Vila Verde, uma aldeia do concelho de Vinhais, no distrito de Bragança, que tem escondida uma fraga que reúne algum mistério segundo a população. Um amor proibido de uma princesa e um cristão novo fechado nesta fraga, onde muitos acreditam ainda repousar uma bela moura…
Quem passa por esta aldeia do nordeste transmontano não fica indiferente às paisagens verdejantes que a circundam. “Não é vila, mas é verde”, dizem alguns habitantes da aldeia. Rodeada destes viçosos verdes está precisamente uma fraga que há décadas está envolta de misteriosas histórias. Verónica Lousada, uma jovem da aldeia utiliza precisamente esse adjectivo para descrever esta fraga: misteriosa. Sendo isso sinónimo de curiosidade em criança era um dos seus sítios predilectos para brincar. “Era como se fosse um sítio místico mas ao mesmo tempo assombrado. Tentávamos encontrar a bela moura que se banhava no rio a pentear os seus longos cabelos com um pente de ouro. Diziam que ia para o rio através de túneis subterrâneos, os quais tentámos inúmeras vezes encontrar mas sem sucesso, por onde também os mouros levavam os seus cavalos a beber ao rio, porque jamais eram vistos à superfície”, partilha a jovem, histórias contadas por gente mais velha quando Verónica ainda era criança.
Reza a lenda…
Que quando os Mouros dominavam quase toda a Península Ibérica na povoação de Vila Verde, que naqueles tempos remotos, pertenceu aos donatários de Póvoa Rica, hoje a então Vila de Vinhais, havia uma torre fortificada, que serviu de refúgio a uma princesa moura chamada Fátima-Yusef, filha de um monarca tirano que reinava no norte da Península Ibérica. Na altura viu-se de tal forma perseguido, derrotado pelos cristãos que resolveu esconder naquela torre em Vila Verde a sua filha devidamente protegida por uma escolta de guerreiros dispostos a tudo para impedir que algo de mal lhe acontecesse.
Sendo a moura Fátima muito bonita, dizem até que nunca tinha sido vista mulher com tal beleza pelas redondezas, causou grande curiosidade à sua volta, que dificultava a vida dos guerreiros mouros que a queriam manter em segurança. Mas entre os curiosos havia um valente cavaleiro cristão que vinha a Vila Verde com frequência visitar os seus pais. Mal soube da presença da bela moura na torre, procurou maneira de a ver de perto. Corajoso pediu o capote a um pastor que guardava habitualmente um rebanho nos prados à volta da torre e foi durante alguns dias tentar ver a moura. Não foi tarefa fácil, mas a persistência era característica do jovem cavaleiro que conseguiu finalmente ver a princesa e cruzar com ela olhares de cumplicidade amorosos, o dito amor à primeira vista, embora sem trocarem uma palavra.
Estando só de visita aos seus pais, teve de regressar ao seu posto nas tropas cristãs e a princesa lá ficou, sozinha e triste.
Passaram meses sem se ver a princesa já desesperada pensava não voltar a ver o cavaleiro que morria de saudades e pediu licença por uns dias para ir à sua terra-natal e desfrutar de novo da mágica visão que tanto o desassossegava. Ali chegado, voltou a procurar o pastor para lhe emprestar o capote e lá foi ele revê-la. Os olhares que trocaram foram mágicos e o amor entre ambos tinha crescido com as saudades que sentiam, no entanto era hora de partir.
Mas o pastor ficou com ciúmes e traiu o jovem apaixonado denunciando-o ao chefe mouro, mas não satisfeito ainda com tal crueldade ordenou à princesa para reunir o seu enxoval e seguirem no dia seguinte contar ao seu pai.
A princesa não respondeu nem uma palavra, sabia eu que de nada lhe valeria. Sabia também que a esperavam dias terríveis junto do seu pai e quer não teria força para o enfrentar. Para além disso, julgava que o jovem cavaleiro já estaria morto por esta altura, afinal, razão dos seus castigos. Por isso na manhã seguinte, ao passar com a escolta nas escarpas de um lugar chamado pena cabreira, onde está a tal fraga em Vila Verde, a jovem adiantou-se e foi empurrando para o abismo um a um todos os mouros que a acompanhavam. Segundo a lenda, após esta malvadez, a bela princesa desapareceu no interior dessa mesma fraga, ficando encantada e que hoje o povo identifica como a “fraga da moura”.
Diz-se que algum tempo depois, o jovem cavaleiro regressou a casa, e ao ser informado do que se havia passado procurou desesperadamente a princesa montado no seu javali até que na referida gruta encontrou restos de seda e damasco que terão feito parte das suas vestes no dia da sua partida. Nessa mesma noite ouviram-se gemidos longínquos misturados com o chiadouro de um tear em movimento.
Segundo Verónica Lousada “É voz do povo e com muita convicção, que a fraga ainda aqui está encantada, e que o Cavaleiro Cristão voltou aos combates, fazendo por morrer”, refere a jovem sentada em cima desta fraga que na verdade, lá está para autenticar em parte a lenda. Em jeito de recordar tempos de criança Verónica grita : “Oh Moura estás aí?!”
Revista Raízes
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