segunda-feira, 23 de maio de 2016

III Entrar na Linha trouxe a circulação férrea de regresso a Cortiços

No sábado, 70 pessoas entraram, literalmente, na Linha do Tua, no troço junto à estação de Cortiços, no concelho de Macedo de Cavaleiros, para trabalhos de manutenção.
Foi o III Entrar na Linha, promovido pelo Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT). O percurso começou há 3 anos, em Carvalhais, no concelho de Mirandela, e desta vez a própria linha foi intervencionada, conforme explica Filipe Esperança, o presidente do Movimento.

“Estamos a fazer limpeza ao longo de todo o corredor ferroviário, a desmatação do canal.

Depois, começa a intervenção ferroviária, ou seja, vamos começar a verificar as travessas, fazer o aperto dos tirafundos e a lubrificação dos aparelhos de mudança de via. Tudo isto para que depois possa circular um pequeno veículo ferroviário, pela primeira vez em 25 anos, depois do encerramento, em 1991.”

A dresine, percorreu cerca de um quilómetro de linha, e marcou o regresso simbólico da circulação na Linha do Tua.

Os responsáveis pelo equipamento, que tem 9 lugares e um motor, fazem parte do grupo Brave Ones. Depois de uma caminhada na Linha do Douro, surgiu a ideia, que tem vindo a ser melhorada.

Bruno Soares: Isto funciona de uma forma relativamente simples. Nós fomos melhorando as versões da dresine. Esta é a sexta. Em cada versão temos o cuidado de melhorar o processo de montagem, para ser mais rápido e estável, para as nossas aventuras.

José Costa: É uma dresine de fabrico artesanal. A primeira era a pedal, depois era montada e desmontada no próprio dia, peça a peça.

O regresso foi, pois, simbólico, mas Filipe Esperança lembra que, mesmo com a Barragem de Foz Tua a funcionar, sobram 80 quilómetros de via estreita, entre Mirandela e Bragança.

“Nesses 80 quilómetros temos muitas aldeias que perderam população. O povo perdeu acessibilidades. Regra geral, a densidade população é cada vez mais envelhecida, os jovens não ficam nos seus locais. Obviamente que o comboio não é o principal motivo, mas é, sem dúvida, um ponto chave para podermos dar a volta a esta situação.

A Linha do Tua passava por 34 aldeia e 3 cidades, e acreditamos que esta via pode ter uma importância social muito grande, e fazer com que as pessoas cá fiquem.”

Alguns dos cerca de 5 quilómetros intervencionados estavam intransitável, mesmo a pé, depois de o mato ter invadido por completo a linha. O que não demoveu os participantes.

José Pinto: Temos estado a cortar a vegetação que entretanto cresceu aqui nesta reta, para se poder usar a dresine, neste troço de via. Isto já não é mantido à dezenas de anos, parece-me normal estar obstruído. No entanto, há uma pior obstrução “lá em baixo”, que é a barragem, e essa daria mais trabalho a tirar.

Eduardo Silva: Fico muito satisfeito por ver que isto está a acontecer desta forma, e que está a dinamizar a zona. De certa forma também a mostrar à população que eles também podem ter culpa por isto não estar mais ativo, porque os participantes quase todos vêm de longe. Estamos aqui a mostrar que a via férrea é viável.


Aníbal Gonçalves: Sou um defensor da manutenção da linha férrea completa, apesar de neste momento ser quase uma utopia. Mas, a esperança é a última a morrer. Continuo a acreditar que ainda é possível preservar o Vale do Tua e a Linha do Tua.

A atividade foi inserida nas comemorações do 10º aniversário do movimento. Este foi o ano com mais participantes. O MCLT promete continuar a iniciativa, e levá-la até ao fim da linha, em Bragança, e espera em edições futuras conseguir captar mais participantes oriundos da região.

Escrito por ONDA LIVRE

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