sexta-feira, 11 de julho de 2014

UMA ESTRATÉGIA PARA A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL DO VALE DO DOURO

A definição dessa estratégia passa, logicamente:
• pela eliminação ou atenuação de bloqueio flagrantes, detectados nas infra-estruturas de comunicação, procurando activar formas complementares de transporte que permitam ao turismo cultural aceder facilmente à região e ignorar as fronteiras entre os dois países – as acessibilidades ao Vale do Douro e as comunicações e transportes na área são determinantes para o desenvolvimento do turismo cultural da região, a exigir actuações profundas, concertadas e complementares de ambos os países;
• pelo aprofundamento da cooperação transfronteiriça entre os dois países – neste caso, entre o Norte de Portugal e Castela-Leão –, aos mais altos níveis.
A cooperação desenvolvida até ao momento, apesar dos Programas Comunitários Interreg, tem sido reduzida, desgarrada e baseada mais na justaposição/junção das propostas dos agentes dos dois países do que em autênticas políticas sectoriais resultantes de uma reflexão comum, políticas essas que tenham em consideração a diversidade da região e que possam conjugar a dinâmica dos centros urbanos com as potencialidades do meio rural;
• pela criação de redes sectoriais de integração e harmonização, de que a institucionalização de uma rede de museus do Vale do Douro, enquanto importante instrumento do património cultural, pode ser exemplo;
• pela criação de rotas temáticas de turismo cultural – rota dos castelos e fortificações; do românico, gótico, barroco; rota dos vinhos do Douro; etc;
• pelo reforço da imprensa regional, de forma a mobilizá-la para esta problemática;
• pela criação de um centro de documentação virtual de todo o Vale do Douro, um portal na Internet, pelo qual, através dele, se possa aceder a toda a informação pertinente ao turismo cultural – não há qualquer sistema de informação actualizada para o Vale do Douro em qualquer um dos países e muito menos para a região entendida como um todo;
• pela criação de cursos de formação turística especificamente destinados ao Vale do Douro;
• pelo lançamento de publicações trilingues ou bilingues, que dêem a conhecer a riqueza e a diversidade do património do Vale do Douro, nas suas mais variadas facetas;
• pela promoção da região, a nível ibérico, europeu e mundial, acção que exige a intervenção/concertação dos Governos de ambos os países.
CONCLUSÃO
No quadro da União Europeia, o Vale do Douro constitui um espaço periférico afastado dos grandes eixos de desenvolvimento da Europa, dividido entre dois países. A História e a Geografia contribuíram, assim, para que o Vale do Douro se transformasse numa das regiões (sobretudo entre as regiões fronteiriças) mais deprimidas da União Europeia.
Contudo, o património cultural que o Vale do Douro alberga no seu seio faz dele um dos territórios mais autênticos e mais excepcionais da Europa.
Marca, durante alguns séculos, de dois mundos em confronto – o cristão e o muçulmano –, no sentido Norte-Sul, espaço dividido, posteriormente, pelos dois países ibéricos, no sentido Este-Oeste, objecto de um lento mas irreversível afundamento económico, no seu todo, a partir do século XVI, com a litoralização da população peninsular, a verdade é que o imobilismo da região veio a contribuir significativamente para que o seu vasto e riquíssimo património tivesse chegado até aos nossos dias bem preservado, haurindo a sua pujança patrimonial na fraqueza económica e de abandono a que foi votada.
Olhando para a região como um todo supranacional, verificamos que as suas potencialidades de desenvolvimento sustentado têm a ver, sobretudo, com o reconhecimento, valorização e divulgação desse património ímpar no contexto peninsular e mesmo europeu, de forma a promover o seu turismo cultural, que constitui, neste século XXI, uma das suas indústrias mais promissoras.
Essa promoção exige uma política esclarecida de consenso de ambos os países, Portugal e Espanha, não passando qualquer estratégia de desenvolvimento da região por um só dos dois Estados, de uma simples habilidade votada ao fracasso e ao arrepio da construção europeia, que a todos diz respeito.
O desenvolvimento do Vale do Douro, baseado no seu património e no turismo cultural, exige, pois, uma verdadeira política de cooperação bilateral, uma vontade política autêntica de Portugal e de Espanha, que não se esgote nos programas comunitários de cooperação transfronteiriça existentes – como se tratasse apenas de dar cumprimento formal a exigências de natureza exógena –,mas que entenda esses programas, tão só, como uma das linhas de intervenção que importa levar a cabo, para que o extenso Vale do Douro venha a ter a oportunidade que lhe compete.

Título
O Património histórico-cultural da Região de Bragança / Zamora
Coordenação
Luís Alexandre Rodrigues
Co-edição

CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade / Edições Afrontamento

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