quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

“Não há frio que encolha os transmontanos”

A Norte combatem-se as baixas temperaturas com trabalho, agasalhos e lareira.
Deolinda Rodrigues, 66 anos. Foto: Olímpia Mairos/RR
Habituados aos rigores do inverno e às temperaturas negativas, os transmontanos enfrentam o frio com naturalidade.

Deolinda Rodrigues, 66 anos, empurra uma carreta em direção ao campo para colher alimento para os animais. Vai agasalhada, mas diz-se “habituada ao frio”. Levantou-se às cinco horas da manhã, quando os termómetros registavam 6º graus negativos, para “ir fazer uma feira” e de regresso à aldeia de Vale de Anta, concelho de Chaves, ainda não parou.

Sempre sorridente, diz que “o trabalho aquece, claro que aquece, porque se estivermos parados sentimos mais frio” e gracejando atira que o frio “só assusta os lisboetas, esses é que têm frio, mas não há frio que encolha os transmontanos”.

Em Soutelo, à soleira da porta, Maria Granjo, 79 anos, também não teme o frio. O sol vai aquecendo o corpo e as conversas com as duas vizinhas e assim vão passando o tempo.

Quando sai à rua vai “agasalhada” e dentro de casa “lenha na fogueira” são os remédios que usa para ultrapassar o frio. Ainda assim a septuagenária não considera que esteja muito frio. E entende que as temperaturas negativas “são naturais e fazem falta”.

“O frio faz bem à agricultura, faz bem às pessoas, é bom para curar os presuntinhos e a bicharada”, sustenta, recordando que “antigamente o frio era bem maior, o pessoal novo agora é que não admite, mas é verdade, ainda me lembro de bufarmos às unhas que não era brincadeira, mas agora parece que notam tudo diferente”.

Aurinda Ribeiro está por perto e entra na conversa. “Tem estado um bocadito de frio, mas combate-se bem com “bom lume, boa roupa na cama e uns petiscos bons”.

Com 64 anos, Aurinda lembra os tempos em que “o frio era tanto que até fazia candeolas nos telhados (formas vidradas, pontiagudas, semelhantes a estalagmites) e a gente até as tirava com a mão e quando íamos aos nabos nem os víamos tínhamos que lhe dar com o gadanho”.

“Isso sim é que era geada, frio e neve, agora não, este frio aguenta-se bem”, remata.

O frio não passa, segundo Albano Couto, 72 anos, de “modernices dos mais novos e da gente do sul” e, por cá, “aguenta-se bem com aquecimento central, quando estamos em casa, e na rua ao sol ou a fazer qualquer coisita”.

Opinião semelhante manifesta Maria, 72 anos, que regressa de uns terrenos agrícolas e aproveita para dois dedos de conversa com as vizinhas.

“No campo é que se anda bem e olhe que com umas ganchas nas mãos não se tem frio, até se aquece que eu até tive que tirar o casaco”, conta.

Por aqui as baixas temperaturas até são desejadas, porque, como diz Maria “fazem bem à agricultura e ajudam a curar as carnes”.

“Já os antigos diziam que o frio tal como cura as carnes do porco também cura as das pessoas”, graceja.

Num terreno mais acima, Miguel Antunes, 48 anos, está a trabalhar com uma máquina elétrica de cortar erva. Prepara o terreno para em breve plantar as batatas. Veste apenas uma camisa e assegura que não sente frio.

Frio? Não está frio nenhum”, diz, assegurando que “lareira só à noite com uns bons copinhos”.

Olímpia Mairos
Rádio Renascença

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