domingo, 30 de janeiro de 2022

A revolução em Miranda em 1808

As ordens de Sepúlveda produziram o efeito desejado por toda a parte; Moncorvo e Miranda fizeram imprimir relações especiais do modo como tinham corrido as coisas relativamente à aclamação do Príncipe Regente.
A desta última intitula-se: Relação Fiel Exacta da Revolução de Miranda do Douro. 
Dela vamos extractar as notícias seguintes: 
Os estragos que Miranda do Douro sofreu na guerra de 1762, a reunião do seu bispado ao de Bragança e a transferência para esta cidade do seu regimento, reduziram-na a uma notável decadência; ainda assim, no seu povo conservaram-se vivazes os sentimentos do mais fervente patriotismo.
Logo que ali se soube da retirada do Príncipe Regente, mais tarde D. João VI, para o Brasil, os mirandeses fizeram uma novena ao Senhor Jesus da Misericórdia dirigida pelos Padres Trinos Descalços, cuja Ordem ali tinha convento, rematada com ofício solene pelas almas, à qual assistiu sempre clero, nobreza e povo, destacando-se, em especial, o então juiz de fora Joaquim José de Gouveia Osório, implorando o auxílio divino sobre a nação portuguesa.
Em todo o território de Miranda não houve suspeita de algum homem influenciado do espírito francês, nem desta cidade ou termo saiu dinheiro algum de contribuição ou prata das igrejas, devido ao retardamento que os ministros encarregados do Governo daquela comarca iam fazendo no aviamento dos frequentes pedidos e ordens vindas do Governo central francês.
No dia 13 de Junho, logo que Miranda teve conhecimento da revolução de Bragança, o capitão das ordenanças, vereador da Câmara Municipal, João Baptista Ferreira, saiu pelas ruas da cidade aclamando o Príncipe Regente, a casa real de Bragança e a morte de Junot e Napoleão.
O doutor juiz de fora e o povo aderiram imediatamente a este movimento. Na noite desse dia «illuminou-se festivamente a cidade, repicaram-se os sinos, houve fogos de alegria, bandos e epigramas e descobriram-se as armas reaes» e assim se continuou por três dias e noites. Iguais festejos se fizeram depois, com um Te-Deum em acção de graças, quando se recebeu o ofício do general Sepúlveda.
Estes festejos não correram sem susto, porque logo constou a notícia de que um exército francês se aproximava, na força de vinte mil homens, pelos lados de Zamora, e ao tempo Miranda não tinha armas, nem munições; apenas possuía meia arroba de pólvora, e nem sequer um soldado de guarnição! Para logo se organizar uma Junta provisória subalterna à Suprema, da qual é nomeado presidente e governador da praça o dito juiz de fora, que em caloroso discurso incute ânimo aos tíbios.
A Junta manda a Zamora pedir armas, pólvora e bala, de cuja incumbência se encarregou um frade e um cidadão. Outro frade trino pôde obter de Bragança oito arrobas de pólvora e a competente bala; um cordão de Ordenanças se estende pela raia, circuitando a cidade numa extensão de quatro léguas, com o fim de avisar do ocorrido; um corpo de guarda, composto de padres, comandados pelo abade de Duas Igrejas, frades pelo seu geral e paisanos pelo dito capitão de Ordenanças, é organizado para defender a cidade. Manuel Álvares de Frias, ajudante da praça, muito se salientou instruindo nas manobras esta gente.
A deputação mandada a Zamora nada trouxe em razão dos apuros em que estava essa cidade, esperando por momentos o ataque do general Bessieres, na força de dezoito mil homens, o que não teve lugar, retrocedendo Bessieres para Burgos, e por isso foi levantado o cordão de observação posto a Miranda, ficando somente na praça a guarnição do interior até 29 de Setembro, que foi rendida por duas companhias de milícias que apenas se conservaram por oito dias.
