Hoje a aldeia está deserta e os imensos olivais animaram-se na urgência da apanha da azeitona. Sim porque para a semana vai chover… e depois quem é que apanha a azeitona?!
De oliveira, em oliveira… estendem-se os lençóis… batem-se os ramos e as azeitonas vão caindo numa promessa de lagar, azeite fino que faz adivinhar a mesa farta… as batatas com grelos… a alheira assada… tudo regado com um fiozinho de azeite.
… louvado seja Deus!
O filho ficou de vir para ajudar os pais idosos a apanhar a azeitona… ainda não veio… está na Polícia… longe que eu sei lá… e quem tem patrão é assim mesmo… a azeitona que espere… os pais que envelheçam… até ao dia em que os filhos regressam para o funeral!
…talvez tenha sido má ideia, eu e tu, termos ido a estudar… talvez fosse melhor termos ficado aqui… irmos à azeitona… comermos a merenda… olhar as estrelas para ver se vai chover… matarmos o porco pelo Natal… e envelhecermos juntos!
… mas não foi assim… temos que regressar de novo… e quantas vidas serão precisas para acertarmos no caminho?!
… não liguem… coisas minhas... vou ver se o lagar já abriu… espreitar a fornalha e fazer uma torrada com azeite novo…. que é mezinha… para muitos males… da alma e do corpo.
… podia ter sido pior!.
Fernando Calado
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