segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

As Bruxas

Há um sítio na aldeia de Zedes, do concelho de Carrazeda de Ansiães, que é conhecido como o “ermo das bruxas”, onde nenhuma erva ou arbusto crescem, apesar de a terra ser boa para cultivo. Dizem os antigos que aquele é o sítio da reunião das bruxas, e que, por isso, não há planta que ali consiga nascer ou medrar. Conta-se que houve, noutros tempos, um rapaz que se achava muito forte e muito valente e que andava sempre a dizer que não tinha medo de nada.

– Nem das bruxas do “ermo”? – perguntaram-lhe um dia.

– Das bruxas?! – dizia ele. – Elas que me apareçam à frente e hão-de ver a que terra vão parar!

Acontece que, nessa mesma noite, o rapaz saiu de casa como era costume fazer, e, ao dar a meia-noite na torre da igreja, ia ele a passar no largo da aldeia. Nesse exacto momento, atravessou-se na sua frente um vulto preto, que lhe pareceu um porco. E disse para consigo:

– Quem terá deixado fugir este porco?

Pôs-se então a correr atrás dele para o agarrar. Mas quanto mais corria, mais o animal corria também. Por isso não havia maneira de o apanhar. E tanto correu, tanto correu, sempre atrás dele, que acabou por ir parar ao dito “ermo das bruxas”, onde foi encontrar outros porcos e porcas à espera. Nesse momento, todos os animais se puseram a correr em círculo à volta do rapaz, rindo em altas gargalhadas e chamando pelo seu nome. Conheciam-no, portanto.

Conta-se que o moço teve tanto medo, que até fez o sinal da cruz para pedir o auxílio de Deus. E que, ao fazer o sinal da cruz, o círculo dos porcos desfez-se de repente e todos os animais debandaram dali como relâmpagos. Só então ele pôde regressar a casa. Desde esse dia nunca mais o moço andou na rua fora de horas, nem o voltaram a ouvir gabar-se da sua exagerada valentia.

(Fonte: PARAFITA, A. – Bruxas, Feiticeiras e suas Maroteiras, Lisboa, Texto Editores, 2003)

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