Por uma questão de honestidade intelectual, para que ninguém diga que me plagio a mim mesmo, começo por dizer que a ideia que de seguida exponho já a expressei noutro local, com outro propósito.
A maior promoção e valorização de Trás-os-Montes que algum dia se fez foi feita pela via da cultura e por um aldeão de São Martinho de Anta.
Um génio mágico que o mundo conhece como Miguel Torga que teve o raro condão de, por si só, transformar o agreste Trás-os-Montes num Reino Maravilhoso e de converter os rudes transmontanos em seres lendários.
As feiras de produtos regionais sucedem-se por todas as cidades, vilas e freguesias transmontanas mostrando que a Região possui preciosa diversidade e que os produtos que o agricultor transmontano com arte arranca à terra são, regra geral, de excelente qualidade.
A fórmula encontrada para os promover e vender, as ditas feiras que a um produto regional associam o nome de uma localidade, é óbvia e não merece grandes reparos nem grandes elogios.
Até ver, e na ausência de circuitos de processamento e comercialização mais elaborados e abrangentes, não haverá melhor expediente, para lá das feiras municipais e da venda que diariamente o comércio local protagoniza.
Importa ter em conta, todavia, que as potencialidades da Região não se esgotam nos produtos agrícolas, pecuários e seus derivados.
Trás-os-Montes, felizmente, é muito mais que enchidos, vinhos e azeites. Também possui potencialidades paisagísticas, ambientais, arqueológicas e históricas que poderão alavancar a ainda incipiente indústria turística.
Lamentavelmente a quase totalidade do rico património histórico e arqueológico rural continua esquecido e votado ao abandono, como é o caso chocante, no concelho de Mirandela, de Vale de Telhas, a “Pinetum” romana.
Organizar uma feira de produtos regionais sem contemplar uma sólida e digna componente cultural é redutor e contraproducente.
Não basta contratar um qualquer artista da chamada música pimba ainda que, esporadicamente, possa chamar um certo número de forasteiros.
Urge sim estabelecer mais dignos programas culturais associados às tradições mais genuínas. Tal introduzirá maior abrangência e eficácia aos certames, valorizando-se não só os produtos mas igualmente quem vive e trabalha na Região.
Só com gente válida se valoriza o território. Gente válida que é, necessariamente, culta e instruída.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico por vontade do seu autor.
Por Henrique Pedro
in:jornalnordeste.com
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(Henrique Martins)
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quarta-feira, 6 de abril de 2016
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