Maria Amélia Alves |
Passei muita fome. Comíamos caldo. Assim que comecei a usar socas, aos sete ou oito anos, tive de ajudar a minha Mãe, as coisas começaram a correr melhor. Íamos à lenha. A minha Mãe arranjava batatas e feijão. Fruta: maçãs, peras e figos. Os figos secavam-se a fim de se comerem pelo ano adiante. Às vezes apanhavam bicho, não importava, pão e figos sabiam bem. Comiam-se geralmente ao sábado ou dia de festa, como mata-bicho na matança. O fumeiro era: chouriças de assar, chouriças de cozer (boche) e salpicões. As alheiras ficavam muito caras.
Fumava-se utilizando lenha de sardão ou carvalho. Assavam-se as chouriças na grelha.
Os salpicões também se comiam crus.
O fumeiro guardava-se numa despensa ou em azeite. O pingo conservava os rojões da barbada ou do lombo.
No Inverno coziam-se rabas que se comiam com ovos cozidos. No Entrudo, come-se tudo.
A fruta punha-se na adega em cima de palha para durar, colocavam-se as castanhas num caniço, este ia para o fumeiro e assim elas ficavam piladas. Faziam caldo de castanhas.
A Mãe dava-lhe leite de cabra e fazia queijo fresco. A cabra velha vendia-se, os cabritos comiam-se nos dias de festa. As sardinhas partiam-se em duas, ela escolhia o rabo. Andava no rebusco da batata.
Uma vez assaram uma peça de vitela com quinze quilos de peso. Um fartote!
Carta Gastronómica de Bragança
Autor: Armando Fernandes
Foto: É parte integrante da publicação
Publicação da Câmara Municipal de Bragança
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