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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 4 de dezembro de 2016

José Francisco Trindade Coelho

Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde concluiu a sua formatura em 1885. Nasceu no Mogadouro a 18 de Junho de 1861, sendo filho de João Trindade, comerciante.
Suicidou-se em Lisboa a 9 de Agosto de 1908, parece que por desgostos políticos. Um ano antes havia ele pedido a demissão do cargo de procurador régio, como protesto contra a ditadura de João Franco e um pouco, também, para captar as fáceis lisonjas que a imprensa exaltada teceria à sua isenção de proceder, isenção que, explorada para os efeitos de combate de alguns dias, logo foi esquecida, deixando-se entregue aos próprios recursos quem tão custosamente comprara essa fementida aura popular. A esta fase política correspondeu na ordem moral o que o levou a produzir o Manual Político do Cidadão Português. Entrou na magistratura, sendo em 1886 nomeado delegado da comarca do Sabugal, graças à interferência do grande escritor Camilo Castelo Branco que, sem o conhecer pessoalmente, pediu ao ministro o seu despacho, tanto, já então, lhe apraziam as suas qualidades literárias.
Foi transferido para Portalegre por decreto de 9 de Abril desse ano e depois para Ovar por decreto de 19 de Fevereiro de 1890; nomeado para exercer as funções do Ministério Público perante o juiz auxiliar do 2.° distrito criminal da comarca de Lisboa por decreto de 20 de Setembro seguinte. Extinto este tribunal, por decreto de 15 de Setembro de 1892,
ficou adido à magistratura do Ministério Público.
Por decreto do Ministério da Fazenda de 16 de Março de 1893 foi encarregado de exercer provisoriamente as funções de agente do Ministério Público nos processos de execuções fiscais administrativas do 1.° bairro de Lisboa.
Nomeado delegado do procurador régio na comarca de Sintra, por decreto de 25 de Abril de 1895, foi transferido depois para a 3.ª vara da comarca de Lisboa, por decreto de 31 de Outubro do referido ano (149).
O seu retrato vem na 3.ª edição de Os Meus Amores, e também em O Recreio, número correspondente a 8 de Janeiro de 1894, acompanhado de alguns dados biográficos, e no Portugal – Dicionário histórico, artigo «Trindade Coelho» acompanhado de notas biográficas.
A resenha das obras deste ilustre bragançano, honra da nossa terra, é numerosa. Eis as de que temos notícia:
Os Meus Amores. Contos e Baladas. 3.ª edição muito aumentada. Paris, Livraria Aillaud & C.ª, 1901. 4.° de 423 págs. compreendendo as apreciações de diversos críticos feitas à obra. É um monumento literário eminentemente nacional, o que é raro encontrar-se na nossa estrangeirada literatura.
As tradições do distrito de Bragança, o modo de ser psicológico e etnográfico de seus habitantes, que são os amores do autor, constituem o assunto da obra, superior, talvez, em seu género a todas as da península.
Acha-se traduzida em espanhol e francês.
Mãe. Um conto, edição em benefício dos pobres.
Campo de Flores, por João de Deus. Exame da chamada edição autêntica e definitiva, com Alfredo Cunha.
Dezoito anos em África – Notas e documentos para a biografia do conselheiro José de Almeida. Lisboa, 1898. 8.° de XIV-539 págs. e retrato de José de Almeida. Saiu anónimo.
Recursos em Processo Criminal das decisões finais e das interlocutórias. 2.ª edição, aumentada do livro «Recursos Finais em Processo Criminal». Coimbra, 1901. 1 vol. 8.° Incidentes em Processo Civil – Explicação prática dos artigos 292.° a 356.° do Código do Processo Civil, seguido de um formulário. 300 págs. Paris, Livraria Aillaud & C.ª, 1903. 1 vol. 8.° Lisboa.
Anotações ao Código Penal e à Legislação Penal em vigor, compreendendo os casos julgados e os artigos doutrinários que depois da nova reforma penal de 14 de Junho de 1884 figuram em todos os jornais jurídicos do país. Lisboa, Empresa da História de Portugal, 1903. 8.° de 517 págs.
Código do Processo Penal (proposta e relatório) com o conselheiro Francisco Maria Veiga. Apresentado à Câmara dos Deputados na sessão de 6 de Março de 1899.
Regulamento do Ministério Público (por incumbência e em poder do Governo).
Direito Romano – Resumo das doutrinas de Waldeck.
Roteiro dos processos especiais – Exposição prática dos artigos 406.° a 776.° do Código do Processo Civil. Em apêndice: Os decretos sobre acções de pequeno valor e despejo dos prédios rústicos e urbanos. Coimbra, 1907. 1 vol. 8.°
