A Fundação Côa Parque denunciou hoje um "inqualificável" atentado contra uma das rochas do parque arqueológico na qual está representada uma figura humana com mais de 10 mil anos, acrescentando que vai participar criminalmente junto do Ministério Público.
"Fomos surpreendidos com a descoberta de novíssimas gravações de uma bicicleta, um humano esquemático e a palavra 'BIK' diretamente sobre o conhecidíssimo conjunto de sobreposições incisas do setor esquerdo daquele painel, onde, como é universalmente sabido, está o famoso 'Homem de Piscos', a mais notável das representações antropomórficas paleolíticas identificadas no Vale do Côa", disse à Lusa o diretor do Parque Arqueológico da Vale do Côa, António Baptista.
Segundo o também arqueólogo, trata-se de um conjunto de gravuras que sobreviveram intactas mais de 10.000 anos e que agora foram "miseravelmente mutiladas pela ignorância de alguém que possa ser rapidamente identificado e exemplarmente punido".
"Este atentado mancha a região", classificada como Património Mundial desde 1998, sendo "uma nódoa no certificado de qualidade, de conservação e de apresentação ao público que a Arte do Côa orgulhosamente ostenta e é por (quase) todos reconhecido", afirmou António Baptista.
O responsável adiantou à Lusa que há já suspeitos do ato contra o património rupestre.
"É um crime que lesa este património mundial e quem tomou esta atitude sabia, aparentemente, os prejuízos que iria causar. É vandalismo puro e duro", enfatizou António Baptista.
Em nota enviada à agência Lusa, os trabalhadores da Fundação Côa Parque afirmam que, durante a vigência do anterior Governo, o sítio arqueológico em causa deixou de ter qualquer tipo de vigilância.
"O ato terá ocorrido entre domingo, quando a rocha foi observada incólume pela última vez, e quinta-feira, quando o seu resultado foi detetado", referiu a Comissão de Trabalhadores do Museu e do Parque Arqueológico do Vale do Côa.
Os trabalhadores garantem que desde a primeira hora e até à última vez que se reuniram com o Ministro da Cultura têm vindo a alertar para o perigo desta situação e para as possibilidades de vir a ocorrer o que agora aconteceu.
"Esta falta de vigilância nunca foi claramente denunciada publicamente por receio que a publicitação da ausência de vigilância nos sítios, pudesse ela própria potenciar a ocorrência destes atos", esclarecem.
Agência Lusa
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