sábado, 31 de outubro de 2015

Gosto por esculpir abóboras transformou-se num novo negócio em Bragança

Um profissional da restauração de Bragança decidiu semear abóboras para apurar a arte da escultura em fruta e fez germinar um inesperado negócio com encomendas suficientes para registo da atividade nas Finanças.


Pedro Rodrigues é o autor das esculturas em abóboras que vão enfeitar a noite das Bruxas (Halloween), no fim de semana, em bares e discotecas da cidade transmontana e o que começou por ser uma experiência "tornou-se uma coisa séria" e teve de fazer registo de atividade em nome próprio para cobrar o número crescente de encomendas.

Três dias é o tempo necessário para esculpir 600 quilos de abóbora, já reservados para os clientes, e arrecadar "mais do que um salário mínimo".

Pedro não pretende "fazer disto vida", até porque está "muito bem" na casa onde sempre trabalhou e onde começou o gosto de esculpir fruta.

Há cerca de sete anos "houve uma vontade de inovar um bocadinho no trabalho" e foi um dos elementos que mostrou "alguma aptidão para o fazer".

Esculpir fruta para enfeitar mesas de banquetes "virou vício" e, como mora numa aldeia e tem horta, decidiu semear abóboras para treinar e para divulgar este trabalho de escultura.

De ano para ano, começou a procura pelas abóboras trabalhadas para o Dia das Bruxas e surgiu o novo negócio.

Planta "qualidades próprias para o corte, com casca mole para meter mais facilmente as facas", que tem de importar porque em Portugal não existem estes instrumentos, como contou.

Pedro Rodrigues garantiu à Lusa que consegue esculpir "quase tudo, desde botões de rosas a pássaros e dragões" nas mais variadas frutas.

"É um trabalho minucioso, demorado e tem de se ter paciência com o que se está a fazer, porque um golpe pode ser fatal e tem de ir para o lixo", realçou.

O gosto pela arte leva-o a procurar informação e inspiração noutras culturas como a tailandesa, que leciona nas escola a escultura em fruta.

Pedro sabe que as suas criações acabam comidas, no lixo ou para alimento dos animais da pocilga de um amigo. Porém não é o fim que lhe importa, mas a criação.

O que lhe é doloroso é saber que "há famílias portuguesas que passam fome" e que leva "aos baldes de 30 quilos de miolo de abóbora (para o lixo), o que daria para fazer sopa e doce, mas a vida é assim".

A abóbora trabalhada pode custar entre um a 30 euros ou "ser muito bem vendida" como perspetiva que irá acontecer com um exemplar de 40 quilos de que é proprietário.

Pedro Rodrigues criou um grupo fechado na rede social Facebook, com mais de 600 membros, muitos estrangeiros, que partilham entre si experiências e novidades.

"Andamos sempre com a faca afiada, sempre a picarmo-nos uns aos outros. Se um encontra uma novidade, partilha", brincou.

Em Portugal já existem algumas dezenas de escultores de fruta, pessoas ligadas principalmente à restauração e hotelaria.

Pedro sondou "cerca de 30" e cinco marcaram presença num encontro em que estão a mostrar as suas habilidades ao público da Norcastanha, Norcaça e Norpesa- Feira Internacional do Norte, que decorre até domingo, em Bragança.

Rui Pinto, de São Pedro do Sul, é rececionista num hotel, aprendeu a arte de esculpir fruta sozinho e faz para a casa onde trabalha.

"Os clientes apreciam", mas "ainda está pouco valorizada", na opinião de outro artista, Diamantino Sousa, que se deslocou de Espanha, onde é chefe de cozinha, para participar no evento em Bragança.

"As pessoas ainda não conhecem muito bem o trabalho que isto dá. Há peças que demoram três horas", afirmou à Lusa.



Na feira, têm tido sucesso, a avaliar pelas "pessoas que passam e ficam encantadas" com as formas que a fruta assume pela mão destes escultores.

HFI // MSP
Lusa/fim

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