terça-feira, 11 de setembro de 2018

O Motim e a questão do Seminário de Bragança

Na noite de 12 para 13 de dezembro de 1904, ocorre o Motim do Seminário, concretizado na revolta e tumultos provocados pelos estudantes, que invocam excessos disciplinares, redundando em algumas expulsões. Os graves e ulteriores acontecimentos, relacionados com o desenvolvimento deste caso, que visam, fundamentalmente, a controversa figura do bispo José Alves de Mariz, vão dividir os monárquicos e os próprios católicos e resultam em acusações, denúncias, discussões apaixonadas, insultos, manifestações, convulsões sociais e até um atentado.


Entre 1905 e 1908, há publicações sobre esta polémica que, como diz o Abade de Baçal, “levantou celeuma enorme em que a paixão pró e contra teve largo quinhão”. Este caso, com todos os seus desenvolvimentos, porque encontra eco na imprensa nacional e assume nítidos contornos e aproveitamentos políticos, vai dar uma visibilidade especial à urbe.
Na noite de 13 de dezembro de 1909, uma bomba de dinamite “foi colocada no seminário episcopal, por debaixo dos aposentos privados do bispo. Rebentando a bomba, causou grandes destroços no edifício. O prelado não estava ali… Foram, porém contraproducentes os resultados de tão inflamados incitamentos: este crime frustrado deu ensejo a que todas as classes de Bragança… fossem numerosamente representadas ao Paço Episcopal apresentar ao sr. D. José de Mariz o testemunho da sua respeitosa estima e da desaprovação do bárbaro atentado”, refere O Nordeste de 13 de dezembro de 1909.
Assim se documenta o aumento da conflitualidade latente na urbe: “o contexto político radicaliza-se a vários níveis e esta conflitualidade objetiva-se em comportamentos sociais mais ou menos violentos, passando-se facilmente da esfera especulativa à atuação fisicamente violenta“, como comprova o atentado de que o bispo foi alvo.
Não cabe aqui historiar este conturbado e dramático folhetim, com episódios e ressonâncias que chegam a 1912.
Com todas as suas circunstâncias, desenvolvimentos e implicações de natureza religiosa, ideológica, política, cultural e social, é a prova de que complexas e melindrosas questões religiosas, onde avulta uma forte componente anticlerical, são anteriores à República e que, por vezes, mais do que as rivalidades e os confrontos políticos, criam tensões e mobilizam paixões. Clivagens religiosas marcam a sociedade – tanto ou mais, porventura, do que a divisão entre monárquicos e republicanos – e vão ser responsáveis por uma grave conflitualidade.
Todos estes acontecimentos traduzem, ainda, outros conflitos que existem na sociedade portuguesa: lutas de pequenos poderes, quezílias políticas, disputas entre membros das elites e da hierarquia religiosa, jogos de interesses que envolvem, em campos opostos, figuras gradas do meio que procuram arregimentar forças para as suas causas.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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