Após quase trinta anos aberto, o restaurante Solar Bragançano continua a receber distinções, a mais recente é um sol do guia Repsol.
Quase a completar 30 anos de portas abertas, data que comemora no próximo mês de Agosto, o Solar Bragançano, no centro de Bragança, o reconhecimento continua a chegar, o mais recente foi na forma de sol do guia Repsol de 2016, depois de ter sido referenciado no guia Michelin durante 20 anos.
Mas houve também, ainda este mês, diversas referências em revistas como a Visão, o Diário de Notícias ou o Expresso.
Quando questionado sobre que o papel que tem desempenhado na promoção da gastronomia da região e da própria cidade, o proprietário do Solar, Desidério Rodrigues responde mostrando uma crítica gastronómica publicada no Jornal Expresso de 4 de Março de 1995 “pelo maior crítico de gastronomia português, José Quitério”.
“Perante estes factos não podemos inventar”, refere.
“Quando ele aqui veio já há anos que tínhamos esta ementa. O Solar Bragançano não é só uma referência na gastronomia de Bragança, mas a nível nacional”, considera perante as apreciações que são dirigidas ao restaurante.
Apesar disso frisa que a forma como reage a essas críticas é “ignorando-as” e preocupar-se “com aquilo que possa surgir amanhã”.
“São muito oxigénio para nós e ar fresco debaixo das nossas asas que nos permite continuar a voar”, assume o anfitrião do Solar.
A ementa é fixa e “tem tido algum êxito”, admite. Os produtos são o essencial no prato e os acompanhamentos são o que as estações do ano dão. “No Inverno, não vamos colocar no prato tomates e alfaces, que as hortas não nos dão de qualidade, mas temos as verduras, como grelos ou couve penca”, frisa.
“Há 30 anos era valorizado porque não havia tantos como agora e era a única alternativa, agora é valorizado porque continua a ser como era e os princípios que o regem ainda são os mesmos”, é assim que descreve o percurso.
O reconhecimento é, de acordo com Desidério Rodrigues, fruto “da honestidade da comida”. “Há um princípio que se deve ter na gastronomia local: é honestidade. Porque uma pessoa pode pensar que num momento ganhou muito com um determinado cliente e com o tempo isso torna-se prejudicial para nós”, afirma defendendo a ideia de que “um bife que foi mal preparado agora, já não tem correcção amanhã”.
O segredo pode passar pelo conceito de “comida honesta e de conforto”, característica que é indispensável ao homem.
A memória é, no entanto, usada também como um trunfo. “Sem memória, eu não teria elaborado esta ementa. Se não soubesse em pequeno qual o sabor das trutas do rio e de outros peixes, não tinha incluído esses pratos no menu”, revela.
Dá ainda o exemplo das alheiras de caça ou da sopa de castanha, que hoje estão muito em voga, e são pratos que estiveram sempre na ementa e que se mantêm há vários anos.
“As pessoas referem que tinham memória destes pratos da casa da avó ou da mãe, mas em restaurantes fomos os primeiros”, refere, não escondendo o orgulho no facto de o Solar Bragançano ter tido o papel de ser pioneiro no que diz respeito a “trazer para os restaurantes uma gastronomia que se fazia nas casas privadas e em conventos, mas não nas comerciais”.
Os produtos são tradicionais e a forma de os cozinhar não menos antiga, em potes de ferro na lareira ou em forno a lenha.
“Algum valor que é atribuído ao Solar Bragançano é pela forma como confecciona os seus pratos e pelo mínimo de qualidade que têm”, frisa.
Fiel às tradições
Desidério Rodrigues explica que o Solar Bragançano nasceu porque gostava de comer “minimamente bem e a única possibilidade para isso acontecer todos os dias era abrindo um restaurante”.
Antes disso teve uma breve incursão na área da aviação, cumprindo na força aérea o serviço militar, mas foi quando trabalhou na administração de uma Pousada de Portugal, altura em que lidou com vários tipos de clientes, entre eles estrangeiros, que pensou que aquele seria “o embrião de algo que viria a fazer”.
Mas aqueles para quem este tipo de cozinha não é tão familiar também reconhecem o valor da cozinha, acredita Desidério Rodrigues, que afirma receber clientes de toda a parte do mundo.
O cuidado com a decoração e o ambiente marcam também o espaço e a experiência. As mesas da sala logo à entrada estão cobertas com livros e a música clássica ouve-se de fundo. A decoração faz recordar casas antigas num dia de festa.
“A refeição que o cliente faz é muito diferente se a atmosfera for agradável ou não”, afirma.
Apesar de considerar que o restaurante se deve adaptar às novas tecnologias tenta ser fiel às tradições. “Temos de estar atentos ao evoluir dos tempos, mas não podemos deixar vir para a mesa vitelas feitas de bife de plástico”, afirma.
Hoje em dia, qualquer pessoa é um crítico gastronómico. “Com as novas tecnologias, o cliente pode estar sentado numa mesa e a avaliar a qualidade da comida e o serviço. Nestes tempos, é impossível ter uma casa aberta e enganar constantemente. Se usamos uma máscara com o cliente, ela pode-nos ser arrancada”, sustenta o proprietário do Solar, que entende que a cozinha regional e o conceito de produtos que lhe estão associados têm mais futuro do que os pratos elitistas.
Por: Olga Telo Cordeiro
in:jornalnordeste.com
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