O Agrupamento de Escolas Emídio Garcia, de Bragança, encontrou nas artes um estímulo para alunos à beira do abandono escolar, que mostraram hoje como o teatro e outras expressões ajudam a aprender e a manter a ligação à escola.
O resultado de um ano de trabalho do Curso vocacional de Artes do Espetáculo "Espetacul`Artes" ganhou hoje palco com várias demonstrações das aprendizagens do grupo de 20 jovens com idades entre os 13 e os 16 anos.
São jovens com várias dificuldades, repetentes, a quem a escola ofereceu uma alternativa de ensino, como explicou à Lusa o diretor do curso Acácio Pradinhos.
Alguns acabam sempre por ficar pelo caminho, mas o balanço é de "dever cumprido" para este professor e para colegas de outras disciplinas que também colaboraram, tendo em conta que 90 por cento dos jovens concluíram o curso equivalente ao oitavo ano.
"No fundo, é uma das soluções encontradas para que estes meninos com um currículo diferente, com disciplinas diferentes, com toda uma metodologia diferente, encontrem prazer nas aulas, em estudar e não abandonem a escola", vincou.
Este curso fez Ana Lobato gostar mais da escola por ser uma "forma diferente de aprender".
"No curso aprende-se mais, no ensino normal só se aprende as disciplinas que são obrigatórias", concretizou.
O modelo é mais interessante também para Mariana Brandão, que ainda assim não passou a gostar mais de andar na escola, mas tem "aprendido outras formas de viver".
"Tenho visto a vida de outra maneira, eu antes de vir para este curso não sabia fazer teatro, não sabia representar, não sabia fazer um objeto e, desde que eu vim para aqui, eu aprendi muito e vejo a vida de maneira diferente ao fazer isto", expressou.
Não se vê como atriz ou artista, mas sempre disponível para participar em momentos como as recriações feitas hoje e que foram o culminar do que aprenderam e realizaram ao longo do curso.
Uma peça de teatro, jogos, uma exposição fizeram parte do programa que atraiu às instalações do Instituto Português da Juventude e do Desporto (IPDJ) miúdos e graúdos e até institucionais.
A vereadora da Cultura e Educação da Câmara de Bragança, Cristina Fernandes, não tem dúvidas de que este tipo de trabalho deve ser valorizado pela comunidade.
"São alunos que não têm muita autoestima e só à base de muito trabalho, muita motivação por parte de quem está à frente deste curso, eles conseguem realmente realizar um trabalho muito válido e têm realmente algo para mostrar basta é que se sejam motivados para isso", considerou.
Além de ajudar estes alunos no percurso escolar, o IPDJ ofereceu o palco para as diferentes expressões artísticas também para levar gente à zona histórica de Bragança, onde fica localizado, e dar a conhecer a estes jovens o que faz e o que lhes oferece para a ocupação de tempos livres, como apontou Cláudia Teixeira.
As atividades culminaram com teatro negro feito de códigos não verbais que ajudam à expressividade dos alunos sem o constrangimento do uso da fala, como explicou Acácio Pradinhos.
O objetivo é, no entanto que os jovens consigam transformar toda esta experiência em palavras e verbalizar o que fizeram no final do curso perante um júri.
Mariana ainda não elaborou o relatório que vai apresentar, mas da peça de teatro sem falas, em que também ela se vestiu de negro, apreendeu a mensagem: "basicamente é para dizer que o mal nunca ganha".
HFI // MSP
Lusa/fim
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