As Festas dos Rapazes são o expoente da quadra natalícia na zona de Bragança e há uma aldeia que se destaca por, do Natal aos Reis, ter festas também para as raparigas, casados e para a mocidade.
Em Babe, as festas começam na véspera da Consoada, prolongam-se até aos Reis e são um chamariz maior que o mês de agosto para os emigrantes filhos da terra, que fazem questão de participar na organização e mantêm vivas as tradições na pequena aldeia perto de Bragança.
O programa arranca no dia 24 de dezembro na outra aldeia da freguesia, a de Laviados, com a Festa da Mocidade, segue-se, já em Babe, a Festa do Rapazes a 25 e 26, antes do ano terminar festejam os casados, a 30, a passagem de ano é feita com a Festa das Raparigas e os rapazes regressam novamente a 05 e 06 de Janeiro para os Reis.
Ao contrário do que acontece noutras aldeias, em Babe a Festa dos Rapazes não tem caretos, os tradicionais mascarados transmontanos conhecidos pelo seu colorido e tropelias que animam o início do Inverno.
Nesta aldeia, os rapazes portam-se bem, como explicou à Lusa Alberto Pais, presidente da freguesia, mas cumprem todos os rituais tradicionais destas festividades, nomeadamente as rondas pelas aldeias com gaiteiros e os fartos repastos.
Nazaré Frutuoso, conhecido como Afonso na aldeia, vai fazer 88 anos e durante a mocidade foi o rancheiro responsável por garantir a vitela assada e outros petiscos para as refeições dos rapazes.
"Era uma fartura", lembrou. E continua a ser, no que à comida toca, mas nem tudo parece como dantes para este antigo "rapaz".
"Agora não se ajunta mocidade como dantes. Dantes éramos muitos, éramos 80 ou 90 todos os anos", concretizou.
Apesar do despovoamento, principalmente de gente jovem, as festas desta aldeia "ainda juntam 40 e tal" rapazes e "um dos mordomos até está no estrangeiro e vem de propósito organizar", como garantiu Alberto Pais.
"Os nossos emigrantes é mais fácil falharem no verão do que no Natal. Aderem muito", reiterou.
A tradicional Festa dos Rapazes é feito apenas por homens solteiros e a nostalgia dos tempos em que nela participaram levou, há cerca de 20 anos, aqueles que mudaram de estatuto a criaram a Festa dos Casados para poderem continuar a festejar.
Ninguém sabe precisar quando, mas muitos anos antes foram as mulheres a emanciparem-se e a darem o primeiro passo, respondendo à folia dos rapazes coma Festa da Raparigas.
"A mim já sempre me lembra da festa das raparigas. Participava nela desde gatorra e tenho 53 anos", contou à Lusa Teresa Caseiro, uma habitante de Babe.
Naquela época, "cada uma levava o seu chouriço" e iam assá-lo com umas batatas, animadas por um altifalante com música pela noite dentro, em que punham um pote de ferro ao lume para fazerem café e cacau e aí já deixavam juntar-se ao grupo os rapazes, tal como eles também fazem na respetiva festa.
Agora, o repasto já evolui para o frango assado e a vitela, mas Teresa confessa que a festa mais animada sempre foi a dos rapazes "porque tinham gaita-de-foles e tudo e as raparigas não tinham gaiteiro".
Eram discriminadas? "Sempre fomos. Ainda agora somos. Fazem a festa dos casados e as casadas não temos direito a ela", diz Teresa Caseiro.
"Estas festas é que trazem vida ao Natal", concorda outra Teresa, a proprietária de um restaurante, que nota que o negócio está a melhorar e reclama que "havia de haver mais festas como estas, que trazem muita gente".
As gentes da aldeia observam ainda que nos últimos anos há mais pessoas a marcarem presença "porque também as estradas e o resto já facilitam".
Agência Lusa
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