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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 18 de dezembro de 2016

'Buonos dies'. Aqui fala-se Mirandês, a língua dos avós e das crianças

Na terra onde se fala diferente, o Mirandês aprende-se desde tenra idade. No Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, a língua mirandesa é lecionada desde o pré-escolar até ao secundário. O bom dia dá lugar aos ‘buonos dies’ e as escadas são chamadas de ‘scaleiras’.
‘Buonos dies, porsor’, ouve-se à chegada de Emílio Martins à Escola Básica de Palaçoulo. Aqui, todos os alunos aderem à disciplina opcional que, mais do que pô-los a falar Mirandês no dia a dia, os faz compreender que “são detentores de uma cultura diferente” e que “são oriundos de uma terra com características peculiares”.

“O objetivo das aulas de Mirandês e fazer com que os miúdos compreendam que possuímos uma identidade própria que vem de há várias gerações e que temos algo que mais ninguém tem. As crianças reconhecem-no e dizem frequentemente: ‘É assim que fala o meu avô’”, contou ao Notícias ao Minuto Emílio Martins, docente da disciplina há nove anos e um dos cerca de oito mil falantes da segunda língua oficial de Portugal.

No concelho, são cerca de 300 os estudantes que frequentam a disciplina opcional de língua mirandesa. Esta é lecionada exclusivamente no Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro desde 1986, quando o Mirandês era ainda considerado um dialeto. Só em 1999 se oficializou o estatuto de segunda língua e a disciplina chegou a todos os anos letivos.

Não deixar que a língua dos avós caia no esquecimento

Sem manuais escolares e dispondo de uma carga horária semanal de 1h30 no primeiro ciclo e de 45 minutos nos restantes, os professores recorrem a ferramentas lúdicas para lecionar a língua. Começam pelas sopas de letras, pequenos diálogos e até jogos tradicionais, e partem, mais tarde, para as peças de teatro e fichas de trabalho.

Para Emílio Martins, lecionar Mirandês é, mais do que um ofício, uma oportunidade para se divertir. Há cerca de quatro anos, começou a brincar com a língua e apostou numa rubrica a que deu o nome de ‘Mirandês for Kids’. Vestido de criança, faz da paisagem do Nordeste Transmontano o cenário para vídeos humorísticos e didáticos, que partilha no Facebook e YouTube e que se multiplicam em visualizações.

“Comecei sozinho, por carolice, a fazer vídeos de humor com personagens associadas à vida quotidiana mirandesa. Depois resolvi fazer vídeos com as crianças, porque na escola não temos muitas ferramentas didáticas para lecionar a língua mirandesa. Existe literatura muito rica, mas não existem manuais escolares”, explicou Emílio Pica, como é conhecido no concelho por ter integrado o primeiro grupo de rock em Mirandês, os Picä Tumilho.

Também nas aulas, a música é uma constante, especialmente quando se fala do primeiro ciclo de ensino. Para atrair a atenção dos alunos e provar que a língua falada pelo avós se moderniza, adaptam-se até temas dos AC/DC. Até porque ao rock já o professor Emílio está habituado.

You bien sei | Que tu simpre fuste bun rapaç | Quires tirar | Bunas notas i nun sós capaç | I tu mai | Contra ti yá parece un tormento | Probiu-te | La net i tamin la Nintendo | Se quejires passar! Ah Ah | Bás tener que t'agarrar | Por esso faç cumo you men | Bai studar iéeh ieeh | Bai studar iee ieeeh | Bai studar iéeeh ieeeh iéeeh | Bai studar iee ehh

A língua que faz de Miranda do Douro um concelho "diferente"

Não é só no Agrupamento de Escolas que o Mirandês é considerado um estandarte. Na Câmara Municipal de Miranda do Douro, os convites dirigidos aos habitantes do concelho são escritos em língua mirandesa. E até um olhar pela toponímia permite concluir que as terras de Miranda do Douro têm algo de diferente. Os nomes das localidades e das artérias surgem escritas em mirandês. Nada que surpreenda os habitantes locais, habituados a uma forma de falar que vem de há várias gerações.

Para os amantes do Mirandês e até para quem, apesar de distante, tem curiosidade pela língua, foi criado um tradutor de Português-Mirandês e um dicionário que deixa confuso qualquer pessoa que de Trás-os-Montes conheça pouco.

Ficou curioso? Deixamos-lhe, então, duas sugestões de leitura. Ls Lusíadas an Mirandês e Asterix L Goulés – Mirandês, traduzidos por Amadeu Ferreira, um dos maiores divulgadores e estudiosos da língua.

POR: GORETI PERA

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