Hoje comemora-se mais um dia de Reis, e, por Vale de Salgueiro, aldeia do concelho de Mirandela, a festa dos rapazes já começou, ontem, com a distribuição de tremoços e vinho pelo população.
Um jovem da aldeia foi escolhido para ser o Rei e organizar a festa, que tem ainda como originalidade o facto das crianças, excecionalmente, terem autorização dos pais para fumar cigarros.
Todos os anos, na festa dos rapazes, em honra de Santo Estêvão, é escolhida uma pessoa (tradicionalmente um homem novo), natural da localidade ou dela descendente, para encarnar a figura de um rei, ficando a seu cargo a organização da festa, que dura dois dias.
Este ano, o escolhido foi Agripino Caçador, um jovem de 24 anos que, apesar de não esconder a satisfação pelo cargo importante que desempenha, durante dois dias, confessa que é uma tarefa árdua.
No dia 5, ao fim da tarde, chega o grupo de gaiteiros e começa a festa com a primeira volta pela aldeia, a distribuir os tremoços e o vinho por todas as casas. Outro dado curioso desta tradição, é que também as crianças acompanham o Rei, fumando cigarros. Tomás de seis anos diz que fuma, “mas só hoje”.
Também Eduarda, com a mesma idade, tem autorização da família para fumar cigarros. Apesar de saber que “faz mal aos pulmões”, acredita que não faz mal porque “só são dois dias por ano”. “Eu adoro que os meus netos fumem, dia 5 e 6, porque depois não têm mais direito a fumar”, explica a avó das duas crianças, Rosa Hermenegilda, que acredita que “não apanham o vício de fumar”.
O bisavô das crianças, Eduardo Augusto, com 88 anos, recorda que também ele cumpriu essa tradição, no seu tempo de infância, e não foi por isso que ficou com o vício do tabaco. Eduardo também não sabe há quanto tempo se realiza esta tradição, mas conta que já o seu avô falava com entusiasmo desta festa.
Entretanto, no centro da aldeia prepara-se o baile com uma aparelhagem sonora e, quando o Rei chega, as pessoas presentes são convidadas a dançar a "Murinheira", (típica dos Celtas), uma dança vigorosa, um bailado guerreiro com um misto de cortesia. No dia 6, a alvorada acontece às seis e meia da manhã. O rei, ostentando uma coroa revestida a veludo e adornada de objectos em ouro, emprestado pelos habitantes, carregando um bastão, em madeira, com uma laranja incrustada, ao som das gaitas de foles e dos bombos, volta a percorrer a aldeia para receber a "manda" (donativos) para custear a despesa da festa.
A festa acaba com a celebração da missa, onde acontece a cerimónia de entronização e passagem do testemunho. O rei retira a coroa e coloca-a no novo “monarca” que vai organizar a festa em 2017.
Escrito por Terra Quente (CIR)
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