terça-feira, 25 de setembro de 2018

O CASO DE IZEDA OU AS BARBAS DO VIZINHO A ARDER

A povoação de Izeda, que chegou a ser efémera sede de concelho no século XIX, foi reconhecida como vila há alguns anos, condição que de pouco lhe tem valido, apesar das esperanças que os seus naturais acalentaram.

Trata-se de um exemplo expressivo dos resultados de políticas que desprezam o território, as suas potencialidades e, principalmente, as pessoas em nome das quais se deveriam conduzir os destinos do país.

Situada no sul do concelho de Bragança, numa zona de transição para a terra quente do distrito, produtora de azeite de qualidade reconhecida, a sua localização permitiu-lhe papel de alguma importância nas circulações oriundas de terras de Miranda e Vimioso para Macedo de Cavaleiros, além da relação com outras povoações de dimensão acima da média para o nordeste transmontano como Morais, Lagoa ou Talhas, do município de Macedo, Santulhão, de Vimioso e também Parada e Coelhoso, de Bragança.

Aparentemente teria condições para se afirmar como centro intermédio num contexto demográfico que há várias décadas se encontra sob grave ameaça, agora consumada pela inviabilidade de funcionamento duma escola, construída de raiz há cerca de vinte anos, com condições de qualidade estrutural e para a prática pedagógica, mas que só viu inscritos dois alunos no 5.º ano e três no 6.º.

O que vai acontecer é uma agonia de mais dois ou três anos, até que o equipamento encerre portas e Izeda espere por soluções para a sua reutilização, porque não se vislumbra um fenómeno demográfico de dimensões bíblicas por aquelas terras.

A situação da escola não é novidade, era esperável mais dia menos dia, apesar dos esforços dos autarcas locais, desde a última década do século XX, para resistir e potenciar o estatuto da localidade.

Por essa altura foi instalado em Izeda um estabelecimento prisional, que substituiu um centro de reintegração para jovens, decisão que foi tida como possibilidade de estancar o êxodo para Bragança ou para o litoral. Esperava-se que funcionários e guardas prisionais optassem por ali se radicar, o que permitiria crescimento urbano e crianças para a escola. Acrescentava-se a expectativa de que as visitas à população prisional animassem a vida económica da vila.

Mas, sobretudo, tendo em conta que entre reclusos e funcionários se atingiriam as três centenas de pessoas, houve quem acreditasse que a instituição seria suporte para o comércio local. Afinal, o estabelecimento prisional não consome nada que ali seja fornecido, guardas e funcionário residem fora e a povoação tem vindo sucessivamente a perder serviços, comprometendo ainda mais o futuro.

Outras vilas do distrito, mesmo algumas sedes de concelho, deverão ter em conta o ditado “quando vires as barbas do vizinho a arder, põe as tuas de molho”, porque lhes pode acontecer algo de semelhante, consumando o destino cruel para o nordeste que ninguém parece querer alterar ao nível dos poderes nacionais, mas também no que respeita às lideranças locais, que se limitam a gerir as ruínas que as hão-de soterrar, em vez de se encontrarem nas razões que a solidariedade lhes sugere a cada nova tragédia.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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