sexta-feira, 29 de junho de 2018

Na Pousada de Bragança, o castelo está sempre na mira

A reabilitação do edifício dos anos 50 do século XX, símbolo da discreta arquitetura moderna, devolveu-lhe o encanto de outros tempos.
O painel de azulejos de Júlio Resende
 é uma das obras em destaque na pousada
Lucília Monteiro
Na descrição da obra, o arquiteto José Carlos Loureiro falava da ligação da Pousada de Bragança, “nos seus espaços mais importantes, à esplendorosa paisagem do castelo e sua envolvente”. Aproveitando a implantação do edifício no alto do monte de São Bartolomeu, na margem oposta do rio Fervença, valorizou a relação com o casco histórico e conseguiu que, não só nas áreas comuns, nos jardins e na piscina exterior, mas também em todas as varandas dos 28 quartos, se tenha uma vista privilegiada do mesmo. Contrariando os estereótipos da encomenda feita pelo Antigo Regime, nos anos 50 do século XX, o mestre da arquitetura moderna optou por linhas singelas e elegantes, e privilegiou materiais locais como a pedra e a madeira.

Com a reabilitação do edifício, renovou-se também 
o mobiliário, quer da sala de estar quer dos quartos, com áreas desafogadas e camas decoradas com colchas de burel mirandês
Lucília Monteiro

A traça do edifício, ampliado por José Carlos Loureiro em 1996, foi respeitada nas reabilitações concluídas recentemente. “Os materiais primários da construção eram muito bons”, conta António Gonçalves, da família a quem o Grupo Pestana entregou a gestão desta Pousada de Portugal, há cinco anos. Curiosamente, o patriarca, Adérito Gonçalves, começou aqui a vida profissional e guarda boas memórias do passado, durante o qual serviu, inclusive, figuras de Estado como Marcelo Caetano e Américo Tomás. “Esta foi a minha escola, jamais imaginei que, após me ter estabelecido por conta própria, iria regressar”, diz o proprietário do restaurante O Geadas, um clássico brigantino, aberto há 33 anos.


A vieira com azedo de Vinhais (uma espécie de alheira, de travo mais vincado) é um dos pratos servidos no restaurante G, a enaltecer os produtos locais
Lucília Monteiro

O painel de azulejos de Júlio Resende e a lareira de granito tipicamente transmontana, ladeada de bancos, marcam a sala de estar, com mobiliário renovado. Tal como acontece nos quartos, com áreas desafogadas e camas decoradas com colchas de burel mirandês. Na discreta sala de jantar do Restaurante G, brilham as criações de Óscar Gonçalves, a enaltecer os produtos da região, desde o pregado com cuscos de Vinhais ao Ferrero Rocher de alheira, castanha e amêndoa. “Somos uma das portas do País, não faz sentido dar caviar aos turistas”, defende o chefe de cozinha. Porque é também pela gastronomia que querem afirmar o destino Bragança.



Joana Loureiro
Visão7

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