que algumas se cortaram para exercício da artilharia de melhor calibre, sendo cingida por uma barbacã e esta por uma estacada. ("Descripsão topographica da Cidade de Bragança".)

Em 1727 o alcaide-mor Lázaro Jorge de Figueiredo Sarmento endereçou uma exposição ao soberano sobre os sucessivos esquecimentos da Casa de Bragança em pagar as obras no castelo e ele não ter fundos ou disposição de fazer mais adiamentos, até porque, à sua custa, já tinha contribuído para a reparação de várias ruínas, tal como o fizera seu pai, nelas gastando mais de 600$000. A casa do castelo e da família encontrava-se com grande desconcerto devido aos ventos, que lhe causavam contínuas ruínas, que careciam de reparos anuais. O soberano respondeu em setembro, na qualidade de administrador do príncipe D. José, duque de Bragança, mandando que os saldos positivos dos concelhos do termo da cidade fossem aplicados em obras públicas como a da casa do alcaide.

No ano seguinte (1728), uma provisão régia relegou as reparações do castelo e alcáçova para segundo plano, visto que os sobejos dos concelhos "tanto dos anos preteridos como de mais cinco futuros" passavam a ser afetos às reparações no Mosteiro de Santa Clara. D. João V incumbiu o Ouvidor da Casa de Bragança de deslocar-se aos diferentes concelhos sob jurisdição da cidade e da Casa de Bragança impondo que, de acordo com os sobejos das respetivas rendas, respeitada a proporcionalidade, se recolhesse anualmente 100$000 para aplicar no castelo "até findarem os reparos que carecer".

Em 1736 Luís Caetano de Lima referiu no castelo/cerca medieval a existência de dois redentes e falsa braga, "diante da qual, pela parte da cidade se acham atados cinco baluartes pequenos e sem fosso, por serem fabricados sobre rocha viva".

Em 1743 o soberano ordenou ao Provedor da comarca fazer arrematar em praça, pelo preço mais baixo, as reparações precisas nas casas do alcaide-mor.

Em 1754 há uma referência a uma "Estacada com parapeito de terra" rodeando a cidade, mas não cumprindo os objetivos, por estar arruinada. De mesmo ano existe a "Planta da praça de Bragança cituada na província de Trás-os-Montes", de José Monteiro de Carvalho, com proposta de modificação das principais linhas de defesa da cidade.

O terramoto de 1 de novembro de 1755 foi sentido na cidade, mas não causou ruína.

A fortificação encontra-se descrita nas "Memórias Paroquiais" (1758), da freguesia de São João Baptista.

Deste período existe uma planta da cidade, anónima e sem data, mas anterior a 1759, possivelmente com o objetivo de proceder a mudanças no projeto da nova fortificação da cidade.

No contexto da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), em 1762 a província de Trás-os-Montes foi invadida e saqueada por um exército espanhol de 30 mil homens sob o comando do general Nicolás de Carvajal y Lancaster, marquês de Sarriá. Bragança foi conquistada a 16 de maio. Na ocasião as tropas destruíram as muralhas do castelo (e as casas que então a elas se adossavam), tentaram derrubar a torre de menagem (sem sucesso uma vez que minava água do seu alicerce), e pregaram dois pregos na boca da imagem de Santo António, existente nas portas da vila. A 4 de junho os invasores montaram acampamento numa das saídas de Bragança. O Tenente-General marquês de Cevallos substituiu a administração portuguesa. Uma ordem real determinou o abandono da cidade e praça, vindo posteriormente os invasores a serem repelidos por forças portuguesas sob o comando do conde de Lippe. Neste período de ocupação foram elaboradas duas cartas da cidade pelas tropas espanholas e, por volta de 1763, uma planta de Bragança por Gioze Maria Cavagna (José Maria Cavagna), dando conta dos estragos causados pelos castelhanos, nomeadamente a frente leste da cerca medieval. Após a retirada espanhola, a cerca da cidade deve ter sido refeita e, em resultado do crescimento da urbe e das estratégias militares, o seu percurso relativamente modificado

Sob o reinado de Maria I de Portugal (1777-1816), em 1781 foi instalado no castelo, com "grande e dispendiozo concerto", um Regimento de Infantaria, o que levantou protestos do alcaide-mor.

Em 25 de março de 1789 o telhado da torre de menagem estava em ruína; a 20 de junho a soberana ordenou que, sem perda de tempo, se acudisse a essa ruína.

Em 1791 propôs-se o arrasamento da parte da muralha da cidadela para, no seu lugar, se construírem quartéis de Infantaria, tendo esse edifício sido traçado pelo engenheiro José Morais Antas Machado. Esse aquartelamento foi concluído em 1800.

O século XIX
Data de 1801 a “Planta da cidade de Bragança e suas dependências”, levantada pelo capitão do Real Corpo de Engenheiros, Luís Gomes de Carvalho.

No contexto da Guerra Peninsular (1808-1814) a cidade repeliu as tropas napoleônicas, momento em que a região conviveu com nova onda de saques e pilhagens (1809).

