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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Georges Dussaud: "Trás-os-Montes é muito fotogénico"

Bragança abriu um centro de fotografia com o nome do francês que, desde 1980, vem fotografar Portugal.
O fotógrafo francês nascido na Bretanha em 1934 e que trabalha para a Rapho, a mesma agência de Robert Doisneau - o autor de ‘O beijo do Hotel de Ville', a fotografia iconográfica tirada em 1950 em Paris -, tem um centro de fotografia com o seu nome em Bragança. Estão lá, desde abril, uma centena de fotografias tiradas por Georges Dussaud, nas oitenta viagens que fez a Portugal. 
- Qual é a história da abertura em Bragança do Centro de Fotografia Georges Dussaud? 
- Em 2007, no Porto, fizemos uma grande exposição retrospetiva [intitulada ‘Crónicas Portuguesas', depois publicada em livro pela Assírio & Alvim]. No final da exposição propus ao Centro Português de Fotografia a doação de parte do meu trabalho, mas o projeto acabou por não se concretizar, creio que por falta de meios. Como já tinha exposto diversas vezes em Bragança e sabia que a cidade era muito dinâmica - a mais dinâmica de Trás-os-Montes -, tornou-se a alternativa mais óbvia. 
- Quando veio pela primeira vez a Portugal? 
- Foi em 1980. No regresso da primeira viagem a Portugal, no verão desse ano, ao Alentejo, com os nossos três filhos, passámos por acaso na pequena aldeia transmontana de Ponteira e ficámos espantados com a atmosfera e com o mundo arcaico, mas, ao mesmo tempo, feliz. De regresso a França procurámos literatura portuguesa e começámos por Miguel Torga. No ano seguinte regressámos a Portugal, ao Barroso, e foi na pequena aldeia de Negrões que encontrámos um jovem chamado José. Naquele tempo não havia hotéis nem quaisquer infraestruturas na região; era inverno e estava frio. Perguntámos, então, ao jovem se havia sítio onde pudéssemos ficar. Ele disse-nos: ‘Em casa da minha mãe'. Era uma casinha muito modesta, sem aquecimento. A senhora, que se chamava Deolinda Varela, ofereceu-nos então - e sempre que lá fomos e até à sua morte - a sua casa para ficarmos. Sempre que vínhamos a Trás-os-Montes ficávamos com a ‘madame' Deolinda. Ela tornou-se a nossa avó portuguesa. Desde 1980 até agora, fizemos oitenta viagens a Portugal e acabámos por fotografar todas as regiões do País. 
- Que impressão tem de Portugal? Como descreve o País? 
- Em Portugal preferimos Trás-os-Montes, e particularmente o Barroso. Em vinte anos não mudou muito. Nota-se, isso sim, um êxodo de pessoas. Há cada vez menos famílias, menos crianças. As escolas fecharam. Mas, embora tenha menos gente, continua a ser uma região muito interessante. Eu e a minha mulher estamos muito ligados a Portugal. 
- Fala português? 
- A minha mulher fala um bocadinho, mas ‘eu fala muito mal'. A questão é que encontramos sempre alguém que fala francês e, por isso, nunca nos sentimos encorajados a aprender a língua. 
- Portugal é fotogénico? 
- Trás-os-Montes é muito fotogénico. É teatral. Os interiores são rústicos, com a luz crua da pintura holandesa, como nos interiores de Vermeer. Trás-os--Montes é uma região autêntica. Autêntica, mas não folclórica. Miguel Torga dizia que quando os camponeses saem para o campo com o rebanho parece que levavam uma constelação de estrelas atrás do capote. É isso. É essa poesia. 
- O Portugal que prefere não é o Portugal atlântico? 
- Não é por causa das praias que viajamos para Portugal, mas, é claro, já fotografamos o Litoral. Fotografámos Lisboa mas também a Apúlia, por causa da pesca tradicional, os agricultores que são também pescadores, uma coisa extraordinária que deu fotografias muito interessantes. 
- Qual é o papel de Christine Dussaud? A sua mulher acompanha-o sempre... 
- Ela é a minha assistente, escreve sobre as pessoas que encontramos, escreve sobre a nossa história. O catálogo da exposição no Peso da Régua, no Museu do Douro, é dela. E também uma instalação extraordinária, em que trabalhámos juntos. 
- Fotografou o escritor Manuel António Pina, o realizador Manoel de Oliveira ou a escritora Agustina Bessa-Luís, entre outros. Como foi? 
- Na exposição retrospetiva no Centro Português de Fotografia encontrámos o adido cultural de França e o diretor do serviço da câmara da cidade, responsável pelas relações internacionais, que me propuseram fazer um trabalho de residência sobre a cidade. Foi nesse âmbito que encontrámos essas personalidades do Porto - o Manuel António Pina, o Manoel Oliveira, o Júlio Resende, a Agustina, o Pedro Abrunhosa e o empresário Rui Moreira [candidato às autárquicas]. Agora estou a preparar um livro sobre o Porto. 
- Houve alguém particularmente difícil de fotografar? 
- Não, não. Tivemos com todos uma relação muito simpática. O Manoel de Oliveira, por exemplo, veio ter comigo ao Centro Português de Fotografia para ver a exposição e depois jantámos num restaurante. As fotografias foram feitas em sua casa e depois na rua... Foi tudo muito fácil com todos. 
- Nunca fotografou políticos? 
- Sim, fotografei Miguel Veiga e Adriano Moreira, mas, digamos, que estou mais interessado no mundo das artes. 
- Disse numa entrevista que faz um trabalho de geografia humana. Pode explicar melhor? 
- Digamos que faço parte daquela corrente da fotografia humanista, que em França é representada pela Rapho, uma agência muito antiga onde trabalhou Robert Doisneau, Édouard Boubat, entre muitos outros. Eu pertenço a essa corrente. 
- Como é trabalhar na Rapho? É uma responsabilidade? 
- É uma alegria. Infelizmente, atravessamos uma época muito difícil para os fotógrafos. A Rapho foi comprada por um grande grupo e perdeu um pouco da sua essência. Éramos uma família. Os grandes fundadores da Rapho estão todos mortos e a agência foi comprada. É outra época, infelizmente, mas é a vida. Agora a Rapho é uma máquina mais fria - uma revista vem e compra os direitos de publicação e pronto -, mas é a época em que vivemos. 
- Como começou a fotografar? 
- Fotografei durante toda a minha vida. A minha primeira comunhão foi o meu primeiro trabalho. O meu pai tinha uma loja de fotografia, por isso cresci no meio. Depois casei, tive três filhos e para viver fiz um trabalho comercial, mas quando os meus filhos cresceram resolvi dedicar-me inteiramente à fotografia. Foi em 1970. 
- Por que é que fotografa a preto e branco? 
- A fotografia a preto e branco exige que quem a vê se embrenhe naquilo que está a ver. A fotografia a cores exige menos e tem menos mistério. O preto e branco é uma linguagem próxima da poesia. As pessoas têm de entrar na imagem. Vivemos uma época em que a cor é a protagonista das solicitações comerciais - o cinema é a cores, a publicidade é a cores, a televisão é a cores. Vivemos cercados de cores. Na sociedade contemporânea há uma espécie de usura da cor.

Correio da Manhã

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