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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Santos atribuídos infundadamente a Bragança

Domício, Pelágia, Áquila, Teodósia, Epárquio e Arcádio

O fundamento para atribuir a Bragança estes santos mártires estriba-se só na autoridade do arcipreste Juliano que, no seu Chronicon nº 140, diz: 
«In Lusitania prope Bracharam, Brigantia, quae quondam Juliobriga dicta est, vigesima tertia martii Sancti martires Domitius, Pelagia, etc.»,  isto é: na Lusitânia, em território bracarense, fica Bragança, chamada outrora Julióbriga.
É de saber que, nos fins do século XV e parte do XVI, houve um furor extraordinário em forjar antiguidades, inventando-se lápides e publicando-se livros de autores dos primeiros séculos da era cristã, que davam como aparecidos então.
Assim, apareceram então obras de Beroso, Caldeo, Magastenas, Persa e todas as mais que publicou João Anio Vilerviense, excepto os fragmentos do verdadeiro Beroso e de outros que estão nos antigos.
Santo Atanásio de Saragoça com os mais escritos de Monte Santo de Granada.
Celedónia, bispo de Braga, na vida de S. Pedro; Gregório Bético; Catálogo dos Mártires de Espanha; Lúcio Flávio Dextro; Marco Máximo; Bráulio, continuação de Máximo; Luitprando; Hamberto Hispalense; Liverato; Aulo Flaco; Dr. Servando; Dr. Pedro Segum, bispo de Orense; Heleca; Julian Perez e toda a notícia que somente consta de Lucas, Florian do Campo e Laimundo Ortega; Angelo Pacense; Aládio e outros, por Fr. Bernardo de Brito; Pedro César Augustaño, fingido por Pellicer Huerta.
A Academia de História Portuguesa, por decreto do ano de 1721, deu as obras destes autores por apócrifas, sem nenhum crédito e mandou que nenhum sócio as seguisse e citasse.
Entre os falsificadores portugueses avulta, além de Fr. Bernardo de Brito, o licenciado Gaspar Álvares de Lousada Machado, secretário do Arcebispo de Braga, D. Agostinho de Castro, o qual depois teve a seu cargo o arquivo da Torre do Tombo, que num e noutro cargo forjou e deturpou vários documentos. Lousada carteava-se familiarmente com outro falsário espanhol, Jerónimo Roman de la Higuera, autor do «Lucio Flavio Dextro», e ambos mancomunados se auxiliavam na obra diabólica de confirmarem reciprocamente por documentos, que diziam extraídos dos arquivos a seu cargo, as notícias dadas por um deles.
No intuito, pois, de lisongearem as sés episcopais, seus prelados e, ao mesmo tempo, salientarem-se por notícias de antiguidade dadas em primeira mão, os falsários, pelo que toca aos santos, iam-se aos martirológios e, sempre que estes não lhes indicavam a terra da naturalidade, distribuíam-nos a seu bel prazer pela diocese que mais lhes agradava. Assim, relativamente aos de que nos ocupamos, o Martirologio Romano diz apenas no dia 23 de Março: «Item Coronae: SS. Martyrum Domitii, Pelagiae, Aquilae, Eparchii et Theodosiae», que padeceram martírio no ano de 300 ou 301. E, como do Martirologio não constava a sua naturalidade, veio logo o fabricador do falso Chronicon, atribuído ao arcipreste Julian Perez, a dizer: «In Lusitania prope Bracharam Brigantiae (quae quondam Juliobriga dicta est) 23 martii, Sancti Martires Domitius, Pelagia, Aquila, Theodosia et Eparchius in Diocletiani persecutione passi».
Também pelos mesmos consta que S. Arcádio (martirizado aos 4 de Março do ano de 61) foi o primeiro bispo de Julióbriga, isto é, de Bragança, mas, como já vimos, nunca a nossa teve tal nome; portanto não lhe pertencem estes santos.

S. Galicano Ovino, S. João e Paulo

É também de Julian Perez que consta originariamente a naturalidade de S. Galicano Ovino, parente de João e Paulo, de quem abaixo falaremos, todos nascidos na nossa Bragança, naquele tempo chamada Julióbriga. S. Galicano padeceu o martírio na cidade de Alexandria, durante a perseguição de Juliano Apóstata, no ano de 362 a 25 de Junho. S. João e Paulo, nascidos, como diz Julian, em Julióbriga, hoje Bragança em Trás-os-Montes, foram martirizados em Roma a 26 de Junho, no tempo do mesmo imperador. Pelas razões já alegadas não pertencem estes santos à nossa Bragança.
De onde concluímos que a nossa Bragança, a Bragança de Trás-os-Montes, nunca foi a Julióbriga de Plínio e Ptolomeu nem o Flavium Brigantium mencionado por este último na Galiza; portanto não lhe pertencem as notícias que neste pressuposto lhe têm atribuído vários escritores baseados no Chronicon de Julian Perez e não é ela a pátria dos santos Domício, Pelágia, Áquila, Teodósia, Éparquio, Arcádio, Galicano Ovino, João e Paulo, nem foi cabeça de bispado no primeiro século da era cristã e seu prelado Santo Arcádio.
Prudentemente andaram, pois, os bispos de Miranda, dos séculos XVI e XVII, evitando o prurido de novidades a que os de outras sés não escaparam em não mandar fazer no código de rezas da diocese comemoração especial de tais santos, venerando-os apenas conforme o rito comum da Igreja.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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