«Cumpre também dizer, que quando sahiu o exercito de Coimbra, para ir arrostar o inimigo e libertar Portugal do tyrano jugo que o opprimia, fizeram os habitantes de Miranda préces publicas pelo bom successo das armas portuguezas, com uma procissão de penitencia muito edificante, animada com praticas muito pateticas e persuasivas, a que se prestaram promptamente os religiosos Trinos. E quando depois se annunciou a feliz victoria do Vimieiro, logo o senado mandou celebrar uma função solemnissima, em que prégou o R. Abbade de Sendim uma oração digna de tão magestoso assumpto; rematando-se esta solemnidade com uma procissão de tarde, que será sempre memoravel naquelle paiz, pela magnificencia das insignias e andores ricamente adornados e pelo grande concurso de clero, nobreza e povo de todo o districto, todos alegres e festivos por um motivo tão feliz. E ultimamente se concluiu todo aquelle acto gratulatorio, com uma grande illuminação, festejada com fogos e bandos de alegria, resoando por todas as ruas os vivas jucundos: Viva o Principe Regente! Viva a Casa de Bragança! Viva Portugal e morra o traidor!».
Moncorvo mandou imprimir também a Relação dos seus acontecimentos.
No ofício dirigido a Sepúlveda, transcrito nela e assinado pelo capitão de infantaria António José Claudino, datado de Moncorvo a 20 de Junho de 1808 lê-se: «o entusiasmo do povo d’esta villa, continúa no maior excesso clamando a V. Exª nosso libertador».
Os festejos que se fizeram a Sepúlveda foram estrondosos: os repiques de sinos, os vivas e as aclamações retumbavam por toda a parte onde ele passava. Vila Real recebeu-o com o maior júbilo no dia 9 de Julho, quando se dirigia para o Porto, em obediência no chamamento da Junta dessa cidade. Com não menor entusiasmo festejou a sua vinda, a 7 de Outubro de 1808, o Peso da Régua. Houve discursos, tanto de um como de outro senado, onde se lhe fizeram os maiores elogios, os quais podem ver-se na obra que vamos seguindo.
Entretanto, a Inglaterra, que com gente, armas e dinheiro tinha auxiliado as nações da Europa contra os franceses, sem resultados apreciáveis, pois as águias imperiais esvoaçavam, audazes, de capital em capital, dando leis nos palácios dos próprios imperantes, resolve-se a tentar a sorte pelo lado de Portugal.
Sir Arthur Wellesley, mais tarde lord Wellington, comanda, em chefe, esse exército, onde Beresford militava como general.
Logo a 21 de Agosto de 1808 se dá a batalha do Vimieiro, primeiro revés sofrido pelas armas francesas na península, que deu em resultado a evacuação de Portugal e a convenção de Sintra.
Infantaria 24 e cavalaria 12, pertencentes à guarnição de Bragança, estiveram nesta batalha; aquele em número de trezentas e quatro praças, comandadas pelo major Cunha, e este no de cento e quatro, pelo capitão Francisco Teixeira Lobo.
A convenção de Sintra foi altamente afrontosa para Portugal, por culpa dos ingleses; mas estes nossos antigos e fiéis aliados nunca o fazem por menos, tratando-se de coisas portuguesas. Assim o mostra a história, logo desde que o nosso mau fado os trouxe cá, no tempo de D. Fernando, até hoje. Sempre britânicos, sempre danaos de fé púdica, de quem é preciso desconfiar ainda mesmo quando oferecem dádivas.
As extorsões, prepotências e brutalidades que em Portugal praticaram os ingleses durante esta campanha, e mesmo depois, pouco cedem em violência às dos franceses.
É certo que Bragança e o seu distrito não sofreram directamente as incursões do inimigo; mas nem por isso experimentaram menos as suas funestas consequências. Estas lutas desorganizaram tudo; a miséria campeava por toda a parte.
O sistema adoptado por Wellington de reduzir os franceses pela fome, destruindo quanto lhes podia ser útil e não era de fácil transporte para o campo entrincheirado de Torres Vedras, estabelecendo assim entre uns e outros o deserto, o eremavit regionem illam dos chronicons das lutas asturo-leonesas com os árabes, motivou uma fome geral proveniente de não se fazerem a tempo as sementeiras.
Bandos de salteadores infestavam a região.
