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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 24 de junho de 2018

As democracias estão em declínio. E a nossa?

A principal ameaça à qualidade da nossa democracia vem de grupos de interesse organizados defenderem acerrimamente e com sucesso os seus interesses particulares ignorando o interesse público.

1. As democracias liberais europeias estão em declínio. Há que dizê-lo, com preocupação, mas com frontalidade. Só podemos combater  essa rampa descendente se a reconhecermos em todas as suas manifestações. Se a segunda metade do século XX foi o século da democratização do continente europeu, com sucessivas vagas no oeste e no leste, o primeiro quartel do séc. XXI está a mostrar-se como o da retração da qualidade da democracia e o início de derivas autoritárias anti liberais. Os alicerces dos regimes democráticos    são um conjunto de instituições, de valores e finalmente de homens e mulheres que dão corpo a esses valores e que fazem funcionar essas instituições. Essencial para o funcionamento democrático é a ideia simples de representação que se opõe à visão populista de representação direta e de ausência de mediadores (partidos). A separação de poderes e a qualidade do seu exercício são essenciais. Um sistema judicial eficaz e independente do poder político, um executivo que governa para os seus cidadãos, uma assembleia representativa dos cidadãos que legisla para o bem comum destes. Os valores em que assenta a democracia, são o da legitimidade do uso da regra da maioria, na impossibilidade de consensos, mas da preservação constitucional e real dos direitos das minorias, da tolerância religiosa, do respeito pela diversidade humana. A democracia não existe sem o escrutínio de uma imprensa livre.

2. São cada vez mais os países europeus em que  se violam uma ou várias destas características. Líderes autoritários e populistas vão-se afirmando em democracias já de si pouco consolidadas – casos de Erdogan (Turquia), Putin (Russia), Orban (Hungria). Como bem sistematiza a  há quatro passos para minar democracias. Primeiro, a base é o descontentamento popular com o status quo (e.g. crise financeira, refugiados). Depois, políticos autoritários arranjam bodes expiatórios internos ou externos para reforçar o seu poder. Alcançado este, passa-se à fase do enfraquecimento do poder judicial e da imprensa e de pôr em causa alguns direitos individuais. Finalmente, o colapso dos regimes democráticos quando as eleições deixam de ser justas, as constituições alteradas para concentrar o poder das maiorias absolutas. A forma fácil de olhar para esta degenerescência da democracia é dizer que são fenómenos preocupantes, mas relativamente isolados. Mas será assim?

3. Mesmo nas democracias mais consolidadas cresce extraordinariamente o peso de partidos e pessoas que não partilham os valores que sustentam as instituições democráticas: Marine Le Pen (França), a Alternativa pela Alemanha (AfD), Freedom Party (Holanda e Áustria), Liga (Itália), os Verdadeiros Finlandeses, os Democratas Suecos e o Partido do Povo da Dinamarca.    Acontece que mesmo nestes casos, apesar de não estarem no poder estes partidos nacionalistas e de direita, pelo peso eleitoral que têm (ver Tabela) acabam por influenciar decisivamente as políticas. Veja-se o caso recente do ministro do Interior alemão da Baviera (CSU) que com a perspetiva de eleições em Outubro, está a radicalizar o seu discurso numa confrontação com Merkel pondo em causa a coligação, ou do primeiro-ministro sueco (social-democrata) que ameaçado nas sondagens pelos nacionalistas Democratas Suecos, está a radicalizar as suas políticas de imigração para a restringir, embora, segundo indicam as sondagens, aparentemente sem grande sucesso. Ver AQUI.


Note-se que a Suécia foi o país que em 2016 teve a maior proporção, relativamente à população, de entrada de imigrantes originários de fora da UE (1,06%).  A expressão eleitoral dos partidos anti-imigração, quer nas democracias consolidadas quer nas novas democracias é substancial. As sondagens indicam que o seu peso irá aumentar nas eleições deste ano. Se não existir uma resposta democrática europeia bem sucedida em relação às migrações de fora do espaço europeu para a Europa – e estou céptico que ela possa vir a  emergir da cimeira de Junho – cada país continuará a seguir o seu caminho e as tragédias humanitárias continuarão.

4. Portugal fortemente afectado pela crise financeira, não tem estado sujeito diretamente aos efeitos da crise migratória. O peso dos imigrantes de fora do espaço europeu para Portugal são comparativamente modestos (ver tabela) e muitos veem de países de língua oficial portuguesa o que facilita a sua integração. Temos a obrigação moral de receber refugiados com o objetivo solidário de aliviar esta crise humanitária dando o nosso contributo equilibrado no contexto europeu. O objetivo utilitário, por vezes referido, de rejuvenescimento e não declínio acentuado da população até 2060, não deve ser o objetivo prioritário até porque, para isso temos outros instrumentos de política mais eficazes (políticas integradas de natalidade).  Se a crise migratória não é um problema, a crise financeira continua a pesar no país, por isso a principal ameaça à qualidade da nossa democracia vem de grupos de interesse organizados defenderem acerrimamente e com sucesso os seus interesses particulares ignorando o interesse público e a vulnerabilidade do país.

PS. Recomendo ao leitor interessado na temática da influência dos grupos de interesse  o livro recentemente editado pela Almedina, de Mancur Olson, inserido na coleção Areté do Instituto de Políticas Públicas. Ver AQUI.


Paulo Trigo Pereira
Observador

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