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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Henrique José dos Santos Cardoso

Nasceu em Santa Comba, concelho de Vila Flor, a 21 de Abril de 1842 e faleceu na cidade do Porto em 1899; filho de João José dos Santos Cardoso e D. Teresa de Jesus, proprietários, naturais de Castro, concelho de Chaves (124). Viveu no Porto antes da revolta de 31 de Janeiro de 1891, e depois em Lisboa donde foi a águas para Vizela já doente e lá faleceu. Foi a figura principal daquele movimento. Era o braço direito de Alves da Veiga. Estas asserções são do promotor da justiça no seu julgamento e do depoimento da testemunha, tenente Homem Cristo. Ver O Primeiro de Janeiro de 1891.
Foi redactor e fundador de A Justiça Portuguesa. Parece que Santos Cardoso, filho de pais pouco abastados, exerceu a profissão de barbeiro na sua terra natal, nos seus princípios antes de ir para o Porto.
Escreveu: Verdades de Sangue, com dois juízos críticos pelos Ex.mos Srs. Drs. Alves da Veiga e Pedro Amorim Viana. Porto, Tip. Ocidental, 1877. 8.° pequeno de XXXV-92 págs., uma de índice e outra de erratas. Traz o retrato do autor. O segundo vol. desta obra intitulou-se: Verdades de Sangue – Escândalo Bancário, história dos acontecimentos da crise monetária e bancária de 1875 a 1877. Porto, Tip. de Alexandre da Fonseca Vasconcelos, 1878. 8.° pequeno de XIV-128 págs. No fim promete ainda um 3.° vol. que não vi. É uma obra de combate, que tem a rara coragem de estigmatizar a corrupção duma sociedade opressora em linguagem cortante, vibrante de indignação, despida de considerações pessoais, dura como a rocha trasmontana, inflexível como o roble das nossas serras. Vítor Hugo, Emílio Castelar e Garibaldi elogiaram-na.
A hercúlea corpulência de Santos Cardoso, as suas barbas infinitamente compridas, o seu grosso bengalão e, sobretudo, a virulência dos seus escritos, trouxeram por muito tempo aterrada a cidade do Porto, donde provieram depois as referências azedas que lhe fizeram quando preso nos conselhos de guerra.
Em Os Acontecimentos de 31 de Janeiro e a minha prisão, por Francisco Homem Cristo, Lisboa, 1891, diz este escritor, apreciando Santos Cardoso e Alves da Veiga, dois bragançanos, figuras primaciais na revolta de 31 de Janeiro:
«Santos Cardoso..... possuia uma reputação de tal ordem, que eu julgava indigno de mim apertar a mão de tal homem (pág. 80...). O Alves da Veiga é outro homem.Mas tambem não gosa, ultimamente,de grande credito, que em todo o caso, não tem dado provas, nestas coisas, de maior senso pratico do que Santos Cardoso» (pág. 81...).
Na pág. 84 descrevendo Santos Cardoso diz: «Eu nunca tinha visto o homem.Mas a figura não desmereceu o conceito. Um cabo d’esquadra de boa raça, dos de velhas tradicções. Bruto como todos elles, grosso, alentado, ensoberbecido da grande pera e da voz de trovão que possuia, e pela pera e pela voz aquilatando o mundo».
«..... Os trabalhos republicanos de Alves da Veiga nada valeram e que apenas se reduziram á triste acquisição d’uns pobres lunaticos, muito boas pessoas, mas de fraco juizo (pág. 91...). Alves da Veiga, todavia, ou pela indole sebastianista de esperar todos os dias a salvação da patria d’um acaso, ou por uma leviandade sem limites, ou porque o movesse um grande interesse pessoal, ou por tudo junto, contava, contava sempre com tudo e com todos (pág. 95...). Pois um homem que, como Alves da Veiga, tão facilmente acreditou em tudo, que, com tanta simplicidade, deixou de contar com as terriveis contigencias de negocios tão graves, que, tão ingenuamente, confiou nas pataratices dos barbeiros, dos bachareis insignificantes, dos estudantes exaltados e sargentos ambiciosos..... pois Alves da Veiga pode ser, porventura, tomado a serio como homem politico e chefe revolucionario?
De maneira nenhuma (pág. 111...). Santos Cardoso e Alves da Veiga, que tanto impunham d’arrojados e decedidos nos preleminares d’aquella triste aventura, foram durante ella, d’uma fraqueza extrema. Na vespora da revolta, tanto um como o outro andavam, por assim dizer, desvairados.
