O Festival Sete Sóis Sete Luas conta mais de 20 anos dedicados a divulgar a cultura mediterrânica em sete países e 30 cidades. Residências artísticas, concertos, exposições, muitas são as actividades em torno desta iniciativa. Os promotores lamentam a falta de atenção dada à cultura tradicional e a sobre valorização da cultura anglo-saxónica.
Música, teatro, gastronomia são traços identificadores das diferentes culturas. Elementos que o Festival Sete Sóis Sete Luas divulga nas mais de 30 cidades que actualmente integram esta iniciativa. Criado em 1993, o festival tem sede em Ponte de Sor, Portugal, mas também em Pontedera, Itália. Partindo destas duas localidades, o projecto organiza residências artísticas, concertos que promovem o intercâmbio de artistas e cultural, capazes de conquistar turistas que querem descobrir um país e as suas raízes.
Volvidos 21 anos sobre o arranque do festival, Marco Abbondanza, director do Sete Sóis Sete Luas, mostra-se contente: «o projecto evoluíu em termos de público, mas também em si mesmo». O dirigente lamenta, contudo, que «os macro festivais que existem, do estilo anglo-saxónico, tirem espaço à música portuguesa, mediterrânica. Os media vão atrás das grandes estrelas, dos produtos confeccionados noutros países com tendência para esquecer o potencial que existe no Sul da Europa».
O responsável sublinha que, apesar desse desinteresse, continuam a «batalha» de promover a cultura mediterrânea com este festival que abrange sete países. Marco Abbondanza refere que o «objectivo é cada vez mais reportar a mobilidade dos artistas deste espaço, dar a conhecer aos públicos desses países a grandeza da sua arte e contrariar esta tendência das indústrias culturais anglo-saxónicas».
Ao longo de todo o ano, em Ponte de Sor, o Sete Luas Sete Sóis promove residências artísticas, exposições, laboratórios de criatividade com alunos de escolas locais. Mas leva também iniciativas a Castro Verde, Odemira e Elvas, no Alentejo, a Alfândega da Fé, no Norte do país, Castelo Branco, na Beira Interior, Oeiras, na Estremadura, e Madalena, na ilha do Pico, nos Açores. Em cada uma das localidades, tendo em conta usos e costumes locais, decorrem concertos, exposições, mostras gastronómicas. O festival dá especial atenção ao intercâmbio de culturas, promovendo deslocações de artistas da rede Sete Luas Sete Sóis a Portugal, assim como leva os portugueses lá fora.
O festival passa também por Ceuta e Tânger no Norte de África, em São Filipe, Tarrafal, Cidade Velha e outras localidades de Cabo Verde, assim como em Béja (Tunísia), Roma e Gaeta, Itália. Nos países mediterrânicos há «muitas diferenças que tentamos valorizar. Não gostamos de imaginar o mundo cultural e artístico todo igual, com as mesmas características. Mas existe uma raiz comum. Na bacia do Mediterrâneo existe uma cultura comum e que nos aproxima. O Sete Sóis Sete Luas investiga ao mesmo tempo as diferenças, mas também mostra a possibilidade de uma linguagem comum, e como é profunda a raiz desta ligação», explica o director do festival.
Marco Abbondanza diz ainda que procuram «valorizar o momento social da arte contemporânea, mostrando que não é algo de elitista mas que diz respeito às pessoas, aos mais jovens, à formação e à comunidade».
Toda a engrenagem deste projecto é oleada por uma equipa de oito pessoas que coloca em prática todas as actividades com poucos recursos financeiros. «Tendo em conta o difícil que é levar para a frente projectos culturais, o operador cultural de hoje caracteriza-se pela persistência, pela resistência e pela capacidade de intervenção em múltiplas áreas. Já não é tempo de grandes investimentos, os recursos estão limitados, e naturalmente o operador cultural tem de saber lidar com diversas áreas, como programação e logística, e ter grande profissionalismo e motivação profunda para levar à frente um projecto cultural porque as remunerações económicas são moderadas», comenta o nosso interlocutor.
Marco considera que a «grande remuneração, a mais-valia de trabalhar na área da cultura, é partilhar o conhecimento e diferentes culturas e é a amizade entre artistas».
O Sete Sóis Sete Luas acontece com o apoio de entidades locais e, pontualmente, submente projectos a fundos comunitários. «Vivemos de muitos pequenos apoios e é difícil ter um valor orçamental», afirma.
Cultura movimenta a economia
«A cultura move o mundo da economia», considera Marco Abbondanza, embora «os reflexos económicos da cultura não sejam muito valorizados». O director do festival sublinha que existem já muitos estudos universitários que demonstram a mais-valia da cultura para a economia, mas «na óptica dos nossos ministros ainda não há esta consciência». No entanto, o Sete Sóis Sete Luas acredita no turismo musical, cultural. Marco Abbondanza defende que vê um grupo de cantares polifónicos em Itália, fica com vontade de vir a Portugal conhecer esta cultura de perto.
«O nosso público gosta de viajar, do multiculturalismo, de destinos novos. Nesta perspectiva notamos que as 30 cidades que integram o festival têm o interesse do público dos vários países», explana Marco Abbondanza. Deste modo, o festival disponibiliza on-line pacotes turísticos, «mas também nas praças onde fazemos o festival tentamos que o público que, por exemplo, assiste a um concerto de música portuguesa em Itália seja estimulado para marcar as suas férias em Portugal. Isto para conhecer uma versão diferente do destino e não apenas aquela perspectiva mais turística»..
O festival tem pacotes turísticos criados em parceria com as câmaras municipais de cada uma das cidades da rede para proporcionar visitas aos territórios Sete Sóis Sete Luas. Os pacotes incluem alojamento, oportunidade de aceder a exposições, concertos, refeições em restaurantes tradicionais e são válidos para os dias dos espectáculos.
Sara Pelicano; Fotos - Festival Sete Sóis Sete Luas
in:cafeportugal.pt
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