O corregedor de Moncorvo dava conta ao intendente geral de polícia, em 24 de Maio de 1812, que haviam sido roubadas as igrejas de Miranda do Douro e S. Tiago de Valada (sic, deve ser Aveleda, anexa de S. Vicente da Raia), no termo de Monforte de Rio Livre.
Demais, as próprias tropas, nossas correligionárias, contribuíam para aumentar a miséria com suas travessias pelo distrito bragançano. Além das já mencionadas e outras que se irão vendo, em Outubro de 1809, o general espanhol D. Francisco Bellesteros, à frente de oito mil homens, organizados nas Astúrias, tentou senhorear-se de Zamora e, como o não conseguiu, entrou em Portugal por Miranda do Douro a fim de se unir ao duque del Parque, em véspera de ser atacado pelo general Marchand.
Ao abrir a campanha de 1813 contra os franceses, entendeu Wellington que o melhor plano a seguir era marchar através da província de Trás-os-Montes. Para este fim, uma parte do seu exército, constituindo a ala esquerda, deveria atravessar o Douro, dentro do próprio território português, passar à citada província, dirigir-se pela margem direita do mesmo rio até Zamora e, finalmente, atravessar o Esla e ir depois unir-se às forças de Galiza, enquanto que o resto do exército, vindo de Águeda, forçaria a passagem do Tormes.
Efectivamente, em 21 de Maio de 1813, a cavalaria inglesa, que tinha invernado nas imediações do Mondego, fez junção em Bragança com a cavalaria portuguesa, que tivera a maior parte de seus quartéis de inverno na província de Trás-os-Montes, e marcharam para o interior da Espanha seguidas por um grande número de divisões de infantaria e equipagens de pontes, formando com a respectiva artilharia um total de quarenta mil homens sob o comando do tenente-general sir Thomas Graham, imediato a lord Wellington, que comandava a ala direita, e ao qual se foi reunir em Toro.
Corre em Bragança uma tradição, segundo a qual esta cidade deveu aos bons ofícios do banqueiro Perier, de Bordéus (cuja família era daqui oriunda), perante Napoleão o não ser invadida pelos franceses.
Não sabemos até que ponto ela é fundada, mas parece-nos pouco plausível se atentarmos ao seguinte: «Foi a vila de Amarante — diz Soriano — a que em 1808 teve a glória de fazer suspender a marcha ao general Loison, quando em Junho desse ano se dirigia de Almeida para o Porto, e a de ter igualmente em Abril de 1809 salvado as duas províncias de Trás-os-Montes e Beira dos estragos e mortes de que as ameaçava a invasão das tropas francesas no referido ano, pois que daí as fizeram retrogradar com grande perda».
«Nesta terceira e última expulsão — diz ainda o mesmo escritor — dos franceses para fora de Portugal, não só foi digno de louvor o exército português, como o testificaram as partes oficiais de lord Wellington, mas igualmente os corpos de milícias ou de segunda linha, porque, enquanto muitos destes se haviam recolhido às linhas da capital (Torres Vedras) e na sua defesa haviam sido empregados, muitos outros houve igualmente que pela rectaguarda do inimigo operavam ofensivamente, prestando com isto magnífico serviço.
Foram efectivamente as milícias do general Silveira e as dos coronéis Trant, Wilson e brigadeiro Muler as tropas que no norte do reino tornaram suportável a existência do exército francês de Massena no coração do país, pois que, a não serem as sobreditas divisões milicianas do dito general e coronéis, as forças de Dronet ter-se-iam seguramente apoderado do Minho, Trás-os-Montes e Beiras de onde em tal caso viriam todas as provisões necessárias para as tropas francesas de Massena, de que resultaria malograr-se a principal base do plano de defesa de Wellington, pois que parecia assentar principalmente na falta de provisões para o exército francês na Extremadura».
