Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
São Paulo - Brasil
Prólogo do ACAS
Segundo alguns historiadores, o ano era 1499. Aqui em Pindorama, abaixo do Equador, é mito que Américo Vespúcio, sem o saber, avançou do mar para o Rio Assu, sem perceber o fato. Ocorre que, quando ele na qualidade de comandante do navio, após julgamento sumário, decidiu por “fazer andar na prancha” um marinheiro pernicioso e malvado, deslumbrou-se quando o tal bandido caiu n água, de olhos vendados e que, numa alegria ímpar, para quem foi sentenciado à morte, gritava a plenos pulmões que a água era ”doce”. Demorou um enorme tempo, até que Vespúcio pediu a um marujo que se atirasse n´água e conferisse o que o bandido estava dizendo.
Era verdade, segundo o mito! Vespúcio estava em rio de água doce, dentro do continente do país que haveria de ser o Brasil.
Américo Vespúcio contribuiu significativamente com registros sobre o Brasil, durante a viagem comandada por Gonçalo Coelho que partiu de Lisboa em 10 de maio de 1501 (*). Após seu primeiro e breve contato com D. Manuel I, ocorrido em fevereiro de 1500, Américo Vespúcio, em uma esquadra comandada por Gonçalo Dias, zarpou ruma às Canárias, logo após resolveram parar em Bezeguiche, localizado à frente do Cabo Verde, onde então houve um momento de coincidências com embarcações, também ali paradas, pertencentes à esquadra de Pedro Álvares Cabral e Diogo Dias. Este memorável encontro gerou a certeza, por parte dos comandantes e do próprio Vespúcio de que estava percorrendo um novo continente, um “novo mundo", diferentemente da afirmação de Colombo em 1492.
Em 15 de junho de 1501 Vespúcio segue rumo ao Brasil, sob comando de Gonçalo Coelho. A esquadra era formada por três caravelas. De acordo com Ricardo Fontana, um dedicado estudioso do assunto, a partir deste momento o desejo de novas aventuras começara efetivamente para Américo Vespúcio, pilotando uma das embarcações da esquadra. Em agosto de 1501 as três caravelas da esquadra ancoram na Praia de Marcos, litoral do atual Rio Grande do Norte.
O primeiro contato dos marujos com os nativos do Brasil aconteceu somente após o primeiro dia já em terra firme. Contato este que, na verdade, foi desprezado por parte dos nativos, que ignoraram todas as quinquilharias, oferecidas pelos homens de Gonçalo Coelho.
O texto a seguir, de autoria de Luís da Câmara Cascudo, datado de 1947, é passado para vosso conhecimento.
(*): Como veem, Américo Vespúcio esteve no Brasil após a descoberta por Pedro Álvares Cabral, em 1500; e não em 1499, conforme afirmam alguns estudiosos. Portanto é falsa a ideia de que ele era precursor de Cabral em terras onde se situa o Brasil atual. O fato de se dar o nome de América ao continente partiu de um cartógrafo francês, Monsenhor Martin Waldseemüler, que sugeriu o nome “Amerige” para o continente, o qual acabou por se transformar em América. Cristóvão Colombo, que era quem mereceria a honra, revelou-se rancoroso, desatento, omisso, assassino de silvícolas, e mal preparado, quando da sua volta a Portugal, onde havia sido recebido como herói. Os monarcas o fizeram crer que não tinha honra nem dignidade, não sendo merecedor para ser homenageado com a honraria de dar nome a um continente.
Segue texto de Câmara Cascudo
Depois da publicação do Falsos Precursores de Cabral, do historiador Duarte Leite (1922) não apareceu resposta para defender a prioridade espanhola no descobrimento do litoral brasileiro. Diego de Lepe, Pinzon, Alonso de Hojeda continuam chegando à terra do Brasil para quem não leu o monumental trabalho do grau e pesquisador português. Não lhe deram resposta.
Duarte Leite exibira documentação excepcionalmente valiosa pela interpretação científica excluindo, prática e realmente, as viagens dos castelhanos ao Brasil antes de 1500. Vamos convencionar que Alonso de Hojeda tenha atravessado a equinocial e molhado a proa de sua nau nas águas barrentas do rio Assu em junho de 1499. Estou certo que não se deu tal episódio mas combinemos na impossível veracidade do facto.
A bordo da nau de Hoje da vinha o florentino Américo Vespúcio, a mais feliz e discutida figura de aventureiro de que há notícia naquele final do XV e começo de XVI século.
Este Vespúcio que não descobriu coisa alguma na sua vida deu nome ao continente inteiro. Colombo e Pedro Álvares Cabral não tiveram essa honra. Vespúcio é oficialmente o pai de uma criança inteiramente estranha às suas atividades. Aqui no Rio Grande do Norte há uma lenda, teimosa como jumento andaluz, dando mestre Vespúcio como descobridor do Apodi, imaginem, nem mais e nem menos que uma subida pelo rio Assu e fundação de feitorias lá em cima! Não há, naturalmente, uma só letra de verdade nessa tradição oral, invenção pura, mas sempre citada como verdadeira.
O próprio Vespúcio escreveu quatro cartas, Lettera, aos amigos, contando as façanhas. Na segunda das Lettera conta que viu terra alagada e baixa, sulcada por grandíssimos rios que a inundavam. Debalde tentou Hoje da vinha abordá-la. Não conseguindo, levantou âncoras e velejou entre levante e sudeste pela costa adiante, isto é, para o sul e por espaço de quarenta léguas tentaram desembarcar, mas foi tempo perdido. Estou copiando as frases do mestre Vespúcio na segunda Lettera.
Onde está a documentação de Vespúcio subindo o rio Assu? Onde ficou registro da fundação e alguma coisa nessa parte norte rio-grandense onde o florentino não pode pisar? Não era tempo de acabar com essas visagens do outro tempo? A História é uma senhora extremamente séria...
Luís da Câmara Cascudo
Diário de Natal, 13 de outubro de 1947
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. Nascido em julho de 1946, é natural da zona rural de Cravinhos-SP (Brasil). Nascido e criado numa fazenda de café; vive na cidade de São Paulo (Brasil), desde os 13. Formou-se em Física, trabalhou até recentemente no ramo de engenharia, especialista em equipamentos petroquímicos. É escritor amador diletante, cronista, poeta, contista e pesquisador do dialeto “Caipirês”. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos” e quatro em antologias, junto com outros escritores amadores brasileiros. São seus livros: “Pequeno Dicionário de Caipirês (recém reciclado e aguardando interesse de editoras), o livro infantil “A Sementinha”, um livro de contos, poesias e crônicas “Fragmentos” e o romance infanto-juvenil “Y2K: samba lelê”.
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