Uma vez três amigos souberam que estava uma moura encantada no fundo de um poço [em Rio de Onor, concelho de Bragança] e resolveram ir desencantá-la. O primeiro desceu num cesto, mas a certa altura era tal a escuridão que ele tocou a campainha e os outros puxaram-no cá para fora. O segundo foi mais fundo, mas eram tantos os mosquitos que ele também tocou e foi içado. O terceiro disse que se tocasse era para o descerem ainda mais. Quando ia a meio viu-se muito aflito, mas por mais que tocasse, os outros iam-no sempre descendo.
Por fim, chegou ao fundo e encontrou uma linda moura encantada, que lhe disse:
– Ó homem, tu que fizeste? Tu estás perdido! O diabo é quem me guarda, e ele vem aí já e mata-te! Olha, ele vai desafiar-te para um duelo e mostrar-te espadas muito lindas e uma feia. As lindas são de vidro e tu deves pegar na outra.
Assim sucedeu. O diabo apareceu e, cheio de fúria, desafiou o homem para um duelo. O homem pegou na espada ferrugenta que era a de ferro, enquanto que o diabo teve de ficar com a de vidro. Vai o homem e zás, cortou uma orelha ao diabo, que deu um berro e deitou a fugir. A moura ficou toda contente e disse:
– Bem, já estamos livres dele, agora somos livres!
Mas o homem não sabia o que havia de fazer. Então a moura disse:
– Tu tens aí a orelha dele e desde que a mordas tens tudo quanto queiras.
O homem mordeu a ponta da orelha e logo lhe apareceu o diabo a perguntar o que é que ele queria. Ele disse que queria que os tirasse dali para fora. Logo baixaram o cesto os companheiros e a moura subiu. Mas mal esta chegou lá acima, estes ficaram com ela e deixaram o companheiro sozinho no fundo do poço.
obs)* Jorge Dias acrescenta ao texto a indicação de que “a história devia ter continuação, mas [os informantes, não indicados] não sabiam mais”.
Fonte: DIAS, Jorge – Rio de Onor – Comunitarismo Agro-Pastoril,
Lisboa, Ed. Presença, s/d, p.172.
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