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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Alheira de Mirandela: a salsicha portuguesa que salvou judeus e conquistou a BBC

A alheira de Mirandela existe desde o século XVI.
A alheira de Mirandela foi criada para esconder e salvar judeus, numa altura em que estes eram queimados vivos pela Inquisição. Uma jornalista da BBC descobriu a história e decidiu contá-la.

Não há nada mais português que os enchidos. Desde o chouriço à morcela, passando pela farinheira, ninguém recusa uma boa salsicha cheia de carne ou daquilo que, na verdade, calhar. Alheiras essas, há muitas: mas nenhuma tão famosa como a de Mirandela. A jornalista Theodora Sutcliffe, da BBC, esteve em Portugal e ficou rendida àquela que chama “a salsicha portuguesa que salvou judeus”.

A jornalista diz que “cada prato conta um milhão de histórias” e aqui, a história começa em 1492, quando Fernando de Aragão e a mulher, a rainha Isabel de Castela, conquistam o último bastião mouro da Península Ibérica – Granada – e invadiram o Palácio da Alhambra. Profundos católicos, os reis acreditavam que os judeus praticantes podiam incentivar aqueles que se converteram ao cristianismo a regressar à sua religião original. Contrataram interrogadores para perseguir judeus no seu reino: sim, estamos a falar da Inquisição espanhola.

Milhares de judeus fugiram de Espanha para Portugal, principalmente para Lisboa. Mas a partir de 1496, os judeus portugueses também foram forçados a converter-se ou, em alternativa, sair do país. Durante os dez anos seguintes, cidadãos mais conservadores, normalmente marinheiros, matavam judeus diariamente. Em 1536, a Inquisição chegou formalmente a Portugal e tanto judeus como judeus convertidos eram capturados e queimados vivos na pira, diante de um mar de gente, no Rossio.

Os judeus começaram a esconder-se e a formar comunidades em que se faziam passar por cristãos: escreviam em hebreu e fingiam rituais católicos para não levantar suspeitas. Mas em Trás-os-Montes, o disfarce foi mais original. Uma das principais maneiras que os membros da Inquisição tinham para descobrir os fugitivos era perceber se estes comiam carne de porco ou não – porque a religião judaica proíbe o seu consumo. Para enganar os investigadores, os habitantes de Mirandela criaram uma salsicha feita com pão e frango, que se assemelhava aos tradicionais chouriços e farinheiras com carne suína: a alheira.

Theodora Sutcliffe, jornalista da BBC, passou pela Manteigaria Silva enquanto esteve em Lisboa e ficou surpreendida com a história da alheira de Mirandela. Falou com Paolo Scheffer, um especialista na herança judaica de Lisboa, e foi aprender como se come alheira no restaurante Zé dos Cornos, na costa do Castelo: com um ovo estrelado, batatas fritas e arroz branco.

Nos dias de hoje, a alheira é um dos elementos típicos da cozinha portuguesa e já é feita com carne de porco, carne de caça ou pode até ser vegetariana. Depois de salvar milhares de judeus, saltou das montanhas de Trás-os-Montes para o resto do país.

in:observador

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