O Marquês de Pombal – Discurso proferido no comício antijesuítico no Teatro Académico de Coimbra no dia 7 de Maio de 1882.
À beira da campa de António de Pina Calado, terceiranista de direito (discurso).
Parábola dos sete vimes na qual figura um pai com seus sete filhos seguida de conselhos úteis. Lisboa, Livraria Moderna,1900. 4.° de 11 págs. Este opúsculo é o primeiro duma série de «Folhetos para o Povo» escritos pelo autor no intuito altamente humanitário e patriótico de ilustrar os seus conterrâneos do distrito de Bragança, fazendo-os entrar no conhecimento dos seus interesses e modo de os realizar.
Rimas à Nossa Terra – Versos oferecidos aos que foram vereadores da Câmara Municipal de Mogadouro, extinta por decreto de 12 de Novembro de 1900. É o segundo da série.
Remédio contra a Usura ou Conselhos aos habitantes de Mogadouro para que fundem uma Caixa Económica. Lisboa, Livraria Moderna, Editora, 1901. 19 págs. É o terceiro da série.
Loas à Cidade de Bragança para que não entregue o seu mando senão aos seus filhos. Lisboa, Livraria Moderna, Editora. 7 págs. Todos estes folhetos eram distribuídos gratuitamente pelo benemérito autor.
Cartilha do Povo ou Breve compêndio dos seus direitos e obrigações para uso dos habitantes do concelho de Mogadouro e de todo o distrito de Bragança.
Livraria Aillaud & C.ª, Paris-Lisboa, 1901. 16.° de 31 págs.
A Minha Candidatura por Mogadouro (Costumes Políticos em Portugal).
Lisboa, Tip. A. de Mendonça, 1901. 8.° de 134 págs. e mais 3 inumeradas.
A Cartilha Maternal e a Crítica, por João de Deus. (Prefácio).
Toireiros e Toiradas, por José Pampilho. (Prefácio).
Pécheur d’Island, de Pierre Loti. (Tradução).
In illo tempore, Estudantes, Lentes e Futricas. Paris-Lisboa, 1902. 8.° de 422 págs. com 97 fotogravuras. É um primoroso livro material e intelectualmente bem feito, onde a vida académica de Coimbra se encontra belamente retratada na enérgica prosa dum artista de génio. Os desenhos das estampas são de António Augusto Gonçalves e representam plantas e vistas de Coimbra, tipos de habitantes, usanças, costumes e trajes da Universidade e objectos que lhe dizem respeito.
Referente a este livro apareceu: «Notas críticas ao “In illo tempore” de Trindade Coelho», por J. de M. F. F. N. Porto, 1910. 76 págs.
O Senhor Sete – Tradições populares da terra do autor (em via de preparação).
As Terras de Bragança (em preparação).
Liberdade de Imprensa – Proposições apresentadas ao Congresso da União Internacional de Direito Penal.
Estatutos da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras de Lisboa.
Lei de 21 de Julho de 1899 – Sobre editores de jornais e respectivo relatório.
Manual Público do Cidadão Português. 1906. A primeira edição esgotou-se logo e na seguinte traz o título: «Manual Político do Cidadão Português», 2.ª edição actualizada e muito aumentada, prefácio de Alberto de Oliveira, ministro de Portugal na Suíça. Porto, Tip. a vapor da Empresa Literária e Tipográfica, 1908. 8.° de XVI-720 págs.
Este livro provocou «À Cabra Cega» em lugar de um livro por um homem atarefado demais para o fazer, crítica alegre ao cartapácio «Manual Político» do sr. doutor Trindade Coelho, por Venceslau Policarpo Banana, pseudónimo do doutor Artur Bivar. Guarda, Casa Editora Católica «Veritas», 1906. 8.° peq. de 122 págs. e uma inumerada.
Fundou os seguintes jornais: A Porta Férrea, de Coimbra; Panorama contemporâneo, idem; Correspondência de Portalegre, de Portalegre; Gazeta de Portalegre, idem; Revista Nova, de Lisboa (com Alfredo da Cunha); A Tribuna, de Lisboa (com Pires Avelanoso e Silva Cordeiro); Revista de Direito e Jurisprudência, de Lisboa (com o doutor Francisco Maria Veiga); Boletim Parlamentar do Distrito de Bragança, de Lisboa. Era mensal e saía nos primeiros dias de cada mês. Começou em Fevereiro de 1901. Tinha por fim referir tudo quanto os deputados pelo distrito de Bragança fizessem no Parlamento a favor do nosso distrito, emolando-os assim a tratarem a valer das nossas coisas.
Teve redacção literária efectiva nos seguintes: O Progressista, de Coimbra; O Imparcial de Coimbra, idem; O Portugal, de Lisboa; O Repórter, idem; Novidades, idem; Pontos nos i i, idem.
