Nada combinado com antecedência.
O que faço de almoço? Mando vir um churrasco?
Acabei por aquecer um resto de arroz de pato. Uns picles a enfeitar, um tinto para animar e “bóra lá” a aproveitar os raios de sol.
De atleta, só mesmo o fato de treino. Adidas, não faço por menos. Adidas e que ao terceiro dia já tinha as calças rafadas e comprado no “xopping”. Paguei-o como se fosse dos bôs.
A velha, muito velha, Sony no bolso, e lá fui eu para onde o “GPS pernil” indicou.
Viagem curta. Encontrei o meu velho amigo R!
O meu velho amigo R, está a lutar contra aquele inimigo cobarde que só ataca os outros.
Acabou o meu passeio de domingo. Entrámos num café.
O meu querido R não tomou nada. Eu mandei vir a minha usual dose. Um café e um croft.
A nossa conversa prolongou-se por duas horas…
Ouvi, ouvi…ouvi e aprendi tanto.
A luta, o carinho das enfermeiras, a esperança, as hesitações, a humanidade…o que somos.
Pelo meio da conversa, caíram umas lágrimas…inevitáveis…dos olhos dele, quando recordava os primeiros tempos da marretada que levou na cabeça.
Os que “ainda” não temos, ou não sabemos que temos, a habitar connosco o inimigo cobarde, não sabem o “conforto” que se pode encontrar lá no “sítio” onde se vê a miséria humana.
Os laços que se constroem…
Uma coisa é…- ouvi dizer, outra bem diferente é…TU sabes o que eu sinto e EU sei o que tu sentes.
Novas amizades construídas na dor, na angústia, na esperança.
Despedimo-nos com ele a dizer-me que ainda queria beber umas valentes cervejas comigo.
E vamos beber amigo R!
Acendi um malfadado cigarro…
Depois de uns 5 quilómetros fiz uma pausa para meter "combustível…
Comprei duas raspadinhas, bebi uma cerveja , vamos para casa.
Pelo caminho...um “rapaz”.
Já por várias vezes me tinha pedido um cigarro.
Não me pergunteis por quê mas nunca lho dei.
O pedido foi surrealista.
- Desculpe…mas desta vez dá-me um cigarro?
Dei-lho e acabei por lhe dar o resto do maço.
Tens que fazer pela tua vida rapaz. Pede ajuda. Já pensaste em trabalhar?
- Já pedi mas quando entramos no raio dos vícios é difícil sair.
É difícil certamente, eu que também tenho vícios, sei bem.
Pergunta-me ele:
- Sabe que dia é hoje?
Respondi que sim, dia 24 de abril.
Pois, amanhã é dia 25 de abril…
Falou-me dos corruptos, dos políticos, dos banqueiros…
Eu disse-lhe que o 25 de abril precisa de TODOS!
Já viu como estou vestido?…
Estava, como sempre, mal arranjado...
Olha, queres que te dê umas camisas e uns casacos que já não visto e que estão como novos?
- Se mos der aceito.
Perguntei-lhe:
- Que idade tens?
43.
Onde vives?
- Na casa de um tio meu …que morreu em França.
Faz alguma coisa pela tua vida, pede ajuda.
Como te chamas?
- Alexandre.
Anda, vamos buscar a roupa.
Agora não, tenho que ir a…
Ok Alexandre, faz pela tua vida.
O Alexandre tinha que fazer, estava ocupado, estava na vida dele.
Fiquei a pensar…afinal ele só queria mesmo era um cigarro.
Cada vez mais acredito que quando a Santa Casa da Misericórdia diz, na publicidade aos jogos, que há horas de sorte…se refere ao termos SAÚDE, PAZ, FAMÍLIA E AMIGOS. E se não é a isso que se refere, não acredito NELES!
HM
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A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
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