Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

MEMÓRIAS ORAIS // Ernesto Sendim

"Senhor Sendim, era pra cortar o cabelo se faz favor."
É barbeiro desde que se lembra. Aprendeu com o mestre da arte, o seu pai, num tempo em que os pagamentos eram feitos em alqueires de trigo. “O meu pai trabalhava de pedreiro e à noite vinha prá qui prá barbearia a trabalhar, a ganhar mais algum dinheirinho (...) fui prá escola, tinha 11 anos e o meu pai obrigava-me a vir prá qui pró pé dele, ele depois regressava do trabalho, às cinco horas eu tinha que lhe ter a porta aberta, (...), os meus colegas a brincar eu estava com aquela vontade de ir prá brincadeira mas ele não me deixava [não filho tens que estar aqui que é pra ires aprendendo a arte prá amanhã ou depois te arranjares com ela pra ganhares dinheiro como eu] ”. 
Ernesto Sendim não foi só barbeiro, na escola andava como que “incomodado com os estudos” e queria era trabalhar, quis ser trolha. Aos 13 anos já trabalhava na construção e aos 18 começou por conta própria. Nunca deixou de ajudar o pai na barbearia até que ingressou no serviço militar, “fiquei apurado depois fui tirar a recruta ao R12 na cidade da Guarda, Regimento de Infantaria 12 e depois cada vez que vinha cá de licença lá vinha a ajudar o velhote porque eu antes de ir já sabia trabalhar, já fazia umas barbitas , uns cabelitos e tal e ele quando eu vinha cá de licença um fim de semana ou assim dava-me a cadeira pra eu trabalhar”. Na barbearia ainda mantém a primeira cadeira de trabalho que o seu pai teve. 
Depois de ter sido mobilizado para a Guiné regressou a Freixo, o seu pai entretanto falecera e Ernesto voltou para a construção porque o dinheiro da barbearia era pouco, “continuava a trabalhar na construção porque isto aqui não dava eu não podia estar aqui todo o dia a trabalhar porque eu não tirava sequer ao menos pra pagar a luz”. A pequena empresa de construção que tinha é que lhe permitia ter uma vida menos desafogada onde essencialmente trabalhava na construção das casas dos emigrantes. Porém o trabalho na construção começou a faltar “não havia obras e então fui trabalhar e ainda andei lá 4 ou 5 dias ali ao ferro e pá, a bacelar, as mãos rebentaram-me todas porque não estava habituado, a minha vida não era aquela mas tinha que me sujeitar pra poder ganhar algum era mesmo assim”. Em pouco tempo, com a ajuda de um irmão seu estabelece-se definitivamente na barbearia, “ tinha um irmão Padre que estava no Oriente, em Singapura, a fotografia dele até está além e foi ele que conversou comigo, veio cá [oh Ernesto tu já vais caminhando prá idade vê lá ver se tens outras ideias, eu ajudo-te, ficas aqui a trabalhar, ganhes 5, ganhes 10 ,ganhes o que ganhares tu é que és o patrão]”. Começou a ser patrão no início dos anos 80 assumindo-se como barbeiro de profissão e já depois de reformado nunca largou a arte. 


Na “Barbearia Sendim”, um dos estabelecimentos comerciais mais antigos de Freixo de Espada à Cinta, o senhor Ernesto continua a trabalhar, agora mais contido, mas fazendo perdurar a importância da existência do comércio tradicional.

Texto: Joana Vargas

Sem comentários:

Enviar um comentário