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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

…quase poema… ou da circunstância e do acaso

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)


Se tivesse nascido há cem anos, o meu pai, decerto, teria me dado um macho e andaria pelo mundo a comprar e a vender. Talvez vendesse azeite, vinho, polvo seco e mercearia … talvez compasse peles, cornichoilos e todas as miudezas da horta que coubessem nos alforges. Depois comeria umas batatas à espanhola na taberna da tia Carçona, pagava com um pataco e seguia viagem. E talvez fosse real… humano e produtivo.
Quando fui à feira do 21 a Bragança, com o meu pai, para comprarmos uma camioneta e irmos ao negócio, não devia ter encontrado o João do Castro que me disse que as Universidades já tinham aberto as matrículas. Bebemos um fino no Flórida e amigalhamo-nos no mesmo instante e lá fomos os dois para a Faculdade, para as aulas, para as tardes longas no Café do Piolho… para as noitadas no Porto e para a Licenciatura em tempo certo, porque a mesada era curta.
Para trás ficou a camioneta verde e preta, SCANIA que o meu pai me queria comprar, ficou o negócio da madeira e dos materiais de construção. Acho que o meu pai ficou muito triste. Se tudo tem sido diferente poderia ser um comerciante, ter um Soto com uma balança decimal, aprender a sapateiro como os meus tios, oficiais nas suas sapatarias, ser um camionista… um homem com colete, negociando nas feiras. Assim, aprendi a pensar e a inquietação do pensamento e acho que me falta tempo, porque me enganei no tempo e por isso escrevo estas coisas como um vício, enquanto ouço o meu pai, para todo o sempre, levantar-se cedo, comer umas sopas de ovo e partir para o negócio. Acho que me enganei no tempo… no espaço… mas por contradição gosto do que faço, nesta permanente interrogação filosófica… mas tenho que voltar de novo:
- Tia Carçona, quanto custa uma espanholada?!
- Quanto me levais por um litro de azeite?!
Entretanto deixo este desabafo que não serve para nada, enquanto sonho com as ladeiras de Izeda condensadas na pobreza do meu texto inútil… memórias… talhadas na obediência cega da circunstância e do acaso.


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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