Produto em vias de extinção, mas com potencial económico. Associação ALDEIA quer revitalizar a produção de lã no Planalto Mirandês e está incentivar os produtores ao aproveitamento e transformação da matéria-prima.
A associação ALDEIA, com sede em Vimioso, no distrito de Bragança, quer dar um novo impulso à produção de lã proveniente de ovinos de raça churra mirandesa, considerando que o produto tem potencial económico.
No passado, a lã de ovelha churra chegou a ser o sustento de muitas famílias. Praticamente em cada casa havia um tear. Contudo, a introdução das fibras sintéticas veio colocar esta actividade rural no caminho da extinção.
Com o objectivo de revitalizar o produto e incentivar os produtores de gado ovino ao aproveitamento e transformação da lã na confecção de peças de vestuário, mantas ou outros agasalhos, a associação ALDEIA promoveu um campo experimental em Duas Igrejas, concelho de Miranda do Douro.
"Com estas iniciativas pretendemos dar a conhecer ao público as técnicas associadas a esta actividade rural em vias de extinção, já que as pessoas detentoras deste conhecimento estão todas elas com idade avançada e as gerações mais novas não pegam nestas práticas", diz à Renascença Isabel Sá, da associação ALDEIA.
Isabel Sá sublinha que “devidamente aproveitada, a lã poderá tornar-se num complemento económico das explorações deste tipo de rebanhos”, reconhecendo que, nos últimos anos, “se tornou num fardo para os produtores, já que o preço a que o produto é vendido não chega para pagar o custo da tosquia e, por isso, muitas vezes é queimada ou enterrada".
Por sua vez, Pamela Raposo, secretária técnica da Associação de Criadores de Ovinos de Raça Churra Mirandesa, defende que "vale a pena apostar na produção de lã de ovelha churra, mas de uma forma bem estudada, valorizada e diferenciada no mercado, já que este produto tem características diferentes das outras raças, porque cada uma tem a sua consistência e textura" e pode ser um complemento à pastorícia.
Da tosquia ao fio
Miguel Moreno, um dos poucos tosquiadores do planalto mirandês, revela que “um molho de lã tirado de uma ovelha de raça churra dá para fazer uma camisola" e que estes animais “são fáceis de tosquiar”.
As mulheres sempre tiveram nesta actividade um papel de relevo. A elas cabia limpar a lã, cardar, fiar, entre outras tarefas, até a lã ficar pronta para ser tricotada.
Emília Lopes explica que é preciso abrir a lã para que as impurezas sejam retiradas para seguir para o manelo ou copo, um instrumento artesanal onde é colocado o molho de lã, para depois seguir para a roca, onde é fiada, e cada fio é trabalhado à dimensão da sua utilização.
A lã de ovelha churra apresenta fibras longas e pontiagudas e é muito resistente.
Olimpia Mairos in Renascença
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