O certame é inaugurado esta tarde e é marcado pela nova valência que permite a instalação de novas empresas no concelho. Na hora da saída, José Luís Correia fala do que foi feito, do que ficou por fazer e das razões que o levaram a não se recandidatar.
Que expectativas tem para a edição deste ano da Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite?
Vai decorrer bem, porque temos sempre de ir melhorando para ir de encontro às necessidades dos produtores.
Como está a produção deste ano?
Pelo que tenho falado com os produtores, é um bom ano em termos de qualidade e de quantidade. Vamos ter maçã durante alguns meses e na feira não vai faltar. Temos por princípio oferecer maçãs, vinho e azeite a quem vier fazer compras e este ano vamos manter essa tradição. Penso que a feira vai correr bem. Para além da venda de produtos haverá um cortejo etnográfico no sábado e, no domingo, a habitual procissão dos oragos das paróquias do concelho.
Que novidades foram implementadas no certame?
Temos de ver as feiras sempre numa ótica económica e empresarial, porque o que queremos é promover os nossos principais produtos e só temos produtos se houver empresários. Nesse sentido, com o objetivo de levar os jovens a dedicarem-se também às atividades agrícolas, decidimos requalificar o antigo mercado municipal para um centro de apoio empresarial, onde ficará instalada uma incubadora de empresas. Vamos proceder agora à abertura.
As candidaturas já decorreram e foram analisadas com a colaboração do Instituto Politécnico de Bragança. Vamos estabelecer esta quinta-feira um protocolo com dez jovens empreendedores. Vamos ceder-lhes todas as instalações gratuitamente e pelo primeiro posto de trabalho criado vamos apoiá-los num montante equivalente ao salário mínimo nacional e pelo segundo posto de trabalho 50 por cento desse valor, isto durante dois anos. Pensamos que é uma forma de ajudarmos a fixar jovens no concelho e de os lançar numa vida ativa e na criação do próprio emprego.
Estas empresas que se vão instalar são de que ramos de atividade?
Dos mais diversos ramos, desde os serviços à agricultura, eletricidade, turismo, desporto e aventura… São ideias novas que têm por base as necessidades que a população sente. Este edifício tem um grande salão que servirá para outros eventos.
Qual o valor da obra?
Um milhão e trinta mil euros, sem financiamento, apenas com dinheiro da autarquia.
A que se deveu o atraso?
Por vezes, por empreiteiros também têm algumas dificuldades em cumprir os prazos mas conseguimos que chegassem ao fim.
Ao longo dos últimos oito anos, foi um dos desideratos que conseguiu levar a cabo, recuperar não só património mas, também, as contas da Câmara Municipal, reduzindo a dívida e deixando já dinheiro em caixa…
Sim, foi uma situação que não era, de todo, previsível. Era do conhecimento geral que as contas da autarquia não estavam famosas mas uma coisa era o que se dizia e outra a realidade. E, de facto, o que se conhecia eram apenas os empréstimos de curto, médio e longo prazo. Viemos, depois, a saber que havia muita dívida que não estava registada. Herdei cerca de 12 milhões de euros de dívida que, presentemente, está em 1,4 milhões, sendo que temos um saldo de tesouraria de 3,2 milhões de euros. Essa situação permite à Câmara Municipal continuar o mesmo ritmo de obras ainda que não haja financiamentos.
Como todos sabem, a execução do Quadro Comunitário está muito atrasado, poucas são as obras que têm financiamento garantido e, assim, é possível dar continuidade à maioria das obras que pretendemos realizar.
Das obras que fez ao longo destes dois mandatos, quais as que destaca?
Não é fácil. O CITICA, o estádio municipal, a Loja Interativa de turismo, o museu da memória rural, com os respetivos núcleos museológicos, a requalificação de estradas – muitas delas sem financiamento. Seria fastidioso enumerar todas as obras que desenvolvemos, até porque considero que fizemos um bom trabalho. Por isso, saio de consciência tranquila. Cumpri um bom trabalho ao serviço do concelho e dignificámos o nome de Carrazeda de Ansiães, que muitas vezes era falado mas não pelos melhores motivos.
Qual foi o segredo para conseguir equilibrar as contas ao mesmo tempo que se faziam esses investimentos, alguns deles sem apoios?
É simples. Primeiro, teve de haver uma contenção de despesas. Depois, tivemos de tentar executar obras através de financiamentos, pois o anterior Quadro Comunitário ainda teve boas oportunidades. São estes os principais segredos para gerir uma Câmara. Cortar nas despesas correntes e transformar as receitas em receitas de capital e ter sempre projetos preparados para quando surgem as oportunidades.
“Saio de consciência tranquila com o trabalho feito”
Fica com alguma mágoa por algo que não tenha conseguido fazer?
Só duas situações. Uma diz respeito à reabilitação do núcleo urbano de Foz Tua. Deixo o projeto feito, preparado para colocar a concurso. Mas o Provere atrasou-se, na nossa CIM ainda não está definido. Também as Caldas de S. Lourenço, cujo complexo ainda não está executado por não haver financiamento. Mas nos próximos tempos vamos encontrar uma solução para isso.
Falando em água, o abastecimento foi um dos dossiês mais difíceis que enfrentou?
Nunca pensei que estivesse numa situação de tanta irresponsabilidade. Ou seja, em 2001 foi assinado o contrato de concessão de águas e saneamento de Carrazeda de Ansiães e, logo de seguida, a concessionária pediu à Câmara Municipal que aumentasse o valor do tarifário em 42 por cento, porque tinha esse direito de acordo com o contrato que tinha sido assinado. A Câmara não atualizou o tarifário e a situação ficou sempre em défice. A concessionária invoca agora esses alegados prejuízos, bem como por taxas de saneamento que não terão sido cobradas durante três anos. Passaram, depois, a ser cobradas mas só pela metade e ao fim de cinco na totalidade. Tudo isto é invocado pela concessionária como prejuízo. Como tal, é preciso reequilibrar o contrato de concessão e como se trata de milhões, tem de ser bem estudado. Todo esse trabalho está feito, aguardamos apenas o parecer da entidade reguladora, a ERSAR. Quando ele vier, será tomada uma decisão e fica resolvido.
A solução passa por que cenário? Por ser a Câmara a assumir a distribuição de água e recolha de resíduos?
Há vários cenários em equação. Mas aguardamos pelo parecer da ERSAR e do Tribunal de Contas.
De quanto poderá ser o valor de uma eventual indemnização?
Entre um a dois milhões de euros.
Alguma vez se arrependeu da decisão de não se recandidatar a um terceiro mandato?
Não. Vim com o propósito claro de acabar com a trapalhada que se verificava, reequilibrar as contas, acabar obras que estavam paradas há muitos anos, resolver o problema do cemitério e tantos outros. A nível de infraestruturas, Carrazeda estava paupérrima, mais parecia uma aldeia. Penso que essa missão está mais ou menos cumprida. Deixo a vila com bons equipamentos coletivos, as contas equilibradas e, como cidadão, dei o meu contributo. Cheguei à conclusão que devo retirar-me. É uma atividade muito desgastante e regresso à minha vida, de consciência tranquila.
AGR
in:mdb.pt
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