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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 11 de março de 2018

Viva o vinho português, que é o melhor do mundo!

É muito mais saudável irmos trocando elogios uns com os outros. O que importa é haver muito vinho para bebermos e irmos levando a nossa vidinha da melhor forma que pudermos. Viva Portugal!
Foto: FERNANDO VELUDO/NFACTOS
O meu querido amigo e colega Edgardo Pacheco disse há dias de mim que parece que eu escrevo mais com uma malagueta do que com um teclado. Agradeço o elogio/crítica, mas isso só prova que há algo de errado no mundo do vinho.

Na política ou no futebol, a crítica, em jeito de crónica ou texto de opinião, pode ser contundente e mordaz. O Estado falha com alguma coisinha (e o Estado somos todos nós) e caímos logo sobre o governante da tutela como leão faminto. Nos vinhos, as “especificidades” do negócio só nos deixam um caminho: o da paz e amor (que, honra lhe seja feita, não é o que Edgardo Pacheco segue). 

Se falamos mal ou muito mal de um vinho, é certo e sabido que o produtor não voltará a enviar-nos amostras; se um certo produtor é conhecido por partilhar grandes vinhos com os jornalistas e nos atrevermos a criticá-lo publicamente, só por sorte nos sentaremos de novo à sua mesa; se tivermos a ousadia de criticar uma grande empresa pelo seu comportamento no mercado, é sagradinho que não voltaremos a ser convidados para viagens ou grandes eventos; se fugirmos à hipocrisia das palminhas nas costas e criticarmos o presidente da comissão de vitivinicultura X, por erros de estratégia ou por olhar mais para os interesses das grandes empresas e esquecer os produtores mais pequenos, somos remetidos para a categoria dos inimigos e poderemos dizer adeus a qualquer tipo de patrocínio futuro; se desvalorizarmos os milhares de prémios banais que todos os anos são atribuídos aos vinhos portugueses, é porque temos inveja e somos pouco patriotas; se denunciarmos os métodos menos correctos de algum colega, aqui- d’el-rei!, que isso é sinal de mau carácter, porque é feio criticar os nossos pares.

Mais outro exemplo: as revistas da especialidade organizam eventos abertos a todos os jornalistas, mas, se o organizador for a Revista de Vinhos, nenhum jornalista da Grandes Escolhas vai aparecer. Se for a Grandes Escolhas a promover um prova ou uma feira, não aparece ninguém da Revista de Vinhos. Os produtores, que são os que pagam as favas, só têm duas soluções: ou dizem ámen com todas as revistas e vão a tudo o que elas organizarem, investindo em dobro, ou “adoptam” uma revista e já sabem que vão ter menos atenção da revista concorrente.

Não parece, mas o mundo do vinho em Portugal é um bocadinho pantanoso (não é só o sector do vinho, claro). E é-o porque dependemos todos uns dos outros. Se as revistas não organizarem feiras, um dos meios mais eficazes de divulgação e promoção do vinho, não sobrevivem; se os produtores não nos enviarem garrafas para provar ou não nos convidarem para apresentações ou viagens, deixamos de ter razão de existir. O ideal seria os jornalistas pagarem tudo, para deixarem de ficar condicionados, e as revistas da especialidade se dedicarem apenas a trabalhos editoriais. Mas já se sabe que isso não é possível, em Portugal e em qualquer país do mundo.

As coisas são como são e não há inocentes. Porém, não podendo ser as ideais, podem ser sempre melhores se aceitarmos a crítica e a denúncia como algo normal e até saudável. Denunciar o que está mal, em nome de uma sociedade melhor, foi sempre o primeiro dever do jornalismo. E esse é um dever que se estende a todas as áreas da nossa vida colectiva. Denunciar, criticar, mas também aceitar a devolução da denúncia e da crítica, porque ninguém está isento de julgamento. Os direitos de resposta e de defesa existem para ser utilizados e são tão importantes como o direito de expressão.

Sem querer personalizar em demasia o assunto, acreditem que não me move qualquer questão pessoal contra a presidência do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), mas como podemos calar-nos quando sabemos que o IVDP está a investir cerca de um milhão de euros numa nova sede na Régua e se deixa a imponente sede da antiga Casa do Douro a cair aos bocados? Então, em nome da boa gestão e do interesse público, não era mais justificado dar uma segunda vida a esse edifício histórico e instalar lá todos os serviços relacionados com a vitivinicultura do Douro, poupando assim muito dinheiro e poupando também os lavradores de andarem a peregrinar de serviço em serviço?

E faz alguma sentido que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro vá gastar centenas de milhares de euros na construção de uma adega no seu campus, quando o Ministério da Agricultura dispõe de uma adega e de várias edifícios de apoio na Quinta de Santa Bárbara (junto ao Pinhão) que pouco ou nada usa? Não fazia sentido entregar a quinta e a adega à UTAD para esta fazer ali, no centro do Douro, o seu campo de experimentação e investigação?

Também é normal que a Viniportugal, a associação interprofissional que, com uma parte das taxas pagas pelos produtores de vinho, promove o vinho português no mundo, traga jornalistas estrangeiros e personalidades com influência juntos dos consumidores e coloque como condição que só os produtores com um paço, uma casa brasonada ou uma quinta com relevância histórica ou paisagística os podem receber? Então os jovens enólogos e produtores que estão fazer belos vinhos em Trás-os-Montes, no Dão, na Bairrada, em Lisboa, no Alentejo, no Douro, na Beira Interior ou nos Açores são párias, só porquem não têm paços e as suas quintas são pequenas vinhas velhas? O mercado global está ávido de vinhos diferentes e alternativos, mas quem promove Portugal continua a promover os mesmos vinhos e os mesmos rostos de sempre.

Mais um exemplo: a maioria dos presidentes das comissões vitivinícolas regionais adora publicar estatísticas a anunciar aumentos vertiginosos nas vendas de vinho, mas oculta o essencial: o preço baixo e a existência de um negócio paralelo de tráfico de uvas e de vinhos. Nunca ninguém se interrogou sobre como é possível que todos os anos as anunciadas quebras de produção raramente se confirmam, pelo menos na dimensão esperada? Toda a gente do sector sabe que entra muito vinho espanhol em Portugal que acaba rotulado com o selo da respectiva denominação de origem. O vinho não fala. Se isso não acontecesse, como seria possível encontrar nas grandes superfícies vinhos tão baratos? 

E podia continuar, mas, se calhar, o melhor mesmo é só falar de coisas boas. A Primavera está mesmo à porta, o mundo é belo e nunca fez mal às costas ser prosmeiro (regionalismo transmontano para classificar um adulador). É muito mais saudável irmos trocando elogios uns com os outros. O que importa é haver muito vinho para bebermos e irmos levando a nossa vidinha da melhor forma que pudermos. Viva o vinho português, que é o melhor do mundo! Vivam as nossas castas, que são as melhores do mundo! Vivam todos os enólogos, produtores, dirigentes que trabalham diariamente para que as nossas castas e os nossos vinhos sejam os melhores do mundo! Viva Portugal! Heróis do mar, nobre povo, nação valente…


Pedro Garcias
Jornal Público

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