Ainda assim, sabe-se que em Junho de 1809 o exército de Soult, concentrado nas proximidades de Puebla de Sanábria, lançou um reconhecimento sobre Bragança, não ultrapassando a povoação de Rabal, a sete quilómetros desta cidade. A tradição local ainda refere os horrores cometidos pelos franceses na povoação de França, contígua à de Rabal, ao que se refere o seguinte documento que, por desconhecido, aqui arquivamos: «Diz o juiz da igreja, e mais povo do lugar de França que na nefanda desgraça que occasionaram os inimigos, além de outras notaveis perdas também tiverão as dos livros de sua igreja, assim fazendo-se essencialmente necessarios os assentos dos baptizados, e cazamentos, ao menos, d’aquellas pessoas, que por informação de outras melhor se puder averiguar P. A. V. Srª Sr. D.or V.o G.al seja servido dar comissão ao seu R.do Parocho para lançar em livros destinados n’esse fim os mencionados assentos. E. R. M.cê.
Despacho. Pela presente dou comissão ao R.do Parocho para que tomadas as obrigaçoens necessarias e segundo o resultado das mesmas abra os assentos competentes nos livros respectivos, e nos mesmos fará resistar este. Bragança 15 de outubro de 1809. Morais».
Depois, logo em seguida e antes do primeiro assento, tem: «Livro dos assentos dos baptizados do lugar de França, freguezia de S. Lourenço, abertos de novo pela comissão retro, por serem queimados os antigos pelo inimigo». Consta, pois, este documento do livro dos baptizados da freguesia de França, relativo ao ano acima (fl. 1).
Também referente ao mesmo se encontram no livro dos óbitos da freguesia de Rabal, relativo ao ano de 1809 (fl. 169 v. e 170), os assentos de Estêvão Afonso e Francisco Lourenço, naturais de Rabal, nos quais se declara que foram mortos pelos franceses nos dias 25 e 26 de Junho de 1809 no termo de Calabor, Espanha, povoação confinante da de França. Ao actual pároco de Rabal e França, José Miguel Machado, um sacerdote ilustrado e digno, agradecemos a boa vontade com que nos facilitou a inquirição destas notícias nos livros do registo das suas freguesias.
Na Gazeta de Bragança, de 25 de Abril de 1909, transcrevemos um assento de baptismo que se encontra nos livros de Montesinho, freguesia de França, feito a 6 de Fevereiro de 1809 de uma menina de uns espanhóis nobres, a julgar pelo longo estendal de avós que ostenta até à nona geração, tanto pelo lado paterno como materno, por nos parecer que essa família se encontraria aí retirada em razão da guerra.
Quanto aos dois homens de Rabal, mortos pelos franceses, contou-nos um velho, por o ouvir dizer a seus pais, que esses ferozes devastadores os tinham levado da povoação carregados de vinho, como se fossem jumentos, e chegando ao termo de Calabor, barbaramente os mataram, porque, já extenuados, não puderam aguentar mais adiante!!!
Nem só estes rastos de sangue deixaram esses inclementes assassinos!
Em Montesinho mataram outro homem, e no livro dos óbitos de Calabor, freguesia vizinha do reino de Espanha (fl.18 v.), acha-se este termo: «En el dia doze de agosto de este ano (1809) dei sepultura ecclesiastica en esta parrochia a dos soldados de caballaria portuguezes que en el dia diez de dito mez mataron los franceses en la Campiza, no pude saber su nombre ni su patria, y lo firmo Janez».
A Campiza (Campiça) é um monte português pertencente à freguesia de Aveleda, confinante da de Calabor.
E no mesmo livro (fl.17 v.) se acha mais o seguinte:
«En el dia treze de octubre del año de mil ochocientos y nuebe se hicieron los oficios por el anima de Juan Rodrigues, soltero natural de este lugar hijo legitimo de Juan Rodrigues y Cathalina Chimeno difuntos y veziños que fueron de este de Calabor, a quien uno de los soldados de la Division franceza mandada por el General Sul Duque de la Dalmacia que inundo la Sanabria en el dia veinte y tres de junio de este año hasta el veinte y seis de mismo, quito la vida de un balazo en un cabuerco del termimo de este lugar... era de edade de veinte y nuebe años y cerca de medio... e para que conste lo firmo dito dia, mez, y año ut supra. D. Clemente Janez de Santalla».
O roubo e o morticínio assinalaram a trajectória do reconhecimento, divisando-a com padrões de sangue de que ainda restam documentos autênticos. No intuito de o determinar e recolher alguns, dirigimo-nos a 5 de Julho de 1909, em companhia do nosso amigo José Miguel Machado, digno pároco de Rabal, para a região de Puebla de Sanábria, examinando de preferência os arquivos paroquiais.
