quinta-feira, 10 de julho de 2014

O PATRIMÓNIO CULTURAL DO VALE DO DOURO

O Vale do Douro detém um património cultural de excelência, internacionalmente reconhecido. Podemos dizer que nenhum outro rio da Península se lhe pode comparar e, mesmo a nível europeu, constitui uma realidade ímpar:
• pelo valor e diversidade da sua paisagem;
• pela excepcionalidade e originalidade do seu património;
• pela monumentalidade das suas obras de engenharia;
• pela variedade e qualidade dos seus vinhos;
• pela importância da sua gastronomia, artesanato e folclore.
A riqueza do seu património cultural é evidente, demasiado evidente para quem conhece o Vale do Douro. A questão que se levanta é a de promover as rotas patrimoniais da região:
• os inúmeros núcleos arqueológicos e históricos existentes;
• as cidades e vilas monumentais e os castelos da Reconquista – Porto, Penafiel, Vila Real, Lamego, Torre de Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Miranda do Douro, Zamora, Toro, Tordesilhas, Valladolid, Peñafiel e Peñaranda de Duero, Burgo de Osma, Soria, etc;
• as centenas de mosteiros, abadias e igrejas;
• os palácios e casas senhoriais;
• as caves do Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia;
• as pontes e linhas de caminhos de ferro;
• os moinhos de origem medieval e as fábricas de farinhas;
• as barragens do Douro, que fazem do rio um dos maiores produtores de energia da Península;
• as paisagens naturais (arribas do Douro) e humanizadas (Alto Douro Vinhateiro), paisagens culturais de grande beleza, nichos ecológicos, parques naturais, aldeias históricas e quintas do Douro;
• os vinhos – a cultura vitivinícola constitui um importante elemento integrador do Vale do Douro – Toro, Rueda, Ribera del Duero, Fermoselhe, o Vinho do Porto e outros vinhos do Alto Douro;
• a arquitectura popular e os utensílios agrícolas de séculos anteriores, ameaçados de extinção pela desertificação, pela introdução de novos equipamentos e de novas formas de exploração agrária.
Registe-se, aliás, que boa parte deste riquíssimo património foi já reconhecido como património mundial:
• os núcleos históricos de Segóvia, Ávila, Salamanca, Porto e Guimarães;
• as catedrais de Burgos e León;
• os Caminhos de Santiago de Compostela;
• o Parque Arqueológico do Vale do Côa;
• o Alto Douro Vinhateiro.
Que se encontram em processo de classificação:
• o centro histórico de Burgos;
• San Baudelio de Berlanga.
Finalmente, que estão em preparação de candidatura:
• o núcleo histórico de Zamora, cidade que regista a maior densidade de igrejas românicas da Península;
• as caves e armazéns do Vinho do Porto, localizadas em Vila Nova de Gaia.
O património histórico-cultural do Vale do Douro lança, assim, um desafio aos responsáveis políticos de ambos os países, nacionais, regionais e locais, tão simples quanto de complexa solução: como traduzir em recursos turísticos culturais todo esse imenso património, de forma a este constituir um instrumento fundamental da economia e desenvolvimento do Vale do Douro? Como criar uma imagem de marca da Região?
AS FRAGILIDADES DO VALE DO DOURO
O desafio enunciado não é tarefa fácil. O Vale do Douro debate-se com um conjunto vasto e complexo de bloqueios e fragilidades, decorrentes de factores comuns aos dois países, que importa conhecer:
• uma dinâmica demográfica muito reduzida, traduzida por um processo acentuado de envelhecimento da sua população, infelizmente, comum aos dois países, mas a afectar particularmente o mundo rural do Vale do Douro, num processo generalizado e contínuo, que ainda não parou de se desenvolver;
• um baixo nível de formação das populações, traduzido numa gritante carência de quadros técnicos e na reduzida dinamização e participação cultural;
• uma economia débil, caracterizada por níveis de especialização produtiva reduzidos a produtos básicos agrícolas e energéticos, por uma enorme receptividade e utilização de processos de inovação tecnológica e por uma incipiente capacidade empresarial.
• as deficientes acessibilidades à região, assim como das infra-estruturas de comunicação existentes entre os dois países, aos mais diversos níveis: fluvial – desarticulação entre a navegabilidade do rio Douro (que importa aprofundar entre o Pinhão e a fronteira), em Portugal, e os cais de acostagem, em Espanha; viário – ligação de Bragança a Zamora; e ferroviário – encerramento da linha do Douro, que seguia até Salamanca;
• débil cooperação institucional e empresarial, quer de agentes públicos, quer de privados, no que diz respeito ao Norte de Portugal com Castela-León;
• inexistência de redes sectoriais de cooperação e trabalho continuado entre Portugal e Espanha, no que diz respeito à região;
• escassez de informação actualizada e global;
• ausência de oferta turística integrada, regra geral, oferecida por operadores turísticos externos ou periféricos à região;
• reduzida qualificação dos centros urbanos;
• inexistência de uma política comum de rentabilização do património histórico- cultural, como se verifica quanto à gestão integrada de bens e serviços culturais por parte dos agentes públicos e privados, e quanto às campanhas de publicidade e marketing nos mercados nacionais;
• tímido movimento de certificação de qualidade dos seus produtos, embora nos últimos anos alguma coisa se tenha avançado;
Tais debilidades exigem que se tenha em conta a definição de uma estratégia global de turismo cultural, para todo o Vale do Douro, uma estratégia integrada, que tenha em conta:
• as populações do Vale do Douro e a melhoria das suas condições de vida e do seu bem-estar, em torno de uma ideia de qualidade, cultura e progresso – missão da Fundação hispano-lusa Rei Afonso Henriques –, de forma a travar-se o processo de desertificação e a obter-se, através da sua sensibilização, a sua participação empenhada em tal estratégia;
• o respeito pelo meio ambiente, estimulando os municípios a empenharem-se, por um lado, na defesa de um rio Douro e afluentes limpos, assim como na preservação das suas margens, e por outro lado, na qualificação dos seus centros urbanos;
• o seu património, estruturando e promovendo as linhas da sua valorização, de forma a poder configurar-se um turismo de qualidade.

O PATRIMÓNIO HISTÓRICO-CULTURAL DA REGIÃO DE BRAGANÇA/ZAMORA
Fernando de Sousa
(presidente do CEPESE)
Luís Alexandre Rodrigues
(coordenador desta publicação)

Sem comentários:

Enviar um comentário