Por Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas")
É tradição do nosso povo macaquear tudo que vem de fora. O complexo de inferioridade é tal, que no século XIX, e início do século XX, era elegante, não só falar francês, mas até casar com uma francesa!
Os nossos janotas, filhos de famílias “ Bem”, orgulhavam-se de namorarem jovens parisienses. Era elegante… e a bacoquice nacional, admirava e respeitava.
Muitas das jovens parisienses, que conseguiram unir-se, em matrimónio, com artistas, ou ingressarem em famílias tradicionais, não eram, como se pensava, meninas educadas e instruídas; mas costureirinhas e rapariguinhas de famílias imodestíssimas…
Não é, portanto, de admirar, que Daniel David da Silva, poveiro de gema, quando foi supervisionar a cervejaria da “ Regaleira”, no Porto, resolvesse apresentar prato, apimentado, para acompanhar a cerveja, de “ origem” francesa.
Como tinha trabalhado em França e em bares belgas, utilizou os conhecimentos adquiridos, e idealizou manjar, que obteve grande sucesso.
Mas, era preciso batizar o pitéu. Que nome havia de se pôr ao prato?
Depois de muito matutar, resolveu chamá-lo de “ Francesinha”; criando, assim, a ilusão que a comida era de origem francesa…
Estávamos em 1953. Nessa época ainda se admirava a França e os franceses; do mesmo modo, como hoje, se copia tudo que vem da América.
A “ Francesinha” foi um sucesso. Logo bares e restaurantes tentaram confeccionar a apetitosa iguaria, que se pensava ser francesa.
Daniel David da Silva, viria a falecer com oitenta e quatro anos, ficando, para sempre notabilizado na gastronomia portuguesa… porque teve a esperteza de dizer que a sua especialidade, veio de França! …
Infelizmente, continuamos – juntamente com outros latinos, – a cair de cócoras perante tudo que se usa e se fabrica lá fora, além-fronteiras.
Agora, até os nossos garotinhos, rabiscam os muros… em inglês…com frases de amor! … e obscenidades!…
Humberto Pinho da Silva, nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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