Em 1813 ainda existia o postigo do Colégio. Em 31 de julho de 1816 necessitavam fazer-se na praça seis guaritas para as sentinelas, telhar e fazer pequenos consertos nas janelas e fechaduras nas portas, cuja despesa não excederia a quatro moedas.

Em 1829 o governador de Bragança solicitou mandar reparar o telhado do armazém existente no castelo, com um orçamento de 345$80 (14 de novembro). O telhado, com 296 palmos em quadro e quase todo descoberto, precisava de traves, portas e mais madeira e a entrada para o mesmo, feita por uma ponte de pau levadiça, precisava ser sobradada. Precisava-se também de uma escada de pau de vinte e dois degraus para dar serventia ao telhado, porque a existente estava totalmente danificada. Os trabalhos foram feitos por Luís Rodrigues Calvelhe, mestre de alvenaria, e Marcelino Gomes, carpinteiro.

Em 1831 o castelo encontrava-se desabitado e em ruínas; uma resolução da Câmara Municipal insistiu na execução de uma medida, já afirmada no ano anterior (1830), determinando que se fechassem as duas portas da casa do alcaide com pedra e cal.

Data de 1840 uma planta de Bragança pelo Capitão Engenheiro Alexandre José Botelho de Vasconcellos e Sá.

Em 23 de setembro de 1861 uma circular do Ministro da Guerra dava conta da situação das fortificações da Província.

Do século XX aos nossos dias
O castelo encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910, publicado pelo Diário do Governo nº 136 de 23 de junho de 1910.

A partir da década de 1930 a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) iniciou-lhe extensa intervenção de consolidação e restauro, que compreenderam o restauro e reconstrução de muralhas, torres e caminhos de ronda, a inclusão de ameias em toda a extensão das mesmas, a demolição do quartel oitocentista e de diversas edificações adossadas aos muros, bem como a reposição de troços desaparecidos de muralhas e a reconstrução da Porta da Traição.

Em 1936 foi instalado um museu histórico-militar nas dependências da torre de menagem, inicialmente em apenas um dos pavimentos.

Os trabalhos prosseguiram nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Viriam a ser retomados, na segunda metade da década de 1970, com destaque, no início da década de 1980 para as obras de recuperação da torre de menagem, visando requalificá-la para a reinstalação do museu militar, que estavam concluídas em 1984.

Em 1982 o imóvel foi afetado ao Instituto Português do Património Cultural e, a 1 de junho de 1992, ao Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR), pelo Decreto-lei n.º 106F/92, publicado no Diário da República, I série A, n.º 126.

Em 2004 foi instalada a iluminação cénica do castelo.

Em 22 de agosto de 2008 a Câmara Municipal de Bragança, atribuiu medalha Municipal de Mérito ao Museu Militar de Bragança, na comemoração dos 25 anos daquela instituição.

Características
O castelo, de implantação urbana, isolado, erguido na cota de 699 metros acima do nível do mar, constitui o limite leste do núcleo urbano de Bragança. Apresenta planta trapezoidal, em estilo gótico, envolvido por barbacã com largo adarve protegido por parapeito ameado e amparada por sete possantes cubelos semicirculares, formando quase tambores, mais altos do que a muralha. O parapeito apresenta ameias de corpo largo, acedido por escadas estruturadas na espessura dos muros e é rasgado por troneiras, algumas cruzetadas, formando amplos nichos para o interior. Os cubelos semicirculares apresentam pavimento de lajes ou cascalho e cobertura em abobadilha de tijolo, e são rasgados por três troneiras, algumas cruzetadas, formando amplos nichos para o interior, também em arco de volta perfeita e aduelas de tijolo. A leste, entre dois cubelos, rasga-se o portal, em arco de volta perfeita e aduelas de cantaria sobre os pés direitos, em alvenaria de xisto.

