A coincidência de campeonatos de chegas de touros em Vinhais e Bragança pode prejudicar os participantes e o público interessado em assistir a este tipo de provas. Esta é a opinião de Carlos Silva, responsável da empresa municipal de Vinhais Proruris, que há oito anos organiza o Campeonato Nacional de Chegas de Touros de Raça Mirandesa.
O sorteio da edição deste ano decorreu na passada terça-feira e o campeonato começa a 10 de Julho e prolonga-se até 14 de Agosto, com provas todos os domingos às 18 horas.
Pela primeira vez, a iniciativa coincide com outro campeonato que envolve touros de raça mirandesa. Trata-se do Campeonato Chega de Touros Mirandeses e Cruzados, que começou em Maio, em Bragança e tem ainda agendadas provas nos dias 3 e 10 de Julho e 7 e 21 de Agosto.
Carlos Silva salienta que o campeonato de Vinhais é o único que promove exclusivamente a raça mirandesa, criticando, no entanto, a sobreposição de campeonatos. “O único campeonato nacional de touros de raça mirandesa é o de Vinhais e já existe há oito anos. Não fomos consultados para nada e, certamente, poderíamos ter dado uma opinião e as coisas podiam ser diferentes. Com esta situação eu julgo que quem está a perder são os criadores e os amantes desta tradição que poderão ter que optar por um lado ou por outro”, considera o responsável.
Carlos Silva vai mais longe ao considerar que Bragança copiou o evento de Vinhais mas garante que o campeonato nacional está em boa forma e até tem mais um animal em competição do que no ano passado. “Normalmente, uma cópia é sempre muito pior do que o original e, infelizmente, é a isso que estamos a assistir. Tudo o que foi feito em Vinhais, foi quase tudo plagiado, e é pena. Mas o futuro dirá quem está a fazer as coisas melhor ou pior. A prova de que o nosso campeonato está mais que vivo é o facto de termos aumentado um animal, em relação ao ano anterior”, reforçou.
Carlos Silva destaca ainda o contributo que o Campeonato Nacional tem dado para a promoção da raça mirandesa, tendo-se assistido a um crescimento do número de efectivos, que ainda não é suficiente para a procura. “Temos assistido a um crescimento da procura e da valorização desta carne. Temos também verificado que a procura é muito superior à oferta. Há, neste momento, mercado para mais 500 a 600 fêmeas reprodutoras no solar. Só faz sentido apoiar esta raça, não faz sentido apoiar qualquer raça cruzada porque isso seria empurrar o agricultor para dificuldades extremas”, acrescentou o responsável da Proruris.
Em Bragança, o Campeonato de Chegas de Touros é organizado pelos Serviços Sociais do Pessoal da Câmara Municipal. Contactado, o presidente do Município, Hernâni Dias, não quis comentar esta sobreposição de campeonatos que envolvem animais de raça mirandesa.
Já os criadores que participam no Campeonato Nacional, não faltaram ao sorteio. E há alguns que mantêm os animais só para participar nas chegas. “Concorremos porque gostamos. Quando os animais vão para o matadouro são mal pagos, a um preço muito baixo e, às vezes, em vida, custam um balúrdio. Há bois a serem vendidos a 3, 4 ou 5 mil euros”, contou Manuel Carvalho de Mofreita, Vinhais.
“Se o boi for campeão pode-se vender por muito dinheiro”, referiu Leonel Alves, de Passos de Lomba, no concelho de Vinhais.
Já Manuel Afonso, de Carragosa, Bragança, acrescentou que participa “mais pelo vicio do que pelo dinheiro que se ganha”.
Este ano, o Campeonato Nacional de Chegas de Touros de Raça mirandesa conta com a participação de 28 animais, 15 deles com mais de 5 anos.
Sara Geraldes
Escrito por Brigantia
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