terça-feira, 25 de junho de 2024

A origem das fogueiras de São João

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)


A história de São João, da maneira a qual é contada oralmente no interior do Brasil, é algo distinta daquela com que é conhecida nas cidades. Muita gente crê que a fogueira e os fogos de São João devem-se à uma promessa feita pela prima de Maria, Isabel, que mesmo depois dos sessenta anos de idade ficou grávida de um filho, que viria a ser João Batista.
As duas primas moravam distantes, porém Isabel morava no alto de um espigão. Isabel prometeu à Maria que, tão logo desse a luz, acenderia uma grande fogueira e soltaria fogos de artifício; dessa maneira, Maria ficaria sabendo da boa nova. Maria não podia ir visitar a prima por ela também estar grávida, e a caminhada era bastante dura.

A outra lenda sobre João Batista dizia que João, ainda menino, era um santo muito folgazão, daqueles que exalam alegria todo o tempo. E a coisa que ele mais gostava eram as festas.

No céu, conta-se, que todos os santos comemoravam seus aniversários com festas. Havia uma festa para cada um deles. E foi então João reclamar com Deus; se todos os outros santos tinham suas festas, ele também queria uma para si! E Deus, na sua infinita bondade, prometeu-lhe uma. E disse-lhe Deus que sua festa seria a mais bonita. João ficou muito feliz com a nova, que saiu correndo pelo céu, fazendo algazarras, contente da vida, chamando a atenção de todos os outros santos para si. Ele, na sua euforia, espalhou para todos que pudessem ouvir que, finalmente teria sua festa, e que ela seria a mais bonita de todos os santos. João dizia a todo mundo que na sua festa faria uma fogueira muito grande, fogueira esta que seria vista pelo mundo todo, que ela seria tão grande que quase poria fogo no mundo. Na sua festa, dizia João, ele soltaria rojão, fogos de estrelinhas e teria além de rezas, música e muita bebida. A vontade de João era tanta que parecia embebedar-se de tanta felicidade. Desde então, todos os santos, com medo de que João ponha fogo no mundo e comporte-se mal, o fazem dormir na véspera de seu aniversário, anos após ano; séculos após séculos. Assim, até hoje, as pessoas comemoram o dia de São João de maneira segura. Em alguns cantos do mundo há o costume das pessoas baterem nas casas, perguntando: -"São João passou por aqui?" E a resposta é sempre: "ainda não"! 
No céu, quando João acorda, sempre pergunta: 
- "Hoje é o dia da minha festa?" 
Então, os outros santos respondem que não, ou que seu aniversário já passou; que ele dormiu e que a perdeu. Então, João começa novamente a fazer planos para sua próxima festa, garantindo que não a irá perdê-la, de modo algum. Mas, sempre, com medo do fogo, os outros santos farão com que João durma, fazendo-o perder sua festa mais uma vez, e assim continua, pela eternidade afora.
Também eu, ACAS, desejo que todos continuem a festejar São João de modo seguro, com fogueira pequena, para não pôr fogo no mundo e que bebam só um pouquinho para se aquecerem do frio do inverno. Desse modo continuamos a festejá-lo em paz, com a graça de Deus. 
E se alguém, mesmo em sonho, te perguntar se São João passou por aqui, diga-lhe que ele está dormindo! Não seremos nós os culpados desse João pôr fogo no mundo, não é verdade? 
Escrevi este texto baseado em informações trocadas com a Tita (à época com 78), a Dadá (à época com 72), e da Luciene Lima; crítica literária, além de menções dispersas trocadas nos sites que esporadicamente visito. Acredito que a humanidade está dormindo para as coisas simples. Uma metáfora pode fazê-los acordar. Há Joões aos montes nas ruas, passando frio em noites de inverno, sem comida, sem horizontes, perdidos. Espero que a humanidade possa ajudá-los antes que façam uma fogueira tão grande, que possa por em risco o mundo. Se ainda houver tempo, é claro!

Antônio Carlos Affonso dos Santos
– ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 9 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de 5 outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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