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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

From Greenford to Brixton

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Nos idos de 90 do século passado, trabalhava eu em Brixton Road, na fábrica de pastelaria da Amalfi Patisseries, Ltd. Fazia o turno da manhã e começava a laborar às 05:00 a.m.. Vivia em Greenford, mais propriamente em Oldfield Lane que distava de Brixton cerca de 15 milhas.
Vauxhall Bridge Road

O percurso fazia-se pelo centro da cidade, apanhando a A40 em Greenford, mantendo o rumo até Acton e, seguidamente, Paddington, Bayswater Road, Marble Arch, Park Lane, Hyde Park Corner e Victoria, até entrar em Vauxhall Bridge Road, Vauxhall, Oval e, finalmente, Brixton Road.
Fazia este trajeto diariamente de segunda a sábado, sem complicação de maior, dado que, nesse horário, o tráfego é reduzido, havendo apenas o impedimento dos semáforos que são muitos e obrigam a paragens mais ou menos compassadas. 
Havendo atingido Vauxhall Bridge Road, apercebi-me que havia aparato policial, tendo, logo de seguida, recebido ordem de paragem, dada por um agente da Met Police. Parei, abri o vidro do meu lado e desliguei o rádio. Como invariavelmente acontecia, estava sintonizado na BBC Four.
Saudou-me o agente com um agradável Good morning, sir, a que eu respondi Good morning, officer. Informou-me, com gentileza que não poderia prosseguir pois havia inundação mais à frente, devido ao rebentamento de uma conduta de água que condicionava todo o tráfego nessa artéria. “You cant´t follow this way, better you turn back and choose the best alternative available” acrescentou. Agradeci dizendo que conhecia bem a zona e que não me seria difícil achar outro caminho para Brixton Road. Informação dada e compreendida, o agente disse Have a good day ao que eu respondi You too. Preparava-me para subir o vidro quando o oiço dizer, ao mesmo tempo que fazia sinal para que não subisse o vidro, By the way, thank you for switching off the radio.
Foi grande a minha estupefação! Quando retomei a marcha, pensei na postura desta gente que leva a sério tudo o que faz sem perder a postura e a serenidade. Agradeceu-me o gesto de desligar o rádio para que o diálogo se tornasse mais fácil. Eu havia-o desligado, convicto de que era a maneira mais correta de lidar com a autoridade. Ele, por sua vez, tomou nota da gentileza e brindou-me com um Thank you very much que define a galhardia de um cavalheiro. Um verdadeiro gentleman. 
Vindo de onde vinha, habituado a uma certa rudeza e imperativa maneira de falar para os cidadãos, por parte da autoridade homóloga do meu país de origem, o impacto que este breve acontecimento causou em mim foi de pura admiração e desejo de seguir tal exemplo de civilidade e boas maneiras. Retive o gesto como uma constatação, feita no momento, de que é possível ter autoridade e educação, usando do senso comum e das boas maneiras para lidar com toda a gente, independentemente do seu estatuto social ou rácico. Era mais que evidente que eu era um estrangeiro, um emigrante que estava ali para ganhar algum dinheiro que me ajudasse a elevar o meu padrão de vida e que era merecedor de um tratamento bem britânico em que o uso da autoridade não se desliga da educação, bem fundamentada de quem a exerce.
Aprendi com eles muitas coisas, que, por serem do foro universal e usadas como regra de vida, mudaram a minha forma de estar e conviver. O meu instinto natural era propício a essa forma de estar, mas foi na prática diária desse modo que moldei a minha ação cívica de relacionamento. Foi através deste agente que o meu modo de ver a Polícia como instituição para o povo se confirmou em absoluto no meu espírito.
Tinha já visto e assistido in loco a outros exemplos de exercício da autoridade de alguma nobreza. Mais tarde, noutra crónica, contarei outras vivências também capazes de me impressionar e enternecer, mas é esta aquela que primeiramente me ocorre quando penso em contar os belos momentos que Deus foi servido conceder-me em terras de Sua Majestade.
Espero que os portugueses que residem ou pensam vir a residir nessas paragens mais a norte possam colher os frutos do que nós outros, que por lá passámos, deixámos semeado com a esperança de que alguém da nossa gente pudesse beneficiar.
Obrigado ao agente da Met Police que me abordou naquela madrugada em Londres e me transmitiu duas mensagens utilíssimas: a de uso imediato, ao dizer-me para mudar de rumo pois aquele que seguia estava impraticável e outra mais útil para a vida, que foi o ter-me agradecido por eu ter sido educado. Apenas e só!
Thank you, officer, for being so kind that happy morning.





A. O. dos Santos
(Bombadas)

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