terça-feira, 3 de abril de 2018

"Memórias do Salto" chegam ao Museu Abade de Baçal

O Museu Abade de Baçal, em Bragança, inaugura no próximo dia 7 de abril a exposição "Memórias do Salto: Emigração clandestina no estado Novo em Trás-os-Montes", um projeto de mediação patrimonial que visa valorizar, registar e divulgar as memórias dos portugueses oriundos do Nordeste Transmontano que emigraram de forma ilegal para França entre 1958 e 1974. Trata-se de um projeto desenvolvido pelos Amigos do Museu Abade de Baçal e pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Nos anos sessenta, em pleno regime do Estado Novo, muitas foram as pessoas que por todo o país se aventuraram a procurar uma vida melhor para lá das fronteiras de Portugal. 

E porque as fronteiras estavam fechadas, foi necessário passar a salto, clandestinamente, longe das patrulhas da Guarda Fiscal, que muitas vezes fechava os olhos porque sabiam que aqueles homens e mulheres “iam ao destino governar a vida”. 

Mas muitas vezes eram apanhados e chamada a Pide, uma polícia política a quem interessava sobretudo os passadores, um grupo de homens que se organizava também clandestinamente em redes que envolviam muitas outras pessoas, com tarefas bem definidas para levar o grupo até um determinado ponto. 

No início dos anos sessenta era perigoso passar em Espanha. A viagem chegava a demorar mais de uma semana, sempre de noite, muitas vezes a pé, por sítios que ainda hoje os ex-emigrantes não sabem descrever. Depois de 1967, os espanhóis facilitavam mais e as viagens começaram a demorar menos tempo e o dinheiro pago aos passadores também diminuiu. 

Estes testemunhos são contados na primeira pessoa e foram alvo de uma recolha oral nos concelhos de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda do Douro, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros. 

Um projeto da Associação dos Amigos do Museu do Abade de Baçal, em colaboração com o Museu do Abade de Baçal e a Faculdade de Letras do Porto que obteve cofinanciamento do Norte 2020, com o nome de “Memórias do Salto”, que dá forma a esta narrativa. 

Durante mais de um ano, uma equipa de investigadores percorreu este território do Nordeste Transmontano à procura de testemunhos vivos de todo o processo que envolveu a emigração, antes do 25 de abril de 1974. 

Emigrantes, passadores, angariadores, guardas-fiscais, elementos da Pide, partilharam as suas memórias, que este projeto pretende salvaguardar e valorizar integrando-as agora no acervo do Museu do Abade de Baçal.

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