No folio 117 v. do livro de defuntos de Pedralva encontramos, assento, a declaração de que «con la veinda de los franceses a estes (sic) logares aparecio muerto Francisco de Barrio vezino de este pueblo, en el terminio de Portello reyno de Portugal, com varias eridas en el pecho las que se presume recebio de mano de los franceses».
No folio 186 de um livro idêntico, pertencente à freguesia de Lobeznos, encontram-se dois assentos de óbitos e neles a declaração de que os defuntos a quem dizem respeito não receberam «la Santa Uncion por averla llevado los francezes».
Eram de prata os vasos que a continham, razão bastante para, aos olhos destes iconoclastas sacrílegos, se justificar o seu roubo.
No folio 187 deste mesmo livro lê-se: «En el dia veinte y ocho de julio de mil ochocientos y nuebe, se cumplio el entierro de Juan de Castro marido de Rosa Rodrigues de esta vecindade de Lobeznos, que murio violentamente a manos de los francezes el dia veinte y tres de junio de el dicho año, en cuio dia entrarom en este lugar, y estubo por sepultar hasta el veinte y ocho del mismo mez que marcharon los francezes».
Daqui concluímos que, não se encontrando nos arquivos das freguesias limítrofes de Requejo, etc., por nós visitados, notícias referentes aos franceses, o reconhecimento lançado por estes sobre Bragança marchou directamente das proximidades da vila espanhola de Puebla de Sanábria por Lobeznos, Pedralva e Calabor em Espanha, seguindo depois pelas freguesias portuguesas de Portelo, França e Rabal.
Devemos aqui agradecer a D. Manuel Jesus Fernandez, virtuoso e ilustrado catedrático e vice-reitor do Seminário de Zamora, natural de Lobeznos, a D. Magin Fernandez y Fernandez, pároco de Terroso, e ao actual pároco de Puebla de Sanábria a cativante boa vontade com que se prestaram a auxiliar-nos nestas investigações.
Por ter relação com esta guerra, damos aqui a seguinte notícia que se encontra manuscrita no Livro de Cazados de la villa de la Puebla de Senabria que da principio en 1720 (fl. 268).
Certamente seus efeitos se ressentiriam em Bragança e região ao norte do seu concelho, dada a estreiteza de relações comerciais, ainda hoje muito vigorosas, entre os povos de uma e outra nacionalidade. Diz ela:

«NOTICIA MEMORABLE
En este año de mil ochocientos y doce despues de estar sufriendo una guerra de las mas lamentables á causa de estar quasi toda la España inundada de francezes de los que emos esperimentado saqueos, muertes, cercos y los mas funestos desastres aun en esta villa la que á librado quasi mejor estamos sufriendo una hambre tam inaudita que en pocos anales se abera leido. En el mez de maio del dicho año valio la mina de pan de trigo a ciento dose reales velon, son quatro celemines. El centeno en mina a novienta y cinco reales. El vino su quartillo a quinze quartos».
A mina equivale a vinte litros, pouco mais ou menos, o real a quarenta e cinco réis, ao câmbio de novecentos réis o duro, e o quarto a dez réis.
«Habiendo amenazado una destruicion total de todas las cozas con la entrada de los Barbaros y crueles francezes en esta tierra, procuré estar prevenido y esconder las alajas de plata y ropas de la Iglesia, las que, pasado algum tiempo, saqué algunas para el servicio y uso necesario, las que en el dia viente y tres de junio de este presente año unas llevaron y otras destrozaron; por haber cogido á toda la tierra de repente, sin mas tiempo que poder escapar.
Llevaron um Calix, el Copon, la capa del viatico, y Criemeras.
Destrozaron tres albas finas, tres de lienzo con todos los amitos, sabanillas de altares con sus paños. Binageras, Capa de Damasco negro, y todo lo que se deja conocer de cemejante crueldad de gentes; y para que conste lo firmo, Terroso y julio 2 de 1809. Tambien destruyeron y llevaron bastante pan de la Iglesia. Moro».



Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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