E colaborou nos seguintes: Jornal da Manhã, do Porto (Cartas de Coimbra); Folha da Tarde, de Lisboa (Crónica de Coimbra); Diário Ilustrado, idem (Crónicas de Coimbra e Cartas alentejanas); Revista do Foro Português, do Porto; Instituto, de Coimbra; Revista Ilustrada, de Lisboa; Revista Ilustrada, de Paris; A Alvorada, de Vila Nova de Famalicão; A Nova Alvorada, idem; A Leitura, de Lisboa; Branco e Negro, idem; Correio da Noite, idem; A Tradição, de Serpa; Tirocínio, Beira e Douro, e colaboração avulsa em muitos jornais e revistas, de Lisboa e províncias; arte e crítica literária.
Terra Mater (brinde do Diário de Notícias, n.° 32). Lisboa, 1906. 1 vol. 8.°
A B C do Povo (com desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro). Livraria Aillaud, Lisboa, 1901. 8.° de 70-16 págs. Neste sistema de ensino do A B C, as crianças fixam as letras naturalmente com o auxílio duma mnemónica, composta de figuras de objectos e animais à primeira vista conhecidos por elas, cujos nomes correspondem ao som de cada letra. Teve 2.ª edição em 1902.
Guilherme Augusto Candeias, professor da escola oficial da freguesia de S. Nicolau, no Porto, e, mais tarde, subinspector primário em Bragança, publicou em a Educação Nacional daquela cidade uma severa crítica a este sistema de ensino que dizia ser inferior ao Método Português de António Feliciano de Castilho com o qual tem certas relações, unicamente por recorrerem ambos a processos mnemónicos. Esta crítica corre numa separata in-4.° com 8 págs.
Pão Nosso ou leituras elementares e enciclopédicas para uso do povo. Aillaud & C.ª, editores, Paris-Lisboa, 1904. 8.° peq. de VI-511 págs. com muitas gravuras intercaladas no texto.
O Primeiro Livro de Leitura, Paris, Aillaud & C.ª, 8.° de 136 págs. É destinado às crianças da 1.ª classe das escolas primárias.
O Segundo Livro de Leitura. 8.° de 200 págs. É destinado às crianças das 2.ª e 3ª classes. Mesma casa editora e ano.
O Terceiro Livro de Leitura. 8.° de 300 págs. Para as crianças da 4.ª classe. Mesma casa editora, 1903.
Estes livros formam uma espécie de enciclopédia tendente a ministrar às crianças, por forma simples e acessível, noções elementares dos mais variados conhecimentos científicos, ao mesmo tempo que o fim educativo moral é atingido sob a forma atraente e engenhosa de pequenos contos.
São completamente originais do autor e não colecções de trechos, como geralmente costuma fazer-se em obras deste género; além disso a nitidez da impressão, o bem acabado das gravuras, representando «as nossas construções e respectivo mobiliário caseiro, as nossas alfaias agrícolas, os instrumentos das nossas artes e ofícios, os nossos animais e os nossos vegetais e até os nossos trajes e costumes populares de várias regiões e scenas da vida agrícola, rural e marítima do país e das ilhas», tornam-nos recomendáveis pela inspiração patriótica que sugerem e intensamente aptos para despertar nas crianças o gosto pelo estudo e desejo de saber.
Com tais requisitos, sendo a obra de Trindade Coelho genuinamente portuguesa de lei por tudo, parece que devia satisfazer as condições do «Anuncio do concurso de livros para o ensino primário e normal de 29 de Outubro de 1902», na parte que lhes dizia respeito; no entanto, a «Commissão technica permanente», encarregada de examinar os diversos livros
apresentados a esse concurso (de que era vogal o nosso condiscípulo e amigo padre Alípio Albano Camelo, doutor em direito, professor do Liceu Central de Lisboa, cargo para que fora nomeado por decreto de 19 de Setembro de 1902), em seu parecer de 27 de Julho de 1903, rejeitou-a. Sobre os motivos em que se fundamentou, veja-se o Boletim da Direcção-Geral de Instrução Pública, Março 1904, págs. 37, 59 e 63.
Primeiras Noções de Educação Cívica. Adoptado oficialmente no ensino primário. Paris-Lisboa, 1906, Livraria Aillaud & C.ª, 8.° peq. de 63 págs.
Exposição dirigida ao Conselho Superior de Instrução Pública para os efeitos da 2.ª alínea do n.° 9 do artigo 6.° do Decreto de 24 de Dezembro de 1901.
Lisboa, Tip. de M. A. Brandão & C.ª, Aillaud & C.ª, editores, 1903. 1 vol. 4.° Recurso interposto nos termos e para os efeitos do § 3.° do artigo 350.° do Regulamento de instrução primária de 19 de Dezembro de 1902. Lisboa, 1903. 1 vol. 4.°
A 14 de Maio de 1911 a Câmara Municipal do Mogadouro, com assistência do doutor João de Freitas, governador civil do distrito de Bragança e do doutor Henrique Trindade Coelho, filho do escritor, fez colocar na casa onde nasceu Trindade Coelho, rua do Largo de S. Sebastião, que passou a denominar-se largo Trindade Coelho, uma lápide de mármore em que se lê a seguinte inscrição:


