(Fotografias: Rui Manuel Ferreira/GI) |
Bragança, cenário de numerosos conflitos fronteiriços entre Portugal e Espanha ao longo dos séculos, palco de caos durante as invasões francesas, sempre arregaçou as mangas para sobreviver face ao solo agreste e ao clima hostil. Não admira, pois, que tire partido de uma das zonas com maior diversidade de fauna e flora do país – o Parque Natural de Montesinho, ex-líbris transmontano que integra os concelhos de Bragança e Vinhais numa área de 74 mil hectares. Aqui fica a aldeia de Oleiros, onde os castanheiros se alinham planalto fora. «O castanheiro é importante para a biodiversidade, mas também para a economia da região», explica António Sá, guia e fotojornalista, que em 2010 trocou Espinho por Lagomar, uma aldeia ao redor da serra.
Muralhas da Cidadela |
Um passeio pelo Rio Fervença |
Pedra, madeira e neve: a moldura da aldeia de Montesinho, dentro do parque que lhe dá nome |
A relação simbiótica entre populações e natureza já vem dos dias em que o Castelo de Bragança e a sua cidadela eram o centro da vida dos brigantinos. Pensado para funcionar como um centro regional da zona mais periférica do reino por D. Sancho I no século XII, o edifício medieval viria a tornar-se símbolo de poder militar na fronteira. De olhos postos no castelo, salta à vista a Torre da Princesa, ornamentada com várias janelas góticas. Ao lado, fica o pelourinho que é, segundo a especialista Emília Nogueira, o mais antigo vestígio da vila. Datado do século XIII, inclui a figura de um berrão, da Idade do Ferro, «uma das muitas esculturas ilustrativas de rebanho feitas na época no Norte da Península».
Um passeio pela aldeia de Montesinho |
Antigo e moderno
Descendo, chega-se à cidade moderna. Na Rua Engenheiro José Beça, o Solar de Santa Maria, hoje utilizado para turismo de habitação, é um exemplo vivo das casas senhoriais do século XVII. Mais à frente, naquela que já é conhecida como a «rua dos museus», a Rua Abílio Beça, situa-se o Museu do Abade de Baçal, detentor do maior acervo cultural e artístico da região, com obras que abrangem arqueologia, epigrafia, arte sacra, pintura, ourivesaria, numismática, mobiliário e etnografia. A alguns metros dali fica a igreja de São Vicente, uma das mais emblemáticas da cidade, pois diz-se que terá sido palco da boda secreta de D. Pedro e D. Inês de Castro.
Bragança é também casa do Centro de Fotografia Georges Dussaud |
Vista para o interior da Igreja de Santa Maria do Sardão, na Rua da Cidadela |
O cozido à portuguesa do restaurante O Poças, junto à Praça da Sé |
Javali à mesa
Vindo das serras onde esgravata por invertebrados e se esconde entre as árvores, o javali é presença assídua na ementa de qualquer restaurante típico. É assim também na Taberna do Javali, mesmo ao lado do castelo, onde há risoto de javali, sandes de javali e, até, francesinha de javali. Aqui, a castanha é a estrela das sobremesas, podendo vir em pudim ou em tarte.
Na renovada Pousada de São Bartolomeu, dorme-se com o castelo à vista |
No restaurante Porta, do chef André Silva, a tradição não impede a inovação. As duas complementam-se |
Texto: Maria João Monteiro
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