terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Escano

O Scano



Dormem os camponeses no teu regaço,

Ó scano de uma vida imorredoira.
Toca-se do teu canto a dobadoira,
Vai navegando tudo no teu espaço.


Saltam para ti felinos na noite fria

Tombam na cinza tamancos que o lume cresta.
Serves de abrigo aos torgos de urzes e giesta
E és berço de menino durante o dia.


Cai sobre ti uma tábua á refeição

Nela se poisam malgas de barro grosso,
De mãos erguidas rezam o pai-nosso,
Antes do caldo servir partem o pão…


E pela noite dentro, juntos na vida,

Rezam a oração  na despedida,
Uns elevam a vós ao sono resistindo,
Outros: - amém! - respondem, já dormindo.


Há sempre uma brasa viva na lareira,

Ficas tu e ela.
- Adeus meu scano lindo!


Abadim, 1959, de Abílio Bastos.



Os velhos escanos das nossas antigas lareiras são dos que mais histórias nos podiam contar e de terços rezados. O pai do Abílio, como não tinha «rosairo» para a reza servia-se do martelo para cada um dos mistérios e ao fim de cada dezena virava a face do mesmo.



Jorge Lage

in:atelier.arteazul.net

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