CASA ONDE NASCEU,

A 18 DE JUNHO DE 1861,
O GRANDE ESCRIPTOR E MAGISTRADO
JOSÉ FRANCISCO TRINDADE COELHO
FALLECIDO EM LISBOA 9-8-1908.


A Maçonaria portuguesa, principalmente o Grémio Solidariedade, de que Trindade Coelho foi o fundador, promoveu durante alguns anos uma manifestação de homenagem ao coval onde ele repousa no cemitério dos Prazeres a que presidiu, algumas vezes, Magalhães Lima, grão-mestre da Maçonaria, chegando na de 10 de Agosto de 1913 a lançar a primeira pedra no monumento sepulcral a erigir-lhe, do que de tudo deu minuciosa resenha o Diário de Notícias de 12 de Agosto de 1912.

Há quem acuse Trindade Coelho de filho menos grato, por cortar as relações com seu pai, que muito se sacrificou para lhe dar posição, após a frequência do primeiro ano de direito e por casar poucos meses depois da sua morte. Na sua Autobiografia, publicada depois do seu falecimento, no Diário de Notícias de Setembro de 1908, declara que foi reprovado no primeiro ano de direito e que seu pai nas férias «quási lhe não falou durante dois mezes, e no fim não lhe deu a mezada para voltar para Coimbra», tendo portanto de viver lá à custa do seu trabalho de leccionações, «pois não quiz aceitar mais a mesada paterna».
Trindade Coelho era pai do doutor Henrique Trindade Coelho, nascido já fora do distrito de Bragança, notável escritor, autor das seguintes publicações:
Carvões, Amores Novos, Ferro em Brasa e actual representante de Portugal junto do governo italiano.


Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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