Uma antropóloga reuniu em livro, após uma pesquisa de três anos , 62 jogos tradicionais do Planalto Mirandês, para evitar que estes "importantes" elementos culturais identitários da região nordestina caíssem no esquecimento das gerações mais novas.
Em declarações à agência Lusa, Mónica Ferreira, a autora do trabalho, justificou que foram necessários alguns anos para recolher, observar e registar a prática dos jogos para não se perderem os pormenores que por vezes marcam a diferença de região para região do país.
"Transcrever para papel muito do que vi, quando o registo captado pelo gravador não era o suficiente, ou era pouco percetível e com a falta de alguma informação, foi complicado", observou.
Para uma melhor integração, a investigadora teve de jogar os jogos da sua infância, para melhor perceber a atitude dos intervenientes nos mais diversos desafios, que muitas vezes não estavam ao alcance das mulheres.
Os jogos agora passados a livro são retratados da forma "mais fiel possível", já que muitos deles já caíram em desuso, ou já não tão são usuais quanto eram antigamente nos adros das igrejas ou em terrenos comunitários onde se jogava o fito, a relha, o ferro ou a malha.
Já os jogos de mesa com cartas, tais como a sueca, o chincalhão, o sobe e desce ou outros, ainda se vão mantendo.
Os jogos de tabuleiro, tais como damas, ou xadrez, ainda "vão atraindo a atenção dos mais novos", mas de foram já "muito tímida" face ao avanço das novas tecnologias.
Porém, jogos como a cabra cega, os esconde-esconde, o jogo do pião ou saltar simplesmente à corda estão ser substituídos pelos computadores, tabletes e internet.
Agora, a bilharda, o batoque, o espicha, ou outros jogos ao ar livre e que impunham uma grande disputa entre os seus jogadores, estão praticamente fora de jogo dadas preferências das gerações mais novas.
"São jogos ancestrais transmitidos de gerações em gerações e que se têm perdido no tempo. Passatempos lúdico-didáticos pois com a sua prática aprendíamos a contar, dividir, somar, partilhar e sobretudo a socializar. Jogos que se vão perdendo no tempo que tê de ser recuperados", acrescentou Mónica Ferreira.
Para o historiador Hermínio Bernardo, um conhecedor da realidade histórica das "Terras de Miranda" este jogos sempre existiram nesta região desde o tempo da ocupação romana.
"Os povos que passaram pela Península Ibérica praticavam estes jogos, aos quais lhes emprestaram um pouco da sua forma de estar na sociedade", acrescentou.
Para o investigador, os jogos tradicionais também foram o encontro de povos e culturas desde tempo ancestrais e serviam para sociabilizar, para desenvolver o corpo e a mente e para competir.
A antropóloga Mónica Ferreira acrescentou que se apercebeu de que havia muitos mais jogos a recolher, sendo preciso mais tempo para continuar o trabalho o que terá de ser feito.
O livro "Jogos Tradicionais -Terras de Miranda" é ilustrado estando escrito em português e mirandês.
FYP // MSP
Lusa/ fim
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