No momento em que se iniciam as comemorações do mês internacional dos Cuidados Paliativos, o Mensageiro de Bragança entrevistou o Dr. Duarte Soares, médico brigantino e presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), sobre a importância deste tipo de cuidados na sociedade atual.
Mensageiro de Bragança: Qual a missão da APCP? Que fatores estiveram na sua origem?
Duarte Soares: Desde 1995 a APCP agrega profissionais de distintas áreas, sejam eles prestadores diretos de cuidados, investigadores ou académicos com o forte interesse em desenvolver os Cuidados Paliativos em Portugal. Pretendemos ser uma plataforma de diálogo e partilha entre estes profissionais, dinamizando iniciativas nas áreas da formação, sensibilização e investigação dirigidas não apenas ao fim de vida, mas a todo o ciclo vital após o diagnóstico de uma doença crónica, progressiva e incurável. Creio que a nossa história se tem revelado uma importante garantia da defesa dos interesses de doentes, cuidadores, famílias e profissionais.
MB.: Como poderemos caraterizar, nesse sentido, o perfil dos associados deste organismo e qual a importância de se sensibilizarem médicos e especialistas das mais diferentes áreas em torno desta área?
DS.: Com mais de 1100 associados na atualidade, a associação conta com o contributo de áreas clínicas tão diversas como a medicina, a enfermagem, a psicologia, a assistência social, a fisioterapia, a espiritualidade e a nutrição, apenas para citar algumas. Mas é igualmente relevante reconhecer que estes profissionais colaboram de forma muito próxima com a Academia e a Investigação, sendo estas as ferramentas fundamentais para assegurar a qualidade científica daquilo que fazemos diariamente.
MB.: O surgimento da APCP deu-se numa conjuntura em que existia grande desconhecimento e pouca sensibilização para esta realidade. Volvidos 23 anos, quais as principais mudanças que se sentem no paradigma atual?
DS.: Reconhecemos que muito trabalho foi feito durante mais de duas décadas, tanto a nível da desmistificação do processo de doença e morte, mas igualmente com grandes avanços no conhecimento que lideraram a aposta na formação e no desenvolvimento de serviços. Homenageamos todos os sócios e particularmente os Corpos Gerentes da APCP desde a sua fundação, que tornam esta associação a instituição reconhecida que é hoje. Temos agora a responsabilidade de “Continuar a escrever esta história”, mote Português para a campanha sobre o mês dos Cuidados Paliativos, inserida na referência internacional “Porque eu Importo”. Todos importamos, começando nos doentes e suas famílias, mas também nos cuidadores, profissionais de saúde, investigadores e académicos. Apenas com o contributo de todos iniciaremos um novo capítulo no desenvolvimento dos CP em Portugal.
MB.: Quantas unidades/serviços de cuidados paliativos se encontram hoje à disposição da população portuguesa e qual será – em números aproximados – o número de doentes a carecer desta tipologia de acompanhamento? Como poderemos comentar a sua presença/distribuição no território nacional?
DS.: Estamos num momento decisivo no desenvolvimento dos Cuidados Paliativos em Portugal. Historicamente, saudamos a criação de uma Lei de Bases para os Cuidados Paliativos, a nomeação de uma Comissão Nacional para esta área - com quem temos colaborado diariamente - e acompanhamos a execução do Plano Estratégico Nacional, que termina no final do presente ano. O progresso tem sido notório, com a criação de Equipas Intra Hospitalares de Suporte em Cuidados Paliativos em praticamente todos os hospitais do SNS e sobretudo com a melhoria da quantidade e qualidade da formação dada a todas as áreas profissionais envolvidas. Contudo, muito permanece por fazer. A criação de novas camas hospitalares para doentes com necessidades paliativas complexas é uma preocupação, assim como a reformulação da formação médica, pré e pós graduada e dos distintos internatos médicos. O desenvolvimento da formação nas áreas da Enfermagem, Psicologia, Assistência Social, Nutrição e Fisioterapia, permanece alvo das nossas preocupações. Mas o principal desafio é a nível comunitário. Com apenas 23 equipas comunitárias de suporte em CP num objectivo proposto de 100 para todo o país, reiteramos a vontade de colaborar no encontro de soluções para este grave problema de iniquidade e inacessibilidade aos serviços. As assimetrias regionais são também patentes e alvo da nossa maior atenção, em particular no interior do país.
AGR
in:mdb.pt
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