Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Dizeres e Ditos - Carta Gastronómica de Bragança

Ana da Conceição Alves
Sr.ª Dona Ana da Conceição Alves68 anos, vive em Parada. 
Não vivi muito mal. Não teve pai, a Mãe trabalhou muito para a criar a ela e ao irmão. Cozia pão, fiava, tecia linho e fazia mantas farrapeiras.
Antes ir para a Escola, a Mãe dava-lhe uma torradinha com pingo.
No tempo das castanhas, cozia-se um pote delas, todos os dias. Gostava tanto de bacalhau que lhe tirava lascas e nem sequer as demolhava. O sardinheiro trazia as caixas de sardinhas e de chicharro no lombo dos burros. O polvo era mais para o Natal. O irmão pedia à Mãe para comprar aquilo dos ilhoses dos sapatos. Era o polvo.
O azeite comprava-se às remeias, a gordura mais usada era o pingo. Vitela só na festa, assada. Marmelada todos faziam.
Comiam as cerejas caídas (passotas) sem as lavar, às vezes trincávamos areias.
O porquinho remediava tudo. Na matança juntavam-se vizinhos e familiares. Nunca faltavam os ovos. Açúcar era biqueiro. Dava-se aos meninos um carolo coberto de açúcar, o que fazia sede, iam beber à fonte.
Ana Maria Prieto Fernandes
Sr.ª Dona Ana Maria Prieto Fernandes64 anos, vive em Aveleda.
Natural de Rio-de-Onor espanhol. Nunca passou fome. Nas duas aldeias fronteiriças reinava a harmonia, trocavam trigo por centeio porque na casa dela não havia o tão empregue cereal. No Natal comiam polvo, bacalhau e marisco que os familiares traziam de Madrid. As comidas nas duas aldeias eram mais ou menos iguais, o que se cultivava também.
Na Páscoa em Espanha comia-se o cabrito, no lado de cá o cordeiro. A grande diferença residia no facto de no lado de lá (Espanha) comerem as tripas do cabrito, e aqui não. Mesmo ao pequeno-almoço comiam tripas guisadas como mata-bicho.
O avô sardinheiro tanto vendia de um lado, como do outro. Ajudava muito o seu negócio. Integrou-se bem em Portugal, estranhou o azeite por ser mais forte, não se deu muito bem a princípio.
Na festa cozia-se uma galinha velha para se fazer sopa. Aos doentes serviam-se aguinhas só com um bocadinho da carne da galinha, senão fazia-lhes mal. Tinham de dividir. Às pessoas sem dentes davam-lhe sopas fervidas de ovo ou de tomate.
As castanhas aguentavam até o mês de Maio. Dizia-se: se não comerdes castanhas no primeiro dia de Maio, os burros vão roer-vos as orelhas.
Anabela Fernandes Pires
Sr.ª Dona Anabela Fernandes Pires49 anos, vive em Sortes. O forte era comerem batatas cozidas quase em todas as refeições. Mesmo que fizessem arroz ou massa, coziam-se batatas, à mesma. Conservavam-se as batatas e as castanhas em covas revestidas a palha e terra por cima. É terra de batata de semente.
O pai caçava coelhos, lebres e perdizes.
Na Páscoa preparam cordeiro assado. Os mais velhos preferem comer cabrito. No dia dos Santos faz-se o magusto. No tempo das castanhas apanham-se míscaros e pinheiros (cogumelos). As frutas mais consumidas sãs as maçãs (assadas, cozidas e cruas), as cerejas abundam e as uvas também não.
Ana Olívia Pires
Sr.ª Dona Ana Olívia Pires, 39 anos, vive em Paradinha Nova. Explica que finalizado o período de apanha da castanha, ajuda a Mãe a apanhar a azeitona verde. Posteriormente usando uma joga (pedra redonda) parte as azeitonas de maneira a ficarem abertas e não amassadas, originando boas alcaparras. A seguir tira-lhes o caroço, mete-as numa saca misturadas com ossinha e orégãos e coloca-as na água em movimento contida num poço durante quatro dias.

Carta Gastronómica de Bragança
Autor: Armando Fernandes
Foto: É parte integrante da publicação
Publicação da Câmara Municipal de Bragança

Sem comentários:

Enviar um comentário