Faltou-lhe completamente o pouco tino que lhes restava. E d’esse pavor proveio toda a reluctancia que á ultima hora experimentaram (pág. 113...). A conduta de Santos Cardoso (durante a prisão e processo) essa então, sob todos os pontos de vista, foi o cumulo da desfarçatez e da vergonha.
Não houve expediente de que aquelle homem não se soccorresse para se libertar de culpas. Ajoelhava aos pés do commissario geral de policia, beijava-o, abraçava-o, pedindo que lhe valesse. Negava terminantemente que houvesse alliciado sargentos, ou de qualquer forma preparado a revolta. Forjava a toda a hora planos de evasão, tão falhos de tino como os seus planos revolucionarios..... Não conseguindo os seus fins por esse meio, promettia, invocando um artigo do Codigo Penal que aproveita aos denunciantes, dizer tudo se o posessem na fronteira. E tudo teria denunciado se o commissario de policia, talvez para evitar compromettimentos escusados, se não apressasse a declarar-lhe que o tal artigo lhe não aproveitava. Não obstante algumas denuncias fez alem da minha (pág. 167...). Alves da Veiga e Santos Cardoso, segundo as confissões mais unanimes dos presos mais involvidos nos mysterios da conspiração, assustaram-se com a obra no momento de a executar. Ao mesmo tempo que pareciam confiar, em absoluto, no successo feliz dos trabalhos, andavam cheios de medo e de pavor.
Ambos mostraram a maior imcompetencia na hora solemne.Alves da Veiga desde a manhã de 30 que não sabia o que fazia. Nada dispoz nada previu.....
Alves da Veiga tudo abandonou. Consultado não sabia responder. Instigado a proceder, ficava-se tresloucado, meio tonto, sem ouvir muitas vezes o que lhe diziam (pág. 184...).
Pelas leviandades de Alves da Veiga, leviandades que esmagam a vida politica deste homem (pág. 194...)». Nas págs. 198, 199 e seguintes apresenta Alves da Veiga e Santos Cardoso ridículos após o desastre.
«Mais tarde, um dos meus collegas no Directorio, correspondeu a essa lealdade, comprimentando affectuosamente Santos Cardoso no “Vasco da Gama”, nas minhas próprias barbas, quando o Directorio visitava oficialmente os presos politicos, dignos de consideração, que tinham chegado ao Tejo (pág. 217...)».
Tanto era o rancor, que nem tolerava que outros pensassem diversamente!!!
É que atribuía a Santos Cardoso a denúncia para ele ser preso (pág. 60) e pensava que este e Alves da Veiga lhe moviam guerra sem tréguas (pág. 92, inde irae!).
Toda a gente sabe que Homem Cristo tem passado a vida a dizer mal de meio mundo e a ameaçar a outra metade; com razão ou sem ela? Pouco importa; a biliosa soberbia que o tortura é que manda, agora, porém, lá lhe escapou o motivo – eram seus inimigos – e até talvez o das arremetidas contra o resto da humanidade, que supõe igualmente sua inimiga, pois, na pág. 221, declara que quando foi absolvido (ele Homem Cristo), em quase todos os centros republicanos se exclamava: «Que pena aquele maroto não ter ido para a Africa!».
Noutra parte diz: «Ora eu era revolucionário, era trabalhador e energico, mas, sem ter nenhuma qualidade intelectual, não era precisamente tolo». Fica-lhe bem esta confissão. Tolos eram só os outros: se trabalha vam como Alves da Veiga e Santos Cardoso, era ineptamente, imprevidentemente; se não trabalhavam, como Elias Garcia, não estavam à altura da missão que se lhes confiou! Foi bom declarar que não era tolo, pois, a fazer juízo pelo seu livro, todos os mais aliam a esse predicado o de ingénuos, simplórios, levianos, imprevidentes, velhacos, ladrões, brutos e imorais...
Santos Cardoso foi preso em consequência da revolta de 31 de Janeiro, julgado nos tribunais marciais de Leixões e condenado a prisão maior celular por quatro anos, seguida de degredo, que não cumpriu integralmente por ser amnistiado. O seu retrato e biografia encontram-se na Enciclopédia Portuguesa, do doutor Maximiano de Lemos.

(124) O Portugal: Dicionário histórico, artigo «Santos Cardoso», diz que nasceu em 1842 e que faleceu em Vizela a 5 de Agosto de 1899.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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