A importância do solo para as sociedades humanas e para o nosso modo de vida levou as Nações Unidas a declararem 2015 – Ano Internacional dos Solos. A urbanização crescente e a evolução tecnológica tendem a fazer-nos esquecer deste recurso e das ameaças a que está sujeito.
Segundo a FAO o solo fornece 99% de toda a biomassa produzida no mundo, para a alimentação humana e animal, para a produção de fibras vegetais com múltipla aplicações industriais, bioenergia, produtos bioquímicos, produtos farmacêuticos e outros. Este dado, só por si, revela bem a nossa dependência avassaladora deste recurso, praticamente tão vital como o ar e a água.
Mas o que é o solo? A palavra ‘solo’ é aplicada em muitas situações, por vezes só para referir o chão. Porém, o solo tem espessura, é uma cobertura de material solto (mineral e orgânico) existente à superfície da terra, que serve de meio natural para o crescimento das plantas e de muitos outros organismos.
A par da produção de biomassa, os solos desempenham outras funções (e serviços para a humanidade) que os tornam indissociáveis da evolução da vida terrestre e das sociedades humanas em particular: intervêm nos ciclos de renovação da vida, como os ciclos da água, do carbono e do azoto, para referir apenas os mais relevantes para o clima e as alterações climáticas; têm dos maiores níveis de biodiversidade da Terra – neles vivem inúmeras espécies de organismos, macro e microscópicos, na sua maioria ainda desconhecidos; guardam vestígios de enorme interesse científico, cultural, artístico e até religioso.
É comum desvalorizar a nossa dependência do solo, assumindo que é um recurso abundante e imutável. Todavia, o solo é um recurso finito. Aliás, é cada vez mais reduzida a parcela de solo arável (adequado para culturas anuais e prados temporários) por habitante. E prevê-se que continue a diminuir, dos quase 0,25 ha actuais, para menos de 0,2 ha em 2050 (a par do aumento da população de 7 para mais de 9 mil milhões de habitantes).
Em Portugal já só temos 0,1 ha de solo arável por habitante, um dos valores mais baixos da Europa. O solo também não é imutável. Embora se forme muito lentamente – demora 1 000 a 2 000 anos para formar apenas 10 cm de solo – pode sofrer uma degradação muito rápida, por vezes em horas ou minutos, por deslizamentos e enxurradas associados a chuvas mais intensas.
Mas processos de degradação mais prolongados são igualmente graves porque, sem vigilância ou monitorização, podem ser evidentes tarde de mais. A União Europeia reconheceu as seguintes ameaças aos solos da Europa: selagem (impermeabilização ou pavimentação), erosão (pela água e pelo vento), perda de matéria orgânica, perda de biodiversidade, compactação, salinização, contaminação (por poluição concentrada e difusa), cheias e deslizamentos. Todas estas formas de degradação têm origem humana, associadas a muitos tipos de usos do solo.
Uma vez degradado, a recuperação de um solo pode demorar várias gerações, por isso tem de ser considerado um recurso natural não renovável. Também não é razoável admitir que a evolução tecnológica encontre outros recursos capazes de substituir as funções do solo. A ciência e a tecnologia são sim, indispensáveis para promover o uso e a gestão sustentável do solo e prevenir todas as formas de insegurança a médio-longo prazo, nomeadamente as decorrentes das alterações climáticas. Mas, para ser eficaz, é preciso que cada vez mais cidadãos adoptem uma atitude ética inspirada nos melhores agricultores do passado, que procuravam legar aos descendentes terras tão ou mais férteis do que as que tinham recebido dos seus antepassados.
Ao longo de 2015 a SPCS participa na promoção do Ano Internacional dos Solos com um conjunto de acções que vão sendo divulgadas em www.spcs.pt.
Conteúdo fornecido por Direcção da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo (SPCS)
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
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