A torre de menagem, na face virada à vila, apresenta planta quadrada, rematada em parapeito ameado, com ameias de corpo largo, integrando troneiras cruzetadas e balcão com mata-cães para bater a porta de entrada. Situa-se em plano elevado, em arco apontado biselado, abrindo-se nesta e nas outras fachadas seteiras e vãos apontados biselados, sendo dois do último piso maiores e mainelados. Divide-se internamente em quatro pisos, mais um abaixo do piso de entrada, com os paramentos em alvenaria de xisto argamassada aparente e vãos em arco apontado biselados sobre os pés direitos, alguns siglados. O portal norte, que cria abóbada de berço protegida por guarda-vento de madeira envidraçada, acede a espaço retangular irregular, à volta do qual se desenvolvem as escadas de ligação às várias dependências, com guarda plena de cantaria, coberto por ampla claraboia, com estrutura em ferro e vidro martelado e aramado. As paredes da caixa das escadas e as de algumas salas possuem vãos, rasgados a diferentes níveis, atualmente desprovidos de função, os virados à escada por vezes entrecortados, revelando alterações em todo o seu interior. No piso de entrada, desenvolvem-se duas salas do lado direito, duas frontais e, numa cota um pouco mais elevada, duas do lado esquerdo, as laterais com vãos para o exterior e as frontais com um só vão a meio, formando nichos interiores, junto aos quais existiam de ângulo portas interligando as salas, com arcos de volta perfeita, atualmente fechados inferiormente e sem função. As salas do lado direito possuem ainda duplo pé direito, com mísula intermédia, revelando antigo piso intermédio, para onde davam vãos em arco apontado biselado, hoje sem função. O piso inferior tem acesso pela primeira sala à direita da entrada, com portal de verga reta sobre impostas, onde existem escadas de caracol para a chamada "cripta", de planta em “L”, com pavimento em cantaria, paredes caiadas e cobertura em abóbada de ogivas ou cruzaria de ogivas, no ângulo, sobre pilares com chanfro. A caixa destas escadas avança inferiormente no espaço, ao nível da cripta, onde tem portal de verga reta sobre chanfro. À esquerda, num plano superior, portal de arco apontado com aduela decorada por dois querubins, liga a sala que tem no pavimento a boca da cisterna, quadrangular, disposta a nordeste da torre, interiormente em rocha viva. A cisterna era alimentada pelas águas fluviais, por meio de condutas, sendo visível uma ao longo do ângulo sudoeste da caixa das escadas e a circundá-la no topo. As salas do segundo piso não têm iluminação direta do exterior e as do terceiro comunicam entre si por vãos de verga reta assentes nos pés direitos; o balcão das escadas ao nível deste piso, assenta sobre arcos, rebocados e pintados de branco. O último piso é circundado por balcão avançado, com guarda de cantaria, assente em mísulas de perfis lobulados; as salas são cobertas por abóbadas de berço em betão, seccionadas por arcos diafragmas; a sala disposta a leste, no topo das escadas, apresenta amplo portal apontado biselado e a sala maior disposta a oeste tem escada de acesso ao terraço, pavimentada a lajes de cantaria.

A cerca da vila apresenta planta circular irregular, orgânica (adaptada à morfologia do terreno), composta por muralhas aprumadas, com cerca de 2 metros de largura, reforçadas por 15 torres ou cubelos, de diferentes formas e normalmente mais altas que as muralhas, de paramentos aprumados, rematados em parapeito ameado, com ameias prismáticas de remate piramidal, de corpo largo. Algumas das ameias são rasgadas por seteiras retangulares mas, predominantemente, estas surgem sob as ameias ou sob as abertas, que são simples. Interiormente a muralha é circundada por adarve largo, protegido na face interna de grande parte do seu perímetro por parapeito baixo, acedido por escadas estruturadas na espessura da muralha. Possui duas portas, em arco de volta perfeita, entre cubelos prismáticos, interligadas pela via estruturante da urbe, sendo a porta principal flanqueada por dois cubelos prismáticos e reforçada por barbacã, ambos representados nos desenhos de Duarte de Armas. A cerca integra ainda, a sudoeste, uma couraça para proteger uma fonte de abastecimento de água, o poço do rei, e, quase a oeste, uma alta torre com faces exteriores de seção semicircular ao centro.

No interior da cerca desenvolve-se o aglomerado de fundação medieval estruturado pela Rua Fernão o Bravo, com orientação leste/oeste, estabelecendo a comunicação entre as duas portas da muralha, a Porta do Sol, a leste, e a Porta da Vila ou de Santo António, a oeste, a qual dá acesso ao antigo arrabalde e ao rio. Aqui o visitante pode apreciar as edificações do “Domus Municipalis” (exemplar único no país da arquitetura civil românica e que se acredita tenha tido, primitivamente, as funções de cisterna), da Igreja de Santa Maria (ou de Nossa Senhora do Sardão) e o Pelourinho medieval.

A lenda da Torre da Princesa
A tradição local refere que há muito, quando a povoação ainda era a aldeia da Benquerença, existiu uma bela princesa órfã, que ali vivia com o seu tio, o senhor do castelo. Esta princesa apaixonou-se por um nobre, valoroso e jovem cavaleiro, porém carente de recursos. Por esse motivo, o jovem partiu da aldeia em longa jornada em busca de fortuna, prometendo retornar apenas quando se achasse digno de pedir-lhe a mão. Nesse ínterim, durante anos a fio, a jovem recusou todos os seus pretendentes, até que o seu tio, impaciente, prometeu-a a um amigo, forçando-a ao compromisso.

Ao ser apresentada ao candidato do tio, a jovem confessou-lhe que o seu coração pertencia a outro homem, cujo retorno aguardava há anos. A revelação enfureceu o tio, que decidiu aumentar a coerção por meio um estratagema: nessa noite, disfarçou-se como um fantasma e, penetrando por uma das duas portas dos aposentos da princesa, simulando ser o fantasma do jovem ausente, afirmou-lhe com voz lúgubre, que ela estava condenada para sempre à danação, caso não aceitasse casar-se com o novo pretendente. Prestes a obter um juramento por Cristo por parte da princesa, milagrosamente abriu-se a outra porta e, apesar de ser noite, um raio de sol penetrou nos aposentos, desmascarando o tio impostor. Daí em diante, a princesa passou a viver recolhida na torre que hoje leva o seu nome, e as duas portas passaram a ser conhecidas como Porta da Traição e Porta do Sol, respectivamente.

in:fortalezas.org

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