quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O MANSO E O GUERREIRO VI – QUAL É A TUA, Ó MEU?

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Tomé Guerreiro esperou o seu velho amigo Júlio Manso à entrada da adega. Quando o viu ao fundo da rua a dobrar a esquina tratou de cortar duas lascas de presunto e encheu os dois copos com tinto da sua colheita. 
— Veja lá se ainda se bebe pois o calor já aperta e a pipa já está quase a chegar às borras.
— Já pica um pouquito! Era bem engarrafá-lo entes que se estrague... 
— Ele não! Já não compensa. Não tarda nada está aí o novo e quando azedar de vez, fica para vinagre e também se gasta.  
— Pois isso é verdade. Este ano até há-de vir primeiro que as uvas amaduraram cedo. Já há quem queira vindimar!
— Pois eu só vou cortar as uvas em setembro. Dê por onde der...
Júlio Manso deu uma espreitadela no Jornal Nordeste que ostentava na capa a fotografia de uma brilhante locomotiva, propriedade da empresa que vai esplorar turisticamente o que resta da antiga linha de caminho de ferro parcialmente submersa pela última barragem da EDP, num dos afluentes do Douro.
— Então,lá vamos ter de novo o comboio a apitar, da Brunheda a Mirandela.
— Vamos de certeza, que a Douro Azul não brinca em serviço.
— Pena é que não estenda as suas atividades a outros locais que neste tempo de crescimento turístico por todo o país é que é de aproveitar quem faz e sabe fazer bem! 
— Muito Deus ajuda a quem madruga! 
— É bem verdade ti’ Tomé! Não basta esperar pelas oportunidades. É necessário fazer por elas. Nisso, honra lhes seja feita: os autarcas das margens do Tua não deixam os seus créditos por mãos alheias. 
— Fazem eles muito bem. Ao contrário de outros que o trataram com desdém eles resolveram acarinhar o empresário duriense. E o resto veio por acréscimo! 
— E não se esqueceram de pressionar e insistir com a EDP 
— Assim é que é! A cara feia é para quem nos tira, as gentilezas são para quem nos dá! 
— Veja só que no Tua até o que nos outros é problema, aqui é solução! 
— Está a falar dos morcegos? 
— Isso mesmo. No Tua combatem pragas e são bem vindos 
— Por falar nisso, afinal os ditos cujos hibernam ou invernam? 
— E há diferença? 
— Claro que há. Ou vossemcê acha que é apenas uma questão de grafia? 
— E não é? 
— Claro que não. Como também, parecendo, não é, apenas uma questão gráfica a diferença entre ficar calado e assim evitar ficar colado a tão grossa asneira! 
— Pois será! Mas isso de uma coisa ser boa num lugar e a mesma coisa ser problema noutro sítio e vice-versa, quase parece mau olhado! Ou feitiço. 
— Não é não, que eu não acredito nisso. Quando muito é o fator Sadim! 
— E isso é o quê? 
— Ora isso... são já outros quinhentos! Hoje já vamos muito avançados e não sobra tempo para lhe explicar. Fica